‘Anti-gourmet’, cafés deixam que cliente pague quanto quiser por produtos

Em vez do cardápio, quem entrar no Preto Café, que abrirá no dia 25 em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, verá em uma lousa todos os custos do estabelecimento. 

As informações são para ajudar clientes a decidir qual o valor justo da refeição, já que são eles próprios que escolhem quanto querem pagar. 

“É uma provocação, como se disséssemos: ‘Quanto você está disposto a dar para que um lugar assim exista?'”, afirma Lucas Pretti, 31, um dos idealizadores. 

Pretti faz parte de um novo grupo de empreendedores que, insatisfeitos com uma cadeia de consumo que consideram injusta, investem em um formato alternativo de comércio: com transparência de contas e no qual o cliente é que escolhe o valor da conta. 

Na lista de despesas do Preto Café, entram desde gastos com ingredientes até os salários dos quatro sócios -R$ 3 mil mensais cada por jornada diária de quatro horas. Não há funcionários. 

O modelo é copiado do Curto Café, que funciona no centro do Rio há dois anos. 

Outro exemplo similar é o Instituto Chão, que desde maio reúne uma cafeteria e uma feira de alimentos orgânicos na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo.

Todos os produtos são vendidos a preço de custo. Quem quiser, contribui com mais para manter a estrutura. 

Em seu primeiro mês de atividade, o instituto vendeu R$ 112 mil em produtos, muito além do planejado. 

“Passamos a abrir só de quarta a sábado porque nem a gente, nem nossos fornecedores deram conta da demanda”, conta Fábio Mendes, 30, sócio do empreendimento. 

Apesar do movimento intenso, as contas não fecharam. As despesas giraram em torno dos R$ 40 mil, incluindo R$ 28 mil dos salários dos sete sócios, enquanto as contribuições foram de R$ 23 mil. 

Para Charles Szulcsewski, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), o “pague quanto quiser” serve como estratégia de marketing, mas dificilmente funciona como modelo de negócio porque o público brasileiro é “imaturo”. 

“No primeiro mundo, o cara dá o preço justo. Aqui no Brasil, a tendência é dar um valor mais baixo”, analisa. 

Essa foi a maneira, porém, que a professora Karine Mazarão, 27, achou para entrar no ramo da alimentação. 

Desde março do ano passado, ela promove três jantares semanais ao estilo “pague quanto quiser” em Curitiba, na Solimões 451, um espaço de eventos onde o usuário escolhe quanto quer pagar. 

Mazarão lucra R$1.000 mensais e conta que, em futuro próximo, pretende se sustentar apenas com os eventos. 

Além da Grana

Segundo o consultor Gabiano Nagamatsu, do Sebrae-SP, o modelo sem preços fixos pode dar certo, mas é ainda é um nicho no Brasil. 

“Trata-se de um público restrito e selecionado, que se sensibiliza com a questão de sustentabilidade”, diz. 

Para Francele Cocco, 30, sócia do Preto Café, além de dar dinheiro, o modelo é uma forma de fazer o público questionar seus hábitos de consumo e o movimento de “gourmetização”. 

“No momento em que abrimos nossas contas, você começa a se perguntar por que tem lugar cobrando R$ 10 em um café”, afirma Cocco. 

“Os empresários sempre querem discutir impostos, mas nunca o lucro”, conclui. 

Mendes diz que o Instituto Chão também tem outros objetivos, como ajudar pequenos produtores, mas nem todos entendem a proposta. 

“Gostaria que as pessoas fossem lá por desejarem uma relação de consumo mais justa, a redistribuição de renda, mas tem gente que só vai porque vendemos mais barato.”

Escolha do Freguês

Veja abaixo dicas para quem quer abrir um estabelecimento com preço livre: 

1. Apoio Institucional
Sites como o Unlock permitem que entusiastas contribuam mensalmente com o estabelecimento. 

2. Baixo Custo
Uma estrutura enxuta diminui o risco de um prejuízo grande e ajuda a lidar com a arrecadação variável. 

3. Contas Abertas
Mostrar quanto é gasto ajuda a orientar o cliente sobre quanto pagar pelos produtos ou serviços. 

4. Relacionamento
Bom atendimento influencia no quanto frequentadores deixam de contribuição. 

5. Papelada
Há mais de um caminho para abrir um empresa do tipo; uma consultoria jurídica pode ajudar a decidir o melhor modelo a seguir.

Bruno Fávero e Thiago Amâncio no Caderno Negócios da Folha de S. Paulo.

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.