Apesar de baixa nas mortes, OMS não descarta quadro de pandemia

A redução significativa no número de internações e mortes decorrentes da Covid-19 ainda não é o suficiente para que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declare que o mundo está livre da pandemia. Para chegar ao patamar de endemia, uma série de medidas precisam estar consolidadas. É o que aponta o Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional do órgão, que se reuniu dia 13 de abril.

Dentre as medidas está o cumprimento da meta de vacinar pelo menos 70% das populações de todos os países até julho de 2022. A meta é desafiadora, uma vez que a própria OMS reconhece que 21 nações não vacinaram nem 10% de seus cidadãos. O Brasil, que atualmente declarou o fim do estado de emergência por conta da pandemia, apesar das recomendações contrárias do organismo internacional, conta hoje com apenas 85,8% do país imunizado com as duas doses da vacina contra a doença.

Outro compromisso a ser seguido pelos países é a atualização dos planos nacionais de preparação e resposta à pandemia, de acordo com as prioridades e cenários potenciais descritos no plano estratégico criado pela Organização Mundial da Saúde para acabar com o estado de emergência contra a doença em todo o mundo ainda em 2022. Ou seja, constantes avaliações dos esforços atuais e futuros em resposta a possíveis necessidades impostas pela doença.

Sequelas para a vida – Classificado como “imprevisível”, o vírus Sars-CoV-2, responsável pela Covid-19, foi lembrado durante a reunião da OMS em abril como responsável por causar altos níveis de morbidade e mortalidade, particularmente entre populações mais vulneráveis, agravada pela sua ampla circulação e fácil transmissibilidade.

Para os pacientes que sobrevivem ao tratamento, muitas são as sequelas hoje já identificadas pela medicina e que precisam ser tratadas por equipe multiprofissional. Entre os doentes que foram intubados e passaram por ventilação mecânica, por exemplo, as consequências podem durar a vida toda.

Uma delas é a estenose de traqueia, que é o estreitamento deste órgão responsável por levar o ar para os pulmões. Em consequência, o paciente passa a sentir falta de ar e estridor, que é um ruído áspero durante a respiração. “Em 90% dos casos, a estenose traqueal ocorre após a intubação para ventilação mecânica. Os sintomas podem aparecer dias ou meses após a interrupção desse tipo de atendimento”, disse a médica especialista em cirurgia geral e cirurgia torácica, Dalila Caroline do Amaral Coimbra.

Estudo divulgado em 2021 pelo grupo Coalizão Covid-19 Brasil, formado por hospitais e centros de pesquisa, atestou que 25% dos pacientes intubados por casos graves de Covid-19 morrem em até seis meses após a alta hospitalar. Entre pacientes que não precisaram da ventilação mecânica, a taxa de mortalidade foi de 2%.

Para Coimbra, que tem sete anos de experiência na área médica, é indiscutível que a ventilação mecânica, quando indicada, salva vidas, entretanto, é necessário observar algumas complicações que podem surgir posteriormente. “O diagnóstico pode ser feito com o exame clínico durante a consulta médica e confirmado com exames, como tomografia computadorizada e a broncoscopia. A estenose de traqueia tem tratamento e ele é feito pelo cirurgião torácico. Existem opções cirúrgicas e endoscópicas com uso de próteses e dilatações, sendo este individualizado caso a caso”, explicou.

Sintomas de pós-Covid-19 afetam mais de 30% dos contaminados pela doença, diz Ministério da Saúde

Segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde, entre 30% e 75% dos pacientes que tiveram Covid-19 apresentam sintomas que indicam sequelas da doença. De acordo com a pasta, alguns desses sintomas são cansaço, falta de ar aos esforços, tosse, dor torácica, cefaleia, tontura, falta de memória, perda do olfato ou paladar, ansiedade e depressão.

Esses sintomas e as condições em que eles se apresentam após a doença, de acordo com o Ministério, podem manifestar-se de diferentes maneiras e dependem da extensão e gravidade da infecção, dos órgãos afetados e dos cuidados tomados durante a fase aguda da doença.

Ao justificar o investimento de R$ 160 milhões para o tratamento de sintomas pós-Covid-19, anunciados em fevereiro passado, a pasta citou dois estudos publicados em revistas científicas renomadas sobre o tema. Um deles, publicado pela The Lancet, demonstrou que, seis meses após a infecção aguda, 76% dos 1.733 pacientes avaliados apresentavam algum sintoma persistente. O cansaço e a fraqueza muscular foram sintomas mais comuns, presentes em 63% dos casos, seguidos por dificuldade para dormir, ansiedade e depressão. O estudo da Lancet também mostrou que entre os que desenvolveram casos de infecção, 56% apresentaram algum tipo de alteração pulmonar significativa. 

O segundo estudo, publicado no Epidemiology Infection, acompanhou 767 pacientes que tiveram a doença. Pelo menos 51,4% do total ainda se queixavam de sintomas após aproximadamente 80 dias do quadro agudo. Os sintomas mais comuns foram fadiga e dispneia (falta de ar) aos esforços. E 30,5% ainda apresentavam consequências psicológicas pós-traumáticas. Difusão pulmonar prejudicada foi encontrada em 19% dos pacientes avaliados.

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