Planejamento financeiro pode reduzir dívidas das famílias

Oito em cada dez famílias brasileiras estavam endividadas no fim de 2023. Isso mostra a importância do crédito para a população brasileira, afinal uma pessoa é considerada endividada mesmo que o financiamento de uma casa esteja em dia, um empréstimo com as parcelas sendo quitadas ou que a fatura do cartão de crédito seja paga na data de vencimento.

O problema acontece quando um terço dessas famílias endividadas têm parcelas de pagamento das dívidas em atraso, como mostrou o relatório “Raio-x dos Brasileiros em Situação de Inadimplência”, divulgado em dezembro do ano passado após a pesquisa do Instituto Locomotiva e MFM Tecnologia.

“Dentro desse um terço, o maior gargalo segue sendo a inadimplência com o cartão de crédito, responsável por 60% dos débitos sem pagamento em 2023, superando o número que já era alto em 2022, de 56%”, analisa Rodrigo Salim, especialista financeiro com mais de 15 anos de experiência em empresas do segmento, graduado em Direito pela Universidade Mackenzie e MBA em Gestão Empresarial pelo INSPER/IBMEC.

Em 2024 esse número pode ser menor em razão das novas regras estabelecidas pelo CMN – Conselho Monetário Nacional para limitar a cobrança de juros rotativos do cartão de crédito no valor de 100% da dívida. Com a mudança o valor total da dívida daqueles que atrasam o pagamento da fatura do cartão não pode ultrapassar o dobro do débito original.

Dívidas não quitadas de empréstimos e financiamentos também têm sido um desafio para 43% das famílias inadimplentes, proporção que também subiu em relação ao ano de 2022, quando era 40%.

“Com percentuais menores, mas também preocupantes, 19% das famílias brasileiras acumulam dívidas do cheque especial; 17% com contas de serviços básicos, como luz, gás e água; 15% com impostos, como IPVA e IPTU; 14% com contas de celular; e 12% com compras feitas em lojas de departamento”, diz Salim.

Fechando o relatório “Raio-x dos Brasileiros em Situação de Inadimplência” as pendências com assinaturas de internet e TV a cabo respondem por 10% e são seguidas na lista pelas ligadas a planos de saúde com 6%; mercado com 5%; mensalidades em escolas com 4%; taxas de condomínio com 4%; e outros 2%.

Os principais motivos pelos quais as famílias ficam devendo são a falta de planejamento financeiro, o desemprego, gastos inesperados com saúde, emprestar o nome de alguém para efetuar compras ou contratar serviços, compras de alto valor, acima do que cabe no orçamento, investimento em negócios que deram prejuízo e a falta de controle nos gastos por parte do companheiro ou companheira.

Atualmente em 11,25%, a Selic deve seguir com perspectiva de baixa nos próximos meses, o que pode contribuir para a redução no número de inadimplentes em 2024. A Selic é a taxa básica de juros da economia e o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC – Banco Central.

“Ter débitos é até normal, afinal a sociedade é consumidora de crédito. Agora é preciso ter muito cuidado para não se enrolar com ele”, analisa Salim. “No cenário de alto endividamento, como esse em que oito em cada dez famílias brasileiras estão vivendo, é possível ter um ano de 2024 mais controlado financeiramente”, completa o especialista financeiro.

O relatório “Raio-x dos Brasileiros em Situação de Inadimplência” mostra que 59% das famílias endividadas acreditam que tornar o crédito mais barato e acessível impactaria muito na sua vida financeira. Além disso, 56% deles pensam que ter orientações de qualidade sobre como organizar o próprio orçamento também ajudaria.

“Uma boa notícia é a possibilidade de trocar uma dívida por outra e diminuir os juros, assumindo um novo empréstimo e economizando com a quitação mais rápida de um passivo caro”, orienta Salim.

Com a troca de dívidas uma família pode substituir um débito elevado, com altas taxas de juros, por uma opção mais acessível, fácil de quitar, legal e amplamente oferecida no mercado, com vantagens variadas para quem procura pagar menos juros.

Assim, ao trocar dívidas mais onerosas por mais baratas, em busca de juros menores, o risco de inadimplência cai e a saúde financeira do consumidor melhora.

“A troca desses valores nada mais é do que renegociar débitos de um passivo existente entre operadoras de crédito ou instituições financeiras, com a migração e redução do custo da dívida”, diz Salim.

A troca de dívida é um processo que pode ser muito vantajoso, sendo uma estratégia indicada e bastante utilizada no planejamento financeiro. Em outras palavras, a substituição significa renegociar e excluir as despesas pendentes por outra, preferencialmente com menores taxas de juros, tornando assim o débito mais fácil de ser liquidado.

“É preciso ser cuidadoso para não fazer novos passivos. Uma boa dica é criar uma planilha de gastos pessoais e mantê-la sempre atualizada. Dessa forma é possível visualizar melhor as despesas, bem como identificar os locais em que elas podem ser cortadas”, finaliza Salim.

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