Alta dos juros nos EUA pode ser rentável para investidor brasileiro

O aumento dos juros americanos, aprovado pelo Federal Reserve (FED), o banco central americano, como forma de combater a inflação nos Estados Unidos, impacta a economia de todo mundo, especialmente de países emergentes como o Brasil. A medida, no entanto, pode ser vantajosa para o investidor brasileiro de alta renda.

A decisão do FED foi sinalizada na reunião do Comitê de Política Monetária (FOMC) em dezembro de 2021 e confirmada em janeiro passado. A alta de preços, que bateu em 2021 o maior valor nos últimos 39 anos, passou a ser pressionada também pela guerra na Ucrânia, causando a elevação nos preços do petróleo, por exemplo.

Ao longo do ano, ainda segundo o FED, há a expectativa de mais de um aumento dos juros, o que impacta os juros globais e valoriza ainda mais a moeda americana. Nesse cenário, segundo especialistas, investir em títulos do tesouro americano – conhecidos como Treasuries – fica ainda mais atrativo. É o explica o economista Ricardo Indolfo, especialista em investimentos em mercados globais. 

“O FED é responsável pela política monetária da maior economia do mundo. Por isso, suas decisões e sinalizações têm um amplo impacto nas taxas de juros globais e no valor da moeda americana. O dólar ainda é a moeda mais importante do mundo e as Treasuries são os títulos com maior credibilidade no mercado mundial. Isso significa que qualquer aumento da taxa de juros americana também provoca aumento na atratividade por parte dos investidores estrangeiros em comprar títulos americanos, particularmente investidores de países emergentes na Ásia e América Latina, como é o caso do Brasil”, diz.

Segundo Indolfo, com perdas em sua capacidade de atração de investimentos estrangeiros, verificada nos últimos cinco anos, a alta dos juros coloca os Estados Unidos novamente em posição de vantagem na atração de investidores de outros países. “O momento não podia ser mais favorável, pois o país tem sofrido perdas significativas nos últimos anos em sua capacidade de atração de investimentos estrangeiros diretamente em sua economia. Isso se deveu a um aumento do nível de competitividade com países europeus”, explica o economista, que atua em um banco australiano acompanhando investimentos em países emergentes da América Latina, Ásia-Pacífico.

Essa vantagem pode se acentuar mais agora por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, que atinge a Europa diretamente. O economista ressalta que, nesse contexto, o mercado americano se torna mais seguro ainda para investimentos. “Colocando na balança os efeitos da instabilidade causada pela guerra, o cenário de aumento da taxa de juros americana se torna ainda mais atrativo na visão de investidores estrangeiros que buscam melhores opções de rentabilidade, com menor exposição ao risco que eventos como uma guerra podem causar”, avalia Ricardo Indolfo.

Aumento dos juros americanos tem consequências na economia de países emergentes

O recente aumento dos juros americanos é uma oportunidade para grandes investidores estrangeiros, porém, o mesmo não se pode dizer do restante da economia global, principalmente em mercados emergentes. A corrida de investidores para os Estados Unidos os afasta da economia local e países como o Brasil perdem investimento.

Além disso, como observa Ricardo Indolfo, o aumento dos juros naquele país consequentemente obriga o aumento das taxas por aqui também. A Selic, taxa básica de juros brasileira, atualmente está em 11,75% e tende a continuar subindo.

“A alta da taxa de juros nos Estados Unidos pode fazer com que os juros no Brasil precisem subir ainda mais, motivados pelas eleições presidenciais no Brasil em 2022, conflitos internacionais, alta de combustíveis, preço da energia elétrica, entre outros. Portanto, um aumento na taxa de juros norte-americanos apenas se soma a esse ambiente de pressões inflacionárias, colocando ainda mais pressão no câmbio. Nesse cenário conturbado, o “velho” Estados Unidos volta a ser o mercado de proteção de risco para os brasileiros de alta renda”, enfatiza Indolfo.

Brasileiros de alta renda também podem investir em renda fixa americana

Outra modalidade de investimento buscada por quem tem mais de R$ 1 milhão para investir no mercado financeiro dos Estados Unidos é apostar em renda fixa americana, como explica o economista Ricardo Indolfo. Entre os títulos de renda fixa americana que vêm animando investidores brasileiros de alta renda estão os novos Brazilian Depositary Receipts (BDRs) de Exchange Traded Fund (ETFs) de dívidas corporativas dos Estados Unidos, lançados recentemente pela B3 em parceria com a gestora global de ativos financeiros Black Rock. São eles: o iShares iBoxx Investment Grade Corporate Bond (BLQD39) e o iShares iBoxx $ High Yield Corporate Bond (BHYG39).

“Desde a mudança nas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), permitindo que fundos de investimentos domiciliados no Brasil pudessem investir 100% em ativos no exterior, que investidores qualificados brasileiros aprenderam as vantagens de uma carteira diversificada com exposições à economia global como forma de diluir o risco entre várias empresas”, explica.

O economista, que participou no lançamento do primeiro fundo brasileiro de investimento 100% em ativos no exterior em 2008, atuando em um dos maiores bancos privados do mundo, comenta que, hoje, essa modalidade de investimento se transformou em uma indústria de trilhões de reais no chamado Asset Under Management (ativo sob gestão – AUM) e que continua evoluindo conforme aumenta o número de brasileiros investindo no exterior.

Segundo Indolfo, o recente lançamento da B3 e Black Rock traz como novidade o acesso aos índices compostos por títulos da dívida de empresas americanas. O investimento a partir de R$ 1 milhão pode ser feito tanto por pessoa física ou jurídica e contempla diferentes possibilidades de risco, do conservador ao mais arrojado. Os novos BDRs se somam aos outros seis lançados em fevereiro pela B3.

Para quem se animar com o investimento, o economista faz uma ressalva: “É importante entender que quando você investe em BDR, você não compra ações de uma empresa americana e não se torna sócio dela. Você adquire títulos de representação, ou seja, você tem um recibo lastreado nesses ativos e a rentabilidade vai acompanhar a evolução do ativo original”, informa. 

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