Por Nelson Porto.
Na Aclimação era conhecida como vendinha do seu Elias.
Era na Rua Pires da Motta, bem esquina da Conselheiro Furtado, quase em frente ao saudoso Oswaldo Barberis, cirurgião-dentista e palmeirense.
Logo na entrada, sacas de arroz, feijão e batata. Em cada nicho você descobria o óleo, azeite, pimentas, résteas de cebolas, alho. Mas também prateleiras com bebidas baratas, uisquis paraguaios, vinhos em garrafão, conhaque Palhinha, o vinho Precioso, seco e suave. O Fogo Paulista, cigarros, todos…
Agora o que marcou na memória foi o balcão de madeira com vitrine que exibia doces enfileirados por categoria, em harmonia geométrica e de cores.
Eu não sei mas também nunca perguntei onde seu Elias ia buscar aquelas cocadas pretas e brancas no formato de losango, crespas rendadas, carregadas de açúcar, de derreter na boca, adoçadas tanto mas sem perder o sabor do coco que poderia ser encontrado em pedacinhos.
Um olhar cobiçoso também para a maria-mole branca ou com tom de canela uma mistura do coco ralado, do leite condensado e a indispensável gelatina branca que dá o toque de malemolência, de estremelicação, esponjosa e flexível…
O pirulito de açúcar queimado redondo na base afinando na ponta como uma pirâmide era um mistério na sua simplicidade e pobreza, apesar de vestido e enrolado num papel grudento que pedia uma lambida final que era travo de mel.
Do pirulito de chocolate em forma de guarda-chuva nem é bom falar. O coco também era a matéria prima para obras de arte como quindins reluzentes de tão dourados. E não há como menosprezar o doce de abóbora, jeito de cobre, aparência de falsa humildade, porque na boca expandia seu caráter verdadeiro de crosta firme e puro purê de abóbora no recheio.
Não esqueço o pão de mel, mais mel do que pão, lustroso na superfície achocolatada, crocante de esfarelar na boca e meu prêmio quando corria até o seu Elias para comprar Lincoln, os cigarros preferidos de minha tia Maria José.
Finalmente a bomba de chocolate que, à certa distância parecia um tanto murcha, vazia e tristonha mas que à primeira mordida explodia como bomba que era, o cacau escorrendo pelos cantos da boca, pelo céu da boca, pelo queixo, pela criança.
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Nelson Porto é redator publicitário com passagens pelas principais agências de propaganda do país.