A responsabilidade das empresas em relação a mobilidade urbana

O Rio de Janeiro está parando. E aí falo não somente de sistema rodoviário de transporte, mas de qualquer sistema público de transporte. Aliás, andar de carro também não dá mais. Por mais que a onda das bicicletas tenha aparecido com força, o problema de mobilidade só vai piorar.

Temos um sistema de trem que, além de muito velho, não é ampliado (acho que nunca foi); temos um sistema de metrô ampliado na velocidade de uma estação a cada cinco anos. E sempre em reta. O metrô da segunda maior cidade do país não tem novas linhas ou redes de integração. Há cada vez mais carros na rua e um monte de ônibus fazendo trajetos semelhantes (lembro que há poucos anos foi feita licitação com a promessa de acabar com a sobreposição de linhas na cidade). Há cada vez mais estresse e impaciência das pessoas, que, somados à nossa peculiar falta de educação no trânsito, transforma tudo em um grande caos.

Pesquisadores estimaram que no ano passado o trânsito de São Paulo custou à cidade algo do tipo 40 bilhões de reais. Isso contabilizando só a gasolina, depreciação dos veículos e oportunidades perdidas. Se acrescentar o fator ambiental, o social e o de saúde (sem contar outras variáveis), o somatório passa de 50 bilhões. Falam que esse custo dobra a cada quatro anos. DOBRA.

Sim, trânsito e mobilidade urbana são problemas de política pública. Mas o preço a se pagar é dividido por todo mundo, governo, sociedade e empresas. E indo para o lado corporativo, temos outros custos: o custo do absenteísmo e o da perda de produtividade são os mais claros. Me digam: alguém pode ser feliz morando na zona norte e indo trabalhar de ônibus na Barra todos os dias?

Mesmo não sendo responsabilidade das empresas, há uma série de ações que poderiam ser feitas por elas de forma a descomplicar essa equação e com isso reduzir perdas e outros custos. Quem disse que empresa só pode funcionar de 8h às 17h ou de 9h às 18h? Eu, por exemplo, prefiro chegar mais tarde e sair mais tarde. E tem gente que prefere o contrário.

  • Por que não fazer uma pesquisa com os funcionários e estabelecer turnos alternativos de trabalho?
  • Por que não estabelecer um dia por semana de home office ou trabalho remoto (imaginem a redução de estações de trabalho que isso pode gerar!) para TODOS os funcionários?
  • Por que não permitir ao funcionário começar o trabalho remotamente e depois ir para o escritório quando já tiver passado o horário de rush?
  • Por que não estimular a utilização de transportes alternativos, oferecendo lugar específico para estacionamento e banheiro com chuveiro?
  • Por que não estabelecer o escritório em local que seja de fácil acesso para a maioria?
A questão crítica de se oferecer alternativas aos funcionários para uma melhor mobilidade é que isso dá trabalho. Ao contrário do que muitos imaginam, isso não é responsabilidade, apenas, do RH, mas de todas as diretorias. Tratar a mobilidade como uma necessidade de primeira linha exigirá planejamento, disciplina e organização da empresa, das áreas e das equipes de trabalho. Além, é claro, de mudança no perfil gestor. Maior integração, maior comunicação, maior confiança e, principalmente, maior desprendimento, onde só terá valor aquilo que realmente importa.

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Julianna Antunes, especialista em planejamento estratégico para a sustentabilidade e novos modelos de negócio através da sustentabilidade. Mantém e edita o blog Sustentabilidade Corporativa. 

 
 

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