No elenco de “A Serpente“: Patrícia Gordo, Liz Reis, Ygor Fiori, Valdir Rivaben e Ana Negraes. Foto: Lenise Pinheiro.
Lançada em 1980, poucos meses antes de Nelson Rodrigues (1912-1980) falecer, ‘A Serpente’ é considerada o texto mais curto do autor, com apenas um ato de duração. A obra foi escrita num leito de hospital, entre um tratamento e outro. Sabendo que essa seria sua última peça, Nelson ao escrever não relia o texto pois não sabia se a doença o deixaria terminar.
Em sua primeira direção de um texto de Nelson Rodrigues – Lavínia já havia se envolvido com Rodrigues anteriormente: a primeira em “Vestido de Noiva”, quando viveu a cafetina Madame Clessi na montagem de Eric Lenate, e a segunda em “Boca de Ouro“, com direção de Gabriel Vilela – a diretora pensou na encenação de “A Serpente”, para a Cia. Círculo dos Comediantes, com tema central na morte. “O fim de si mesmo, do outro, com o outro, para o outro”, explica ela.
Dirigida por Lavinia Pannunzio, montagem inédita tem curta temporada a partir do dia 16. Foto: Lenise Pinheiro.
A ambientação, portanto, é fúnebre, e o mesmo espaço se transforma de sala de jantar a um necrotério – tudo preto com detalhes em vermelho. “Decidi por um lugar em que se depure, em que se celebre e em que se beba a morte”, justifica Lavinia. O texto fala sobre duas irmãs recém-casadas que vivem com os maridos sob o mesmo teto. A relação entre eles começa a ruir já na primeira cena do espetáculo, quando um dos casamentos demonstra ares de fracasso. “Cada um é a cobra do Paraíso do outro.”
A diretora (foto) explica por que a serpente é um animal tão simbólico em diversas culturas. “É fascinante pelo fato de ela transitar entre terra e água, trocar a pele, se renovar, além do risco que implica o contato com ela”. Embora no cristianismo o animal seja associado à culpa e ao sofrimento, a serpente simboliza a totalidade da existência. “A serpente está presente na cosmogonia de todos os povos, evocando sabedoria, conhecimento, iluminação, renovação e equilíbrio da vida”, afirma, citando como exemplo a mitologia grega.
Lavínia Pannunzio no papel da cafetina Madame Clessi na montagem de “Vestido de Noiva“, 2013. Foto Marcelo Villas Boas.
Na peça, a serpente simboliza os dois extremos. “A separação, o adultério, a preservação da virgindade, o incesto. Todas essas coisas aprisionam os personagens e os colocam num inferno cristão de culpa máxima”, explica a diretora. “Então há a perda do Paraíso, sim, mas há também amores de ordem mítica, ancestral, para além da compreensão da religião cristã.”
Serviço
A Serpente
Autor: Nelson Rodrigues
Direção: Lavínia Pannunzio.
Elenco: Patrícia Gordo, Liz Reis, Ygor Fiori, Valdir Rivaben e Ana Negraes.
Teatro Arthur Azevedo – sala multiuso.
Av. Paes de Barros, 955, Mooca, Zona Leste. Tel. 2604-5558.
De 16/3 a 22/4.
6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. Grátis.
70 min. +16 anos.
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Da Redação com informações da Secretaria Municipal de Cultura.