Nesse contexto, a participação cidadã, ferramentas de inovação social e a ampliação do vocabulário urbano, como novos e melhores tipos de mobiliário urbano, se fazem urgentes. O Instituto A Cidade Precisa de Você tem como foco a melhoria dos espaços públicos urbanos, articulando os vários atores de territórios da cidade – como comunidade local, movimentos civis organizados, terceiro setor, empresas e poder público – para promover a autorregulação e a responsabilidade cívica sobre o uso, os cuidados e a gestão do espaço público. Trabalhamos com processos de educação urbana que permitam aos cidadãos contribuir com ações propositivas e positivas, que gerem integração social, visando a melhoria da qualidade de vida nas cidades.
Ao longo de 5 meses, o Instituto A Cidade Precisa de Você desenvolveu o projeto de ativação do Parque Linear do Canivete, no Jardim Damasceno, zona norte de São Paulo. Foram realizadas atividades diversas, de caráter educativo, lúdico, cultural, propostas por coletivos culturais e moradores da região; além de um processo constante de mapeamento e coleta de dados sobre o lugar, seu uso, necessidades e desejos.
O exercício foi demonstrar o potencial do Parque Linear como espaço articulador e integrador da região, fortalecedor do território em que se insere e seus atores. O único parque na região da Freguesia do Ó/Brasilândia, o Parque Linear Bananal Canivete tem um potencial de servir todo o território com área verde, permeabilidade, atividades comunitárias e economia solidária. O parque está inserido no limite da cidade com a Serra da Cantareira, uma das principais reservas florestais de Mata Atlântica, responsável pelo abastecimento de água da metrópole paulistana. Por isso, tem papel fundamental no desenvolvimento de ações de educação ambiental e desenvolvimento local integrado, sendo capaz de funcionar como um embrião, local de experimentação de soluções e ações que tragam a conscientização da população e reforcem seu papel como guardiões da natureza que os envolve, apontando novos caminhos para o desenvolvimento de cidades e comunidades sustentáveis e resilientes.
Diversos atores do território foram envolvidos nesta ativação: coletivos culturais, espaços comunitários, escolas e espaços de contraturno escolar, unidade básica de saúde, rádio e canais de comunicação locais, os próprios moradores e usuários do parque. Através de uma articulação e engajamento de redes do território, conectando inteligências coletivas, o projeto Rolê no Canivete buscou promover o desenvolvimento local, ativar o espaço público do Parque Linear, prototipar soluções de melhorias na infraestrutura do lugar e formatos de gestão compartilhada entre os diversos atores.O processo foi baseado na metodologia de cocriação e coprodução de cidades do Instituto A Cidade Precisa de Você, que se baseia nas etapas a seguir.
Educação Urbana
O mais profundo conhecimento sobre o território e o lugar é intrínseco àqueles que os experienciam. Como acessar este conhecimento sobre necessidades e potenciais de um lugar? Como traduzir o conhecimento empírico em projeto? Oficinas de mapeamento participativo, pesquisas interativas são ferramentas fundamentais para descobrir o que faz um bom lugar e entender, a partir da experiência do usuário, quais os critérios que qualificam um espaço público de qualidade. No entanto, além de reconhecer e valorizar o conhecimento empírico dos usuários, também é necessário criar uma cultura de cidadania ativa, instigar a participação e autonomia das pessoas na transformação e melhoria do território em que habitam.
No caso específico do Jardim Damasceno e do Parque Linear do Canivete, as pesquisas e mapeamentos não foram só realizados no próprio espaço, mas também com estudantes de diferentes escolas da região (Centro da Criança e do Adolescente CCA Arte na Rua e Escola Estadual Doutor Genésio de Almeida Moura).
Mão na Massa
Na contemporaneidade, o movimento faça você mesmo é cada vez mais disseminado, no entanto, ainda pouco direcionado para a produção de soluções e intervenções inovadoras para o bem comum e os espaços públicos. Além disso, o ato de construir engaja a curiosidade e mobiliza pessoas para se envolverem no processo, criando sentimento de pertencimento e apropriação. A construção de uma intervenção no espaço se manifesta como um convite a esgarçar o imaginário, ampliar o repertório de realidades possíveis; ela constitui uma materialização aberta e flexível, que pode ser manipulada e transformada a partir dos sujeitos e do tempo. Com isso, se produz insumos para um projeto mais permanente, em um cenário a longo prazo.
No caso do Parque do Canivete, foi desenvolvido um laboratório de ideias com jovens do ensino médio da Escola Doutor Genesio Almeida de Moura, as quais foram agrupadas em cenários de curto, médio e longo prazo. As ideias de curto prazo foram materializadas durante o workshop Gambiarra Lab, parte do II Festival A Cidade Precisa de Você. A semana de construção foi um momento intenso de participação dos moradores nas realização do mobiliário, bem como de muitas conversas, pois as atividades mão na massa aguçam a curiosidade e provocam interesse por parte dos moradores. Percebe-se, nesses momentos, a força de mobilização desse tipo de atividades.
Fazendo Junto
Todo o processo de intervenção e ativações junto a comunidade contribui para construir capacidade comunitária para ação política do uso a coprodução dos espaços da cidade. Criar novos protocolos, formatos, sistemas que possibilitem a autonomia e descentralização da gestão dos espaços públicos é uma necessidade urgente; além de desenvolver habilidades de cooperação e colaboração entre os atores envolvidos – usuários, poder público, setores do comércio e empresas.
Para iniciar este processo, aprendendo com modelos de espaços e políticas públicas já existentes na cidade, foi realizado o encontro MACROMICRO2, reunindo representantes do poder público, de iniciativas comunitárias e instituições que atuam com advocacy para o urbanismo colaborativo. A conversa contou com a presença de Aline Cardoso (Secretária do Desenvolvimento Econômico do Município), Luisa Peixoto (analista de desenvolvimento urbano do WRI Brasil), Jaison Lara (coordenador da Casa Ecoativa), Augusto Aneas (integrante da Rede Novos Parques e articulador do Parque Augusta) e Quintino Viana (membro do Conselho Gestor do Parque do Canivete), e aconteceu durante o II Festival A Cidade Precisa de Você.
O debate trouxe perspectivas de desenvolvimento de ações de turismo de base comunitária e ecológica, do desenho de novos protocolos de participação e desburocratização da relação com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, buscando uma gestão compartilhada dos parques com as comunidades locais, e do programa Operação Trabalho POT como possibilidade de financiamento de pessoas para manutenção e cuidado do espaço.
Tais reflexões que emergiram do debate apontam caminhos para a sustentabilidade da ativação do Parque a longo prazo, tangenciando problemáticas como a co-responsabilidade dos usuários, a geração de uma economia local e a articulação com programas e políticas públicas existentes, propondo uma integração e intersetorialidade no uso e ocupação do espaço. Os parceiros envolvidos, as atividades realizadas, as metodologias de pesquisa e mapeamento criadas trouxeram um maior engajamento dos moradores na participação do uso e cuidado do espaço público do Parque, humanizando a cidade e criando sentimento de pertencimento das pessoas ao lugar. Pois afinal, pessoas fazem lugares.
Coletivos parceiros
- Espaço Cultural Jardim Damasceno.
- Cia Teatro de Laje.
- Samba do bowl.
- Mano Réu.
- Slam da Norte.
- Sarau Fenda Paralela.
- Doces Talentos.
- Movimento Ousadia Popular.
- Permasampa.
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Por Marcella Arruda no A Cidade Precisa de Você.