Ah, agosto…

A conversa nos bares, com os novos colegas, com os motoristas de táxi já nossos chapas, com a caixa do supermercado, ainda girava em torno do clima, mas com um tom um pouco diferente, quase um pedido de desculpas. “Que clima estranho. Já era para estar calor nessa época. Esse friozinho já deveria ter ido embora. No ano passado o verão foi até outubro, novembro, acho que por isso está demorando a chegar esse ano…”. E por aí vai. De fato, entrou o verão na folhinha pendurada na parede da cozinha, mas o calor ainda oscilava. Chegamos a pegar uns dias de praia em julho, com um calorão de deixar Natal no chinelo, mas não foi algo consistente. Tá certo que para quem vem de São Paulo esse negócio de fazer frio no inverno e calor no verão é algo totalmente fora de moda. Aliás, lembro bem de acordar no inverno paulistano, suar muito na hora do almoço, viver o outono à tarde e me agasalhar novamente no começo da noite, tudo num mesmo dia, em um mês qualquer de verão (ou será que era inverno? Primavera? Outono?)

A Praia de Furadouro é uma das melhores da região de Ovar. Foto: Getty Images.

Mas agora vem agosto, “o mês” do auge do verão, dos picos do turismo, dos shows, das festas na praia. Estamos pondo fé e já compramos um arsenal de praia: cadeiras, guarda-sol e o famoso tapa-vento (para nós aqui mais pro lado de cima de Portugal) ou pára-vento (para que está mais pro sul). E se de depender das previsões, a coisa vai ser quente mesmo. Na próxima semana as temperaturas máximas vão ultrapassar os 30 graus em todo o país, chegando aos 40 graus em algumas cidades. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), quem trará esse bafo para nós é uma massa de ar quente e seco vinda do Norte de África e que deverá chegar à Península Ibérica nos próximos dias. Lisboa deve atingir 38 graus de máxima essa semana, número bem elevado quando se compara com a temperatura média (27 graus) no mês de agosto ao longo dos último 30 anos, de acordo com a Organização Mundial de Meteorologia. Aqui mais para cima, sobe também: 31 graus no Porto e 39 graus um pouco mais ao norte. Mas quer calorzão pra valer: que tal uns 43 graus em Santarém ou 44 graus em Beja?

Lisboa, Santarém, Setúbal e Bragança sob ‘aviso vermelho’ devido ao calor. Foto: Agência Lusa.

Com esse clima mais convidativo para a praia e para as atividades ao ar livre, agosto acaba sendo um dos meses do auge do turismo, tanto da população portuguesa quanto da estrangeira. Dados recentes do INE (Instituto Nacional de Estatística), apontam que o verão marca o pico de viagens dos portugueses, com quase 8 milhões de viagens registradas no verão de 2017. A maior parte deles (90%) viajou dentro do próprio país.  A região Norte é o principal destino e mais de 40% dos viajantes está na faixa acima dos 45 anos de idade. Quando saem do país, vão principalmente para a Espanha, nosso país vizinho, França e Reino Unido. Os estrangeiros também preferem o mês de agosto para curtir o verão português. A maioria deles vem do Reino Unido, da Espanha, da França, da Alemanha e…. nem preciso dizer, do Brasil. E os números seguem em trajetória de crescimento. Em 2004, os aeroportos de Lisboa e do Porto receberam, neste período, 590 mil e 165 mil turistas, respectivamente. Em 2017, os números saltaram para 1,3 milhão e 527 mil.

Lisboa e a vista do Rio Tejo a partir do Bairro Alto. Foto: Ana Paula Carvalho / Condé Nast Traveller

Mas claro que o agosto “aquecido” por aqui não se deve apenas ao calor do sol. Lisboa conquistou a distinção de Melhor Cidade Destino da Europa (Europe’s Leading City Destination), nos World Travel Awards, ficando à frente de Amsterdam, Barcelona, Londres, Paris, Roma e Veneza. A capital portuguesa recebeu ainda o prêmio de Melhor Porto Europeu de Cruzeiros (Europe’s Leading Cruise Port). Portugal, por sua vez, foi eleito o melhor destino turístico europeu, algo como o “Oscar do Turismo”, pela segunda vez consecutiva.

Mas se o calor tem um lado gostoso, tem também a sua faceta mais dolorosa. Em 2003, Portugal registrou a mais alta temperatura do país (47,4 graus) ao longo da história recente, causando a morte de quase 2 mil pessoas, de acordo com relatório do IPMA. O tema é tão importante por aqui que as principais autoridades nacionais – Direcção-Geral de Saúde, IPMA e Autoridade Nacional de Proteção Civil – acabam de se reunir com a imprensa de todo o país para passar orientações e recomendações, principalmente para os mais vulneráveis. “Vamos recomendar que as pessoas não cuidem só delas próprias, mas também dos mais vulneráveis: crianças, idosos, pessoas portadoras de doenças crônicas, as grávidas e os que têm mobilidade reduzida”, afirmou um dos porta-vozes.

A praia de São Pedro de Maceda fica a 11 quilômetros do centro de Ovar. Foto: Marcos Freire.

Para nós, o primeiro agosto chega carregado de expectativa. Julho está acabando com dias lindos, o que é um bom ponto de partida. Tapa-ventos a postos, bikes prontas. Logo estaremos nos esbaldando com as “Bolinhas de Berlim” (algo como os nossos sonhos, aqueles bolinhos com muito recheio cremoso), que, aliás, ganham versão mais “saudável” em algumas praias portuguesas, feitas com uma farinha especial à base de espirulina e beterraba. As Bolinhas de Berlim são praticamente uma marca registrada das praias portuguesas. Tipo o mate e o biscoito Globo. Aos berros e isopor a tira colo, vendedores anunciam as bolinhas caminhando pela areia.

Em Portugal, os vendedores de "bolas de Berlim" nas praias têm de cumprir 15 exigências que envolvem 6 entidades diferentes. Fonte: Visão.

E parafraseando o que está estampado em um dos pórticos da Capela dos Ossos, lá em Évora, podemos que dizer que “nós, que aqui estamos (na praia, claro), por vós esperamos”. As praias portuguesas são muito bonitas, com extensas faixas de areia de branca e mar azul. E, claro, o sol é um só, o mesmo que brilha em Natal ou no Rio de Janeiro. Deixo apenas uma dica: preparem-se para os arrepios. O oceano também é o mesmo Atlântico, mas não há calorão de mais de 40 graus que esquente essas águas daqui das nossas praias…

***
Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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