Prática de atividade física pode gerar economia de R$ 20 mi para o SUS até 2040

Se um terço da população brasileira realizar pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, até 2030, o Sistema Único de Saúde (SUS) teria uma economia de cerca de R$ 20 milhões com procedimentos hospitalares e ambulatoriais até o ano de 2040. A estimativa foi feita pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) no “Sumário Executivo: gastos federais atuais e futuros com os cânceres atribuíveis aos fatores de risco relacionados à alimentação, nutrição e atividades físicas no Brasil”. O documento foi divulgado no último dia 29 de abril.

De acordo com o Instituto, os gastos do SUS com cânceres que poderiam ser prevenidos com atividade física – como o de mama, colorretal e endométrio, entre os mais incidentes do país – chegariam a R$ 2,5 bilhões em 2030 e R$ 3,4 bilhões em 2040. A análise considerou pacientes oncológicos de 30 anos ou mais de idade.

No lançamento do estudo, a instituição informou que o propósito do documento é subsidiar ações de prevenção da doença. Segundo o Inca, estima-se que entre 80% e 90% de câncer estão associados a causas externas, ou seja, são preveníveis. Além de atividade física, o estudo também considerou outros fatores que também podem influenciar no aparecimento de cânceres, como baixo consumo de fibras alimentares, não aleitamento materno, consumo de carne vermelha acima do recomendado, consumo de carne processada e consumo de bebida alcoólica.

Estimativas citadas pelo Inca no estudo indicam que com o crescimento e envelhecimento da população, haverá um aumento de 66% no número de novos casos e 81% nas mortes de câncer no Brasil entre 2020 e 2040. O documento revela que, se nada for feito para diminuir a incidência de diversos tipos de cânceres por meio de prevenção, os gastos do governo federal com tratamentos, que em 2018 foram de R$ 3,50 bilhões, chegarão a R$ 7,84 bilhões em 2040.

Valor em Saúde – Além de prevenção, uma possível redução de gastos com o financiamento de procedimentos de saúde – não apenas com tratamento de câncer, mas considerando o tratamento de doenças diversas – poderia ser obtida com a adoção de uma nova forma de se financiar o atendimento às queixas citadas pelo paciente desde o primeiro momento em que ele chega ao hospital, clínica ou posto de saúde.

Um novo modelo de financiamento defendido por especialistas baseia o pagamento pela qualidade do atendimento e não unicamente pela quantidade, seja de paciente,  atendimento, procedimento ou item utilizado. É o que vem sendo chamado de valor em saúde, que reconhece não apenas o número de atendimentos realizados, mas também a qualidade com que ele foi prestado por profissionais, hospitais ou clínicas, evitando tratamentos inadequados e desperdício de recursos.

“Rever a forma como medimos e financiamos todo o sistema de saúde é fundamental para a sustentabilidade de um cenário futuro cada vez mais desafiador: a população está envelhecendo, as tecnologias estão cada vez mais caras, os recursos estão cada vez mais escassos, as variações de qualidade entre as instituições de saúde estão cada vez mais evidentes, a exigência e o nível de conhecimento do paciente está cada vez melhor”, explica a farmacêutica Samia Moussa Maehashi.

A profissional, que atua como gerente de acesso ao mercado de um laboratório internacional, defende que a transformação que o sistema precisa passa pelo reconhecimento e remuneração por performance de toda cadeia envolvida na prestação de serviços de saúde. “Com essa nova mudança, será possível entregar um melhor desfecho ao paciente com o melhor custo, tornando o sistema de saúde mais efetivo, valioso e sustentável”, ressalta a especialista.

De acordo com Samia Maehashi, da forma como ocorre atualmente, o sistema de financiamento não valoriza os melhores hospitais, nem os melhores tratamentos e, muito menos, os melhores profissionais. “O atual sistema não dá a visibilidade ao paciente de qual é o melhor serviço e, muitas vezes, acabamos escolhendo um hospital ou convênio, por exemplo, pelo renome no mercado e não por informações de performance dos profissionais de saúde. Precisamos remunerar pela entrega, pela performance e não pelo volume”, conclui.

Modelo do Valor em Saúde nos procedimentos privados

O modelo de financiamento de saúde por qualidade e não apenas por volume de atendimento também poderia ser aplicado no setor privado, no pagamento feito por operadoras de saúde a hospitais e profissionais conveniados. Um outro modelo poderia indicar aos pacientes os melhores planos de saúde e melhores serviços disponíveis no mercado, evitando o descontentamento dos consumidores.

Segundo a Agência Brasil, reclamações de planos de saúde voltaram a crescer na pandemia e lideraram as queixas ao Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em 2021. Do total de reclamações registradas, quase um quarto delas (24,9%) referiram-se a planos de saúde.

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