Crise dos insumos segue preocupando a indústria em 2022

Há seis trimestres seguidos a indústria brasileira enfrenta uma crise de abastecimento de insumos e matéria-prima. Em 2022, mesmo com problema amenizado, em comparação ao início de 2021, ele segue preocupando empresários, como mostrou pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no mês de janeiro passado. Pelo menos 60% das empresas pesquisadas relataram dificuldades com a falta ou alto custo de matérias-primas.

A Sondagem Industrial da CNI, divulgada em fevereiro e relacionada às atividades entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, mostrou que houve queda na atividade da indústria do país. Segundo a entidade, o índice de evolução da produção manteve-se em 43,1 pontos, abaixo da linha divisória que indica queda ou crescimento da produção. O índice de janeiro é praticamente o mesmo de dezembro passado, o que reforça a tendência de queda da produção industrial.

Em relação aos estoques de insumos e matérias-primas, o primeiro mês do ano começou com 49,9, ainda abaixo da linha considerada ideal, que é de 50 pontos. Apesar disso, o resultado é melhor do que o registrado em janeiro de 2021, quando os estoques estavam em 48,3 pontos. Para garantir a produção e evitar que a falta dos insumos prejudique os resultados da empresa, é necessário fortalecer a área de gerenciamento de suprimentos, explica a especialista e consultora de Gestão de Estoques, Mirela Santinelli.

“A pandemia alterou o ritmo do fluxo do comércio nacional e internacional, e nos fez refletir ainda mais sobre a importância de fortalecer a gestão dos estoques. A cadeia de suprimentos (também conhecida como Supply Chain) engloba todos os processos e caminhos pelos quais passam um produto, desde a sua produção até a chegada no seu consumidor final. Na prática, resumidamente, isso representa: a compra dos insumos, armazenamento, produção, transporte e distribuição. Em tempos de pandemia, dentre essas etapas, vale destacar um importante passo: o planejamento do estoque. É preciso ter cuidado para que a falta ou o excesso de produtos não comprometam os resultados da companhia”, reforça.

A profissional, que tem mais de oito anos de experiência na área, ressalta que é possível fazer esse controle de estoque com base no histórico da rotatividade de mercadorias. “A empresa consegue identificar de quanto em quanto tempo é necessário reabastecer o seu estoque. É necessária uma análise profunda, que identifique períodos sazonais, descontos, promoções ou qualquer outra variante que possa alterar a futura venda de um insumo”, acrescenta.

Redução de custos – Segundo Mirela Santinelli, um bom planejamento da área de suprimentos também pode garantir redução de custos, uma vez que possibilita estoque abastecido nos níveis necessários, atendendo a demanda de todos os clientes. “Quem planeja pode comprar com antecedência, negociar melhores preços e formas de pagamentos, além de evitar fretes urgentes. Da mesma forma, os grandes volumes também podem impactar uma empresa negativamente. Os custos adicionais com armazenamento, maior chance de avarias e a possibilidade do material se tornar obsoleto ou fora da data de uso são alguns dos principais riscos que a falta de planejamento pode trazer para a empresa”, conclui.

Na construção civil, a falta de matéria-prima também atrapalhou o setor

Na pesquisa Sondagem Indústria da Construção, também realizada pela CNI e divulgada no mês de janeiro, a falta ou alto custo dos insumos também foi um problema apontado pelos empresários do setor. Quase metade deles, ou 47,3% dos entrevistados, sinalizou a dificuldade em adquirir insumos. Segundo a entidade, este é o sexto trimestre consecutivo que o problema é destacado na pesquisa.

O fato também preocupou o setor da construção civil durante a segunda metade de 2020 e durante todo o ano passado. O problema atingiu seu pico entre janeiro e março de 2021, quando foi apontado por 57,1% das empresas pesquisadas. Ainda que o nível seja menor em janeiro, o índice de preocupação da indústria com a falta de insumos é considerado elevado. Para chegar a esses dados, a entidade entrevistou 434 empresas do setor entre 3 e 14 de janeiro de 2022.

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