A nova Orquestra do Mozarteum Brasileiro e o maestro Carlos Moreno, regendo ‘milagres de Deus’

Enquanto o maestro Carlos Moreno aponta “uma situação política criminosa e cultural muito ruim, um problema endêmico no Brasil”, ele considera os músicos Foto: Marcos Hermes / Divulgação.que continuam a tocar seus instrumentos, “milagres de Deus”. Sua missão é capturar essa energia musical milagrosa e dar-lhes a oportunidade de serem ouvidos. Agora em seu segundo ano de existência, a nova ‘Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro’ apresentará a Noite das Estrelas na próxima semana (8 e 9 de outubro) na Sala São Paulo, seu segundo evento na cidade nos últimos dois meses. 

Foi uma loucura imaginar a criação de um novo tipo de orquestra contra um pano de fundo de crise? Os gurus da administração gostam de nos lembrar que os chineses usam duas pinceladas para escrever a palavra “crise”. Uma representa perigo; a outra, a oportunidade.

Moreno parece não ter se incomodado com o perigo, quando propôs a idéia em uma conversa telefônica com a presidente da Mozarteum, Sabine Lovatelli. Era para ser uma orquestra de partes constantemente móveis, uma que proporcionaria uma experiência de aprendizado essencial para jovens músicos, ao mesmo tempo em que acrescentaria uma companhia de primeira classe, quando fosse extremamente necessário. “Ela me deu retorno apenas três dias depois e disse: vamos nessa”, maravilha-se Moreno. Seu nome, “Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro”, anuncia orgulhosamente tanto sua missão docente quanto o generoso apoio da organização Mozarteum. 

Desde o início, o maestro esteve focado em todos os aspectos para a criação de uma excelente orquestra concentrada em jovens instrumentistas talentosos de todo o Brasil, escolhidos em concursos anuais realizados em conjunto com o ‘Festival Música em Trancoso’, na Bahia. Adicionando peso artístico extra ao certame, estão alguns profissionais conhecidos. 

Para cada concerto, se cria uma orquestra aparentemente nova e as cadeiras são preenchidas entre os 70 e 80 músicos da lista de instrumentistas qualificados de Moreno, escolhidos para atender às necessidades de qualquer programa musical em particular (às vezes mais cordas ou sopros, ou menos percussão). Ele aponta para o equilíbrio racial e de gênero entre os músicos, o que reflete, diz ele, a cultura do Brasil, e não um desenho artificial.

Foto: Marcos Hermes / Divulgação.

É dada prioridade para os músicos que vivem perto dos locais onde se realizam os concertos, o que facilita e barateia a organização dos ensaios e as atuações finais. Por conta dos gastos para ajudar a cobrir as despesas, nestes tempos difíceis, os músicos não recebem salários.

Se alguém acha que a mistura constante de músicos pode ser um problema, o Maestro Moreno vê isso como muito menos importante do que a enorme energia que ele diz, irradia dos músicos. Muitas vezes dentro de cada novo grupo, velhos amigos e colegas musicais se encontram. Eles se deliciam em trabalhar juntos em um repertório excitante que exige o melhor de seus talentos. “Pense como isso é diferente”, diz o Maestro, “do que a vida mais rotineira de um integrante de uma orquestra permanente, sempre ensaiando e atuando com o mesmo grupo, ou não exatamente, mas como se fosse ao escritório todos os dias”.

Carlos Moreno insiste que “o que os artistas mais querem é a chance de tocar, a alegria de fazer música”. Isso, ele diz, é a coisa mais valiosa que ele pode dar a esses jovens músicos. Infelizmente, há uma escassez de orquestras permanentes no Brasil. As melhores são a Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP), a Orquestra do Theatro São Pedro e a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. O Rio costumava ter uma orquestra de classe mundial, mas cortes de financiamento e política reduziram-na a apenas um conjunto. “Então, onde”, pergunta o Maestro, “há músicos hábilitados para tocar”? 

Foto: Marcos Hermes / Divulgação.

Pode ser apenas um pequeno passo na direção certa, mas a visão do maestro Carlo Moreno para a expansão da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro e talvez de outras orquestras como esta, certamente faz parte da resposta.

Obs: O autor foi durante muitos anos, membro do Conselho Consultivo do Mozarteum Brasileiro.

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Peter Rosenwald mora em São Paulo e atua como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’. Escreve toda semana no São Paulo São.

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