A cidade pulsa

Por Carlos Monteiro.

Por entre carros, automóveis, motocicletas, lambretas e caminhões, fumaça, alcatrão, fumos e betão, lá vai o malabarista, lá vem o acrobata em seu malabar diário, equilibrista da vida, bastão pirográfico. Lá vai, no vai e vem das avenidas, constante farfalhar, sonoros Paulinhos. Sinal, sinaleira, farol, saber, semáforo semafórico, aforismo funâmbulo. Assim, todos os dias na mesma encruzilhada, esquina esquecida em um canto qualquer da cidade, que já foi encanto e, no entanto, o cantar da ave brejeira, pássaro matinal, cala-se ao alvorecer. Lá vai entre faixas, recuos e meio-fio, guia, talvez sarjeta, catador encantador cotidiano de míseras moedas. Divide seu pequeno picadeiro, com os olhares atentos às mensagens via Intelsat, telas luminosas em miniatura, tal qual letreiros que anunciam um diuturno ocorrer.

Foto: Carlos Monteiro.

Ciclovia, faixa especial, velocidade estonteante, por entre carros, árvores, buracos, crateras lunares, poças lagunares, pedestres distraídos, corredores afobados, lá vai o ciclista, pedalar cadente, estrela cintilante quando chega a noite. Acrobata em duas rodas, malabarista divinal, protetor atroz da natureza. Longas retas, paralelas passagens, despidas em pistas avermelhadas, corrente-pedal, lá vem, lá vai. Domingo garantido.

Paredes, empenas, laterais edificadas, vitrais em tinta e andaimes, arte, pura arte latente, caiadas, contam histórias, memórias da cidade, homenagem, tributo, alerta. No vai e vem ensurdecedor, são monolíticos coloridos, erguidos em paredes solidificadas por mãos calejadas, latifúndios verticalizados urbanos. O Cobra é cobra, arco-íris, talento em perfeição. Pelo labirinto de concreto, ruas são cobras esgueirando-se dentre a argamassa desarmoniosa e, às vezes, ‘blasé’. Abençoai-vos, oh Pai, eles sabem o que pintam!

Foto: Carlos Monteiro.

Epitáfio modernista, consolação em meio ao caos, silêncio sepulcral, lápide polida, brilhante, lá vem o gato preto, lindo, intenso ébano vívido. Em 22 são 100. Tarsila, Mário, Oswald, Olívia. Encravado, sutilmente encastoado, marchetaria cuidadosa de Brecheret, Meneses, Giorgi, Franceschi, Prati, Bernardelli, Brizzolara. Necrópole Consolação que se traduz Francivaldo Gomes Popó, ávido vigilante, coração que bate mais forte, pura paixão, vencedor-professor, deixou Crateús para ser mestre em súplica cearense, sensibilidade à flor da pele, choramos juntos Militão, pai da arte em nitrato de prata, chapas delineadas em poesia luminescente.

Foto: Carlos Monteiro.

Espelhada capital, avenida augusta, elegância em quadriláteros tórridos, magnífica, solene, majestosa, faustosas calçadas dominicais, sons crepusculares inebriantes por ti caminham. Tens a ‘narcisidade’ nas vitrines-pátio colegial, templos atuais, tempos modernos. MASP, MIS, febris, plásticos-artísticos. Trianon, verde que te quero phoenix. Zimbro, deidade serenal, verte gotas d’alma aos primeiros acordes de tua deusa Lee: “E lá vou eu”.

Ibira, empurra, Bienal, sacerdotal, total, Achiropita, Genaro, Cecília, Calvário, Sé, Bento, Lancellotti e haja fé; nunca falha. Metrô coloreado, quimeras, priscas eras, priscus primus, priscila cidade. Karijós tupinikins, maromomis, guayanás, tupinambás, kaiapós. Tibiriçá, Bartira, Ramalho, Anchieta, Nóbrega, São Francisco. Copan, Niemeyer, Cerqueira Lemos, Giuseppe, Lacombe(s), Martinelli, Lasar Segall. Chá, Efigênia, Tatuapé, Moema, Mooca, Pacaembu, Tucuruvi, Congonhas.

Foto: Carlos Monteiro.

Rock galera, Joelho de Porco e a comédia paulistana, Angra a ira do titã mutante, meu Céu. Adoniram, flechadas oculares, Demônios Jassanienses, Mathias tanta ginga no asfalto do Pari. Nenê, quem é da Vila, conhece a Matilde e não vacila. Vai-vai levar o Tom Maior. É Gaviões, ‘orrrrra’ meuuu, loucura!

São Jorge é carioca, mas faz história no Parque. Viva Matheus, vai no embalo agradecido à Antarctica, pelas Brahmas que mandou, de graça, pelo aniversário do Timão. Parla Menino Travesso Mazzoni, Juventus, juventude Palestra Itália da rua Javari, alva-grená.

Foto: Carlos Monteiro.

Sujinho, Bar das Putas, bela bisteca, Pinacoteca, Cinemateca. Chic bauru, Paissandu, Ita, bacalhau, pudim. Mortadela, Mercadão, virado, esfirra, coxinha, bolovo, ‘polpeta’. Maria e a feira; dois de carne, se me faz favor. Anhangabaú, Bolinha, feijão. Riviera, quase um francês de tão charmoso.

Liberdade, diversidade, prosperidade, arigatô Tomy Ohtake! Cidade convertida, Apóstolo Tarso, Sant’Ana padroeira fostes até 2008. Sampa, Essepê, garoada terra, és bela cidade que pulsa.

***
Carlos Monteiro é publicitário, fotógrafo das Alvoradas Cariocas e cenas do Rio de Janeiro.

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.