Carnaval de São Paulo estimula consumo e erra feio na reciclagem

O Carnaval de rua de São Paulo começou na última sexta (17), e terá quase 400 blocos espalhados por vários bairros da cidade até 5 de março. O lixo foi o grande destaque do primeiro fim de semana. Não deveria haver surpresa.

O evento comercial deste ano foi feito para aumentar as vendas de bebidas e sem a responsabilidade compatível dos envolvidos com o que fazer com as embalagens. Que deveriam ser recicladas. Há erros em todas as etapas do processo: vendas, consumo, coleta e destinação. Começando pelas vendas. Segundo dados do site da prefeitura, o número de vendedores ambulantes autorizados mais que dobrou em relação a 2016. Estão autorizados a atuar 8.000 ambulantes este ano e eram 3.775 cadastrados em 2016.

A inscrição foi gratuita e garante que esses vendedores possam comprar produtos da marca patrocinadora por um “preço especial”. Recebem colete, credencial e isopor. Não basta. Deveriam receber sacos de lixo para coletar os descartáveis em alguma estrutura móvel, tipo um carrinho; instrução para manipular o resíduo específico do produto que vendem; orientação sobre os pontos de entrega voluntária (PEVs) mais próximos de onde atuam e informação sobre o planejamento de limpeza do espaço em que trabalham, que é a rua, que é de todos.

Como determina a lei brasileira, o vendedor faz parte da responsabilidade na destinação de resíduos. Nesse caso, vendedores são tanto o agente de venda final, que é o ambulante, quanto a empresa que comercializa para o ambulante.

Seguindo para o consumo. De acordo com a prefeitura, eram esperadas 250 mil pessoas e passaram por esses pontos 750 mil no primeiro fim de semana. Diferente da estimativa da patrocinadora Skol, que, em janeiro, afirmou que tinha expectativa de público de 2 milhões de pessoas no total do Carnaval, baseada talvez no aumento de 60% no número de blocos inscritos.

Passemos para a coleta. Segundo a Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), o planejamento com a reciclagem se resumiu à instalação de 36 pontos de entrega (PEVs) no fim de semana de 18 e 19 de fevereiro. A conta é simples. Se eram esperados 250 mil, planejou-se que cada contêiner fosse visitado por cerca de 7.000 pessoas que nele depositariam as embalagens do que consumiram na festa.

Além de não dar para servir tanta gente por contêiner numa ocasião em que se vende bebida envasada, havia muito mais de 36 pontos de encontro e, portanto, locais de concentração de descarte dessas embalagens. Entre sexta-feira (17) e domingo (19), foram 174 blocos, com 36 desfiles na regional da Sé, 25 em Pinheiros e mais 73 nas zonas leste, sul e norte, de acordo com o site da prefeitura.

Terminando na disposição final dos resíduos: foram montanhas de garrafas pet, latinhas e garrafas de vidro que se acumularam em ilhas nas proximidades dos shows e pontos de dispersão dos blocos. Todos esses materiais são recicláveis e deveriam ser separados e reciclados. Mas foram junto com a varrição, que contabilizou 600 toneladas, para os aterros sanitários que servem a cidade. Se houve, por sorte, alguma reciclagem, foi por iniciativa dos catadores, sem articulação com a administração.

Procurei a Amlurb para saber qual o planejamento da reciclagem após a amostragem do primeiro fim de semana. A assessoria de imprensa afirmou que a autarquia, “após verificar que mais de 90% da varrição é considerado resíduo seco”, desenvolveu um projeto: “dois caminhões de coleta seletiva percorrerão a região de Pinheiros entre esta sexta (24) e a próxima terça (28), e também no fim de semana posterior (4 e 5 de março), para coletar os resíduos recicláveis deixados nas vias públicas pela população durante a passagem dos blocos de rua. Esse material será encaminhado para a Central Mecanizada de Triagem.

***
Por Mara Gama em sua coluna na Folha de S.Paulo.

 

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