Giro de bike em Portugal é muito ‘fixe’

Mas não é apenas esse pequeno trecho que atrai os ciclistas. Todo o litoral português, da pontinha sul ao extremo norte faz parte da EuroVelo, rede de rotas europeias destinadas à prática do cicloturismo com diferentes tipos de percursos. A chamada Rota da Costa Atlântica, ou EuroVelo 1, possui mais de 8 mil quilômetros de extensão e se junta a 14 outras rotas que cortam mais de 40 países europeus. Ao todo, são mais de 70 mil quilômetros de ciclovias e pistas voltadas para o ciclismo. O projeto é coordenado pela Federação Europeia de Ciclistas (ECF), em colaboração com as organizações locais (em Portugal, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta).

A parte portuguesa da Eurovelo 1 tem mais de mil quilômetros de extensão, divididos em 18 trechos. Passa por cidades e regiões como Algarve, Percurso da Eurovelo 1 em Portugal. Desde do Algarve até Viana do Castelo. Ciclovia da Floresta. Alentejo, Área Metropolitana de Lisboa, Leiria, Aveiro, Coimbra, Cávado, Área Metropolitana do Porto e Alto Minho. Nas minhas pedaladas por aqui, já fiz parte do trecho 15, que liga Aveiro ao Porto, em um total de pouco mais de 70 km. Este trajeto começa em São Jacinto, praia linda e uma reserva natural, e segue alinhada com a Ria de Aveiro.

Subindo em direção ao norte, a praia seguinte é a de Torreira, com grande extensão de areia bem branquinha. O pedal segue pela estrada que margeia a ria e também acompanha a linha do mar, escondido apenas por dunas e vegetação. Há um trecho em que não há, ainda, pista exclusiva para as bikes e é preciso pedalar pelo acostamento, que traz indicações e orientações em placas para os ciclistas. O projeto para que se conclua esse segmento já está no papel e aguarda as aprovações do governo municipal e das entidades ambientais. Vale uma parada em Torrão do Lameiro, do lado esquerdo, para conhecer uma outra praia, linda e pouco explorada. De bicicleta, cruza-se uma pequena floresta saindo da estrada até desembocar no oceano.

Pouco adiante, já de volta para a estrada, uma pequena praia na ria (Praia do Areinho), do lado direito da pista, pode ser um bom pretexto para ver a vegetação, a fauna local, tomar uma água e recuperar o fôlego. Mais uns giros no pedal e chega-se a Ovar. Na grande rotatória (ou rotunda, como falamos aqui) enfeitada com um moliceiro é hora de decidir: virando à direita, avenida da Régua e centro da cidade; para a esquerda, a praia do Furadouro, de onde é feito o acesso para a estrada que corta a floresta, em um caminho exclusivo para as bicicletas, com passadiços, pontes de madeira e uma vegetação que faz a gente esquecer da vida. A pista vai serpenteando em meio aos grandes pinheiros, paralela ao mar, às vezes mais próxima do oceano, quando até se escuta as ondas, em direção ao norte do país. E, claro, tem que dar uma folga para as pernas nas lindas praias.

Praia da Maceda. Foto: Marcos Freire.

A primeira neste caminho é a de São Pedro de Maceda, ainda dentro do município de Ovar. Mas não espere barraquinhas vendendo água ou alguma estrutura. A praia é vazia e vale mesmo pela beleza e pela paz. Viu o mar, relaxou? Volta ao pedal e a mais uma descoberta pelo caminho, a praia de Cortegaça, esta sim já com alguma estrutura. Depois vem as praias de Esmoriz e de Espinho, em um trajeto com muitas dunas, reservas naturais, passadiços no meio da vegetação, brisa do mar. Há pequenos trechos em que as dunas já invadiram as pistas da bikes e temos que levar a magrela no ombro ou empurra-la. Pouco importa. Acaba sendo uma boa desculpa para curtir a paisagem. Espinho é uma grande cidade e meu ponto final – por enquanto – nas aventuras de bike rumo ao norte de Portugal. Mas a pista segue. Ah, mas se a preguiça bater, dá sempre para colocar a bicicleta no comboio, ops, no trem, e seguir viagem. As bicicletas não pagam passagem nos trens intercidades e cada passageiro pode levar até uma bike, nos vagões devidamente identificados. Só não vale dizer depois que cruzou o país de bicicleta…

Ria de Aveiro. Foto: Marcos Freire.

Mas a EuroVelo 1, ou Rota da Costa Atlântica, é apenas um dos caminhos possíveis para quem quer se aventurar pelo país sobre duas rodas. Há muitas alternativas e o investimento em criar ou adaptar novas rotas tem sido crescente. Em recente anúncio da autoridade de turismo de Portugal, por exemplo, um novo investimento de mais de 4 milhões de euros deve apoiar quatro projetos específicos na região Centro do país. Entre eles, a requalificação da antiga Linha Ferroviária do Vale do Vouga, transformando-a numa Ecopista com uma extensão de 58,6 quilômetros, que atravessa Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Viseu. Também a criação da Ciclovia do Mondego, com uma extensão de 39,9 quilômetros, que pretende ligar a Ecopista do Dão à EuroVelo 1, permitindo a criação de um traçado em circuito fechado que liga Figueira da Foz, Viseu e Aveiro. A Ecopista do Vouga deve ser ligada à do Dão e à do Mondego, criando então um corredor que pode se tornar a maior ecopista contínua da Península Ibérica.

Praia São Jacinto. Foto: Marcos Freire.

E não é só. ​​​Para quem quer ir mais longe e descobrir as pequenas vilas e grandes atrações do país, o Turismo de Portugal disponibiliza​ uma plataforma totalmente dedicada ao cicloturismo, com rotas e dicas das sete regiões turísticas do país (https://www.portuguesetrails.com/pt-pt). O projeto Portuguese Trails é uma ótima maneira de começar a planejar as pedaladas aqui na terrrina. E deixo aqui uma sugestão: a Grande Rota das Aldeias Históricas de Portugal, um traçado circular com cerca de 600 quilômetros, divididos por 12 etapas que iniciam e terminam em cada uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal. Achou muito? Tem sempre o trem para dar uma ajudinha. E sebo nas canelas!

Praia da Torreira. Foto: Marcos Freire.

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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