Na forma como hoje conhecemos, o Carnaval é uma grande mistura de várias comemorações realizadas desde a Antiguidade por diversas civilizações. Hebreus, egípcios, gregos e romanos dançavam, bebiam e comiam para celebrar colheitas e louvar divindades. Na Roma antiga, currus navalis (algo como ‘carros navais’, carros em forma de navios) levavam homens e mulheres nus durante as ‘Saturnálias’ – festas em exaltação a Saturno que ocorriam durante o solstício de inverno e nas quais as orgias eram desmedidas.
Carnaval em Veneza
Com o surgimento da commedia de l’arte, na Itália do Renascimento, o Carnaval incorporou elementos alegóricos às festividades: apareceram as máscaras, os adereços e os carros decorados (os trionfi), e surgiram ainda as canções compostas especificamente para acompanhar os desfiles.
No Brasil, as primeiras manifestações ‘carnavalescas’ de que se têm notícia remontam ao século XVII e têm origem no entrudo, uma brincadeira tradicional portuguesa (aqui praticada pelos escravos) que consistia em sair às ruas de rosto pintado, jogando farinha e água nas pessoas, sem dança ou fantasia. Com o tempo, foram surgindo cordões, ranchos, festas de salão, corsos, escolas de samba, blocos… e daí, toda a pluralidade de formatos que hoje conhecemos.
São Paulo tem atualmente o segundo maior Carnaval do Brasil – são 4 milhões de pessoas saindo às ruas para acompanhar aproximadamente 870 blocos. Como em tudo nesta cidade, tem bloco para todos os gostos: para quem gosta de sereias, para quem se liga em vampiros, para quem curte o axé, para quem prefere o frevo, para fanáticos por futebol, para os saudosos das marchinhas… gosta de música latina? Tem. Véu e grinalda? Tem. Malabarismo? Rap? Rita Lee? Tem também.
E é justamente nessa pluralidade que reside a grande beleza de nosso Carnaval. Não apenas na explosão de cores, formas, ritmos e fantasias, mas também na explosão da diversidade, do multiculturalismo e do ecletismo que, de maneira sofisticada e única, moldam nossa deselegância discreta e nossa quase indecifrável identidade.
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Valéria Midena, arquiteta por formação, designer por opção e esteta por devoção, escreve quinzenalmente no São Paulo São. Ela é autora e editora do site SobreTodasAsCoisas.