-’Acorde!’, essa expressão está presente em quase todos os filmes de Spike Lee. É um chamado para a ação, para a ruptura de um comportamento padronizado, geralmente declamado por um personagem secundário para o personagem central, frequentemente em uma visão subjetiva: o ator olha para a câmera e fala ‘Acorde!’ para a plateia do cinema. “Spike Lee quer que seu cinema faça o público acordar para a realidade que o cerca – comenta o curador Jaiê Saavedra.
A Mostra acontece no mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e oferece ao público um panorama da obra do mais atuante cineasta afro-americano, que conquistou este ano o Grande Prêmio do Júri e Menção Especial do Prêmio Júri Ecumênico no Festival de Cannes, e o Prêmio do Público no Festival de Locarno, com Infiltrado na Klan (estreia nacional prevista para 22 de novembro).
“Acorde! O Cinema de Spike Lee” traz alguns dos títulos mais recentes do cineasta, porém pouco vistos nas salas de cinema brasileiras, e alguns de seus melhores trabalhos para a televisão, como os documentários Kobe Doin’ Work (2009), filmado com 30 câmeras, e Michael Jackson’s Journey from Motown to Off the Wall (2016). Michael Jackson também é a estrela de um dos videoclipes da mostra – They Don’t Care About Us, gravado no Rio de Janeiro e em Salvador. Quatro filmes clássicos serão exibidos em 35mm: Mais e melhores blues (1990), Febre da selva (1991), Malcolm X (1992) e A última noite (2002), que terão sessões inclusivas (com audiodescrição e close caption).
Ao demonstrar para Hollywood o potencial de um cinema negro junto ao público amplo, Spike Lee saiu da condição duplamente marginalizada de cineasta independente e negro, fazendo dos black films parte da grande indústria do cinema americano. Após o sucesso do seu primeiro lançamento comercial, a comédia Ela quer tudo (She’s Gotta Have It, 1986), que marcou também a estreia de Spike Lee como ator, ele abriu a sua produtora – 40 acres and a Mule Filmworks (o nome é inspirado em uma promessa não cumprida que políticos fizeram a escravos recém-liberados depois da Guerra Civil americana).
Um período de intensa criatividade veio a seguir, com filmes como Faça a coisa certa (1989), Mais e melhores blues (1990), Malcolm X (1992) e Febre na selva (1991), colocando o diretor entre os grandes nomes do cinema mundial. Surpreendentemente, mesmo tendo alcançado a condição de um cineasta mainstream, Spike Lee nunca deixou de considerar a si mesmo um cineasta negro e independente. Com A hora do show (2001), uma crítica feroz à forma como Hollywood e a TV dos Estados Unidos tratavam os negros, ele consolidou definitivamente a sua posição como um dos grandes realizadores do século. Lee já trabalhou com diversas estrelas e gosta de repetir no elenco de seus filmes nomes como Denzel Washington (que encarnou Malcolm X), John Turturro, Samuel L. Jackson e Michael Imperioli. Em 2016, Lee ganhou um Oscar Honorário, mas não foi à cerimônia para marcar sua posição em um momento em que se discutia a falta de indicações de pessoas negras ao prêmio.
Spike Lee também é, antes de tudo, um cineasta com incrível domínio técnico, grande sensibilidade na direção de atores e enorme respeito à palavra. Seus primeiros filmes já se tornaram clássicos do cinema que merecem ser (re)assistidos e novamente discutidos. Um raro exemplo de um diretor que conservou enorme vigor e ousadia através das décadas, transcendendo o título de representante de um cinema negro e se tornando um dos grandes de nossa época – completa Jaiê Saavedra.
A mostra “Acorde! O Cinema de Spike Lee” contará com um debate com o curador, a pesquisadora Kênia Freitas e o crítico Bruno Galindo, que ainda vai ministrar uma aula sobre o cinema de Spike Lee, ambos gratuitos, com distribuição de senhas a partir de uma hora antes do início do evento.
Serviço
Mostra “Acorde! O Cinema de Spike Lee”
Curadoria: Jaiê Saavedra.
Data: 7 de novembro a 3 de dezembro de 2018.
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia entrada).
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo.
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro, São Paulo -SP.
(Acesso ao calçadão pela estação São Bento do Metrô).
(11) 3113-3651/3652 | Quarta a segunda, das 9h às 21h.
Os visitantes que assistirem a cinco sessões de filmes ganharão um catálogo da mostra.
A programação completa está disponível no site bb.com.br/cultura
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Com informações Sinny Assessoria e Comunicação / Assessoria da Mostra. Edição: São Paulo São.