Ao contrário dos grandes eventos da história da cidade – os grandes comícios, a construção de um viaduto, um novo parque, um novo prefeito – o projeto coletou as oito mil histórias que as pessoas mandaram sobre o seu dia a dia e selecionou as 99 mais significativas.
Trata-se de um daquelas idéias que só saem se conseguirem financiamento coletivo – o tal crowdfunding. Este é o endereço: https://www.facebook.com/vivaSPnoFace/
Algumas delas são inspiradas por caminhadas pela cidade. Como essa, em que a gente acompanha a aventura do Oscar Munhoz, andando aos 8 anos de idade pela várzea do Tamanduateí, por lugares que hoje estão tomados por avenidas, rios canalizados e viadutos. E fica o mistério: afinal, o que será essa tal Ilha dos Sapos?
Escola na Ilha dos Sapos | Oscar Munhoz – Fim do ano de 1936.
Eu, com meus 8 anos de idade, como fazia todos os dias, caminhava pela poeirenta ou barrenta – conforme o tempo – Av. Tereza Cristina, ladeada por grandes terrenos vagos, muitas chácaras de hortaliças e umas poucas casas simples.
Seguia beirando o córrego do Ipiranga, em direção à “2ª Escola Mista da Vila Prudente”,na famosa “Ilha do Sapo”, pequeno bairro situado entre o Rio Tamanduateí e a Av.Presidente Wilson, isolado e ignorado pelas autoridades de então, onde cursava osúltimos dias do meu primeiro ano da escola.
Nome pomposo para uma única sala de aula, nos fundos de um terreno com muitasárvores frutíferas, cujos frutos, muito cobiçados, mas jamais tocados por nós alunos. Talvez pela pouca idade que tínhamos…
Depois de percorrer a Av. Tereza Cristina em quase toda a sua extensão, cruzava ocórrego por uma ponte de madeira e dali em diante seguia pela várzea do RioTamanduateí por mais ou menos 400 metros, entre capoeiras e pequenas lagoas. Estas, formadas pelas chuvas de verão que, com o transbordamento do rio, ficavam abarrotadasde peixes. Quando as águas baixavam era uma festa; moleques e adultos, de peneira ouqualquer outro apetrecho, pegavam muitos peixes, desde os espertos lambarís àsenormes traíras, bagres e outros.
Percorrido este trecho que povoava a imaginação daquele menino de 8 anos, com suascapoeiras, com os pequenos bandos de anús pretos, ticoticos, sanhaços e outros, comsuas lagoas e seus peixes, sapos,pequenos lagartos verdes e uma variedade de insetos,chegava a uma precária passarela de madeira, por onde cruzava o Rio Tamanduateí, chegando à Ilha do Sapo, caminhando por mais 3 quadras até a escola.
***
Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. *Artigo publicado originalmente no blog Caminhadas Urbanas no Estadão.