Amor não falta, já os filhos…

Mas vejam que parece não ser uma brincadeira tão sem algum fundamento. Pelo menos aqui em Portugal.

Dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), apontam que setembro foi o mês que mais registrou nascimentos nos anos de 2010 a 2016 aqui na terrinha, perdendo o posto de líder de trabalho da cegonha para outubro nos anos de 2017 e 2018 (uma leva de prematuros do carnaval?). Fevereiro está na outra ponta, como mês com o menor número de nascimentos.

Independentemente do impacto que o número de nascimentos por mês possa ter no país (sim, faz diferença: já imaginaram uma população de virginianos sensíveis, observadores, inteligentes…?), os dados gerais de crescimento populacional (no caso de Portugal, decréscimo…) é o que mais preocupa. Apesar de, em números totais, o saldo de nascimentos ter sido positivo em 2018, a população voltou a cair um pouquinho, uma vez que o número de mortes superou o de nascimentos em quase 26 mil. Como o país teve uma “ajuda” dos imigrantes (eu fiz a minha parte com quatro “vidinhas” novas na terrinha) que seguem se estabelecendo por aqui, o saldo negativo no número de habitantes no país foi de quase 14,5 mil. E as perspectivas não são animadoras: o número médio de filhos por mulher em idade fértil é de 1,41. Algumas cidades no Norte e no Centro de Portugal não registraram um único nascimento nos últimos cinco anos! Um dado que talvez explique essa pequena taxa é a idade com que as mulheres têm o primeiro filho, que hoje já é de 30 anos em um terço dos nascimentos. 

Fevereiro, talvez por ser o menor mês do ano, é quando nascem menos crianças. Foto: Expresso.

E nem dá para dizer que é por falta de “interesse” ou de paixão, uma vez que os casamentos seguem em alta por aqui. Foram quase 35 mil no ano passado, número que segue a tendência de crescimento dos últimos anos. Deste total, pouco mais de 600 foram entre pessoas do mesmo sexo. E metade do número total foi simplesmente a formalização de casamentos de pessoas que já viviam juntos. Ou seja, ter um companheiro ou uma companheira, dividir o mesmo teto e juntar as escovas parece ser um sonho crescente de muita gente. Mas ter filhos…

Ter um companheiro ou uma companheira, dividir o mesmo teto e juntar as escovas parece ser um sonho crescente de muita gente. Mas ter filhos... Foto: Público.

E como não nasce tanta gente e o tempo insiste em passar, o resultado é que temos cada vez mais idosos por aqui. Mais de 20% da população tem mais de 65 anos de idade. Destes, mais de 13% já passaram dos 85 anos de idade. E seguem envelhecendo. Segundo o relatório do INE, Portugal quebrará a barreira dos 10 milhões de habitantes daqui a 14 anos. Ou seja, serão quase 270 mil pessoas a menos em 2033. Avançando um pouco mais, a projeção atualizada é de uma população de menos de 8 milhões de pessoas em 2080. Hoje, já são cerca de 160 idosos para cada 100 jovens, proporção que deverá pular para 290 para cada 100 naquele ano. Serão quase 3 milhões de pessoas com mais de 65 anos, ou seja, pouco menos da metade de toda a população portuguesa. Em 2018, a idade média do português era de pouco mais de 45 anos, ficando atrás apenas da Alemanha e da Itália, quando comparado com outros países da União Europeia. O problema é que Portugal e Espanha foram os dois países que mais envelheceram na última década.

É comum ver idosos trabalhando em Portugal. Foto: Alex E. Proimos / Creative Commons.

O governo já discute uma série de medidas e incentivos como auxílio-creche e novos valores de redução do imposto de renda para aqueles que decidirem ter dois ou mais filhos, mas os especialistas em demografia não acreditam que o país possa ter a necessária taxa de 2,1 filhos por mulher em idade fértil para repor gerações futuras. A tendência de redução, aliás, não aflige apenas Portugal. Dados da União Europeia mostram que a maior parte dos países membros estão na mesma toada. Os números podem variar levemente de acordo com a fonte, mas as análises são praticamente unânimes: o continente deverá perder alguns milhões de habitantes em idade ativa até 2050, no que muitos estão chamando de “suicídio demográfico”.

Por isso, você, mulher jovem, fértil, e você, homem jovem, fértil, namorem, casem ou vivam juntos, tenham muitos filhos, de preferência “feitos” no ano novo. Mas se vierem cancerianos, geminianos, taurinos, piscianos e todos os demais, tá valendo também. O que a gente precisa é de gente boa enchendo esse mundo!

***
Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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