A ascensão e decadência da região da Luz, embrião do centro paulistano

O nome Luz só apareceu quando Domingo Luís, um dos primeiros povoadores da cidade de São Paulo, conhecido como “carvoeiro”, mudou-se para o local em 1601. Na ocasião, o paulistano que vinha do Ipiranga, construiu uma pequena capela em homenagem à sua santa de devoção: Nossa Senhora da Luz.

Jardim da Luz, o primeiro jardim público da cidade. Foto: Guilherme Gaensly.

A construção atraiu visitantes e devotos, tornando-se uma referência geográfica para os viajantes. Com o tempo, o lugar passou a ser chamado de bairro da Luz.

O local foi ocupado durante muito tempo por fazendas, onde o gado andava solto pelos pastos. Pouco a pouco, pântanos foram aterrados, pontes edificadas e construídos locais como o Jardim da Luz, o primeiro jardim público da cidade, e o Seminário Episcopal, inaugurados, respectivamente, em 1825 e 1856.
 
Um Propulsor do Desenvolvimento: as Ferrovias

Estação da Luz em 1925.Os trilhos sendo colocados são de bonde. Foto: Cessão Hermes Y. Hinuy.

Com o passar do tempo e o desenvolvimento da região, uma nova mola propulsora tomou conta da região: a implantação das estradas de ferro. O propósito dessas ferrovias era ligar os cafezais do este paulista ao porto de Santos e, em 1860, teve início a construção da ferrovia The São Paulo Railway Company, primeira estrada de ferro do estado de São Paulo que foi criada pela iniciativa do Barão de Mauá.

Anos mais tarde, em 1867, foi erguida a primeira Estação da Luz que redefiniria toda a área central da nossa cidade se tornando um ponto chave de ligação para todo o tráfego urbano e comercial de São Paulo.

Já em 1875, próximo à Estação da Luz, foi construído o primeiro prédio da Estação Sorocabana (que seria substituído por dois prédios: um de 1914, que hoje abriga o Memorial da Resistência; e outro, concluído em 1938, da atual Estação Julio Prestes).

Estação da Luz vista a partir do Parque da Luz em fotografia de 1906. Crédito: Guilherme Gaensly.

A implantação do sistema de transporte ferroviário gerou profundas mudanças na área que, se valorizou. No final do século XIX, houve investimentos municipais em vias de acesso ao centro, calçamentos e iluminação, instalação de bondes e melhorias no Jardim da Luz, que transformaram a região em um ponto de encontro das elites. 

O comércio no entorno da Estação da Luz diversificou-se para atender os viajantes com hotéis e restaurantes. Na Rua Mauá, atrás da estação, a partir dos anos 1880, surgiram hotéis luxuosos, destinados aos viajantes do interior paulista. As ferrovias também favoreceram o desenvolvimento dos bairros próximos como os Campos Elíseos, o primeiro bairro planejado da capital paulista que atraiu o dinheiro e os palacetes da elite cafeeira paulistana.

Alguns bairros populares também começaram a surgir nas proximidades para abrigar os trabalhadores das ferrovias e do comércio local e, até a década de 1920, foram construídos prédios culturais importantes como o Liceu de Artes e Ofícios, Pinacoteca do Estado e o Museu de Belas Artes, consolidando a qualidade da área.

 Liceu de Artes e Ofícios c. 1897. Projeto de Ramos de Azevedo e Domiziano Rossi para o Liceu (1896), atual sede da Pinacoteca. Imagem: Wikipedia.

Esse ritmo se seguiu até 1950, quando o centro se constituía no principal circuito de negócios, compras e lazer das elites. A ferrovia atraiu a instalação de escritórios Òliais das companhias estrangeiras das distribuidoras de filmes, dada a facilidade de importação e remessa de filmes, além de pequenas produtoras e lojas de equipamentos especializados. Décadas mais tarde, a Rua do Triunfo se transformou em reduto do Cinema Marginal, e a região tornou-se conhecida como “Boca do Lixo” em referência a personagens do “submundo” que viviam ali.

A Decadência da Região

Terminal rodoviário da Luz na Praça Júlio Prestes, meados da década de 1960. Foto: Postais Colombo.

Na segunda metade do século XX a situação mudou quando as grandes empresas se deslocaram para outras áreas da cidade, como a Avenida Paulista, levando consigo as elites e iniciando um processo de desvalorização imobiliária. Além disso, havia o eterno problema do transbordamento dos rios Tamanduateí e Tietê, o que impulsionou a saída da população para as zonas sul e oeste. O declínio das ferrovias e a valorização do transporte rodoviário contribuíram também para a popularização da área. A estação da Luz passou a integrar o sistema metropolitano de transporte de passageiros das regiões mais periféricas e, nos anos 1960, a praça Júlio Prestes ganhou a estação rodoviária, que lá permaneceu até 1982, quando foi transferida para a Marginal Tietê.

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Por Abrahão de Oliveira no SP In Foco. Edição: São Paulo São.

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