Amor e cultura nos tempos do Coronavírus

O que fazer, além de comer? A bicicleta está trancada na garagem, as caminhadas no parque estão proibidas. Mas quando parece não haver muita alternativa, a gentileza, a solidariedade, a criatividade e, principalmente, o amor, parecem dar um jeito de tornar a experiência menos sofrida. Já vi os “shows” nas varandas italianas, a aula de ginástica no telhado de um prédio e sei que as pessoas, em todas as partes do mundo, estão se mobilizando para trazer alguma leveza ao cotidiano, para dar um pouco de cor a esses dias nebulosos.

Aqui em Portugal não é diferente. Uma das ações bacanas destes dias é um super festival de música, com grandes artistas portugueses, que se reuniram para uma série de concertos no Instagram, até o próximo domingo, dia 22. O #euficoemcasa traz shows diários, com nomes como Diogo Piçarra, António Zambujo, Carolina Deslandes e mais um monte de gente boa. A transmissão de cada concerto será feita na conta de Instagram de cada um dos artistas que participam na iniciativa ou na conta de Instagram criada especialmente para o festival (@festivaleuficoemcasa).

Prefere ler? Por que não uma imersão em Fernando Pessoa, um dos mais importantes nomes da língua e da literatura portuguesa? Grande parte da sua obra pode ser acessada gratuitamente no dominiopublico.gov.br. Outra sugestão é a https://bibliotronicaportuguesa.pt/, com um grande acervo de obras originais e títulos clássicos de domínio público. Quer outros clássicos? Eu já me dei Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas nestes últimos dias, também de graça, baixados na loja Kindle (e aí, Capitu traiu ou não?). Vale também navegar pela Biblioteca Nacional Digital (BND), um mundo de manuscritos e impressos digitalizados (livros, periódicos, cartografia etc), com acesso gratuito (bndigital.bnportugal.gov.pt)

Imagem: reprodução.

Mas se curte mais um cineminha, tem muita coisa por aqui além de Netflix e HBO. A Medeia Filmes, que explora algumas salas de cinema em Lisboa e no Porto, criou a Quarentena Cinéfila e já começou a disponibilizar gratuitamente alguns clássicos da telinha no seu website. Esta semana tem O Estado das Coisas; Paris, Texas; Lisbon Story – viagem a Lisboa. Outra iniciativa é liderada pela Agência da Curta-Metragem, que também oferece títulos do cinema português do seu catálogo gratuitamente. O projeto Filmes Curtos para Dias Longos está no link https://vimeo.com/showcase/short-films-for-long-days. Alguns diretores portugueses também estão oferecendo gratuitamente os seus filmes – curtas e longas –, que podem ser vistos no youtube, vimeo e outras. Vale dar uma busca. Há muita coisa boa.

A abertura da mostra "Julian Opie, Obras Inéditas" foi transmitida nas redes sociais do Museu Coleção Berardo. Foto: Divulgação.

Se a opção for dar uma voltinha pelos museus – sim, é possível, mesmo sem sair de casa -, o que não falta é boa opção aqui na terrinha. Hoje, dia 18,  (sei que quando este texto for publicado, não dará mais tempo. Mas o museu deixará uma versão legendada no site para que seja acessada posteriormente), o Museu Coleção Berardo, o principal museu de arte moderna e contemporânea de Portugal, localizado em Lisboa, fará a primeira inauguração virtual de uma mostra, com uma visita guiada com o artista – o britânico Julian Ope – transmitida nas redes sociais do museu. Vale reforçar que o museu está fechado para o público. Ou seja, a inauguração é exclusivamente virtual. Além dessa inauguração, todo o acervo também pode ser acessado virtualmente. Outro acervo disponível é o do museu da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Entre as obras, objetos do Antigo Egito, do Oriente Islâmico ou obras de artistas como Rembrandt, Turner, Monet, Rodin ou René Lalique. Há também muito da arte moderna e contemporânea, com obras de Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Paula Rego e Vieira da Silva. Quem preferir também pode circular pelo país sentado na poltrona da sala: o Google oferece visitas virtuais a alguns a alguns dos principais museus e monumentos portugueses (https://artsandculture.google.com/), o que também é possível fazer pelo http://lisboa.360portugal.com/.

Imagem: reprodução.

De volta à minha “prisão domiciliar”, me alegro com a gentileza que vejo dos vizinhos que se oferecem para fazer compras para os mais idosos (e são muitos por aqui), dos que deixam o carro a disposição para quem precisar, da gentileza e profissionalismo da professora do meu filho, que segue mandando lições por e-mail, corrigindo os trabalhos e acompanhando os “miúdos” diariamente. Claro que há aqueles que ainda relutam em aceitar a quarentena, mas são poucos. E como a magrela está sem rodar, já fiz uns sobe-e-desce forçados do térreo para o quinto andar, de volta ao térreo, de volta ao quinto. E assim vamos, cuidando da cabeça com a profusão de shows, livros, museus, música, cursos online e gratuitos, e do corpo, com esses “steps” adaptados e a ginástica diária para deixar a casa sempre em ordem.

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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