Na economia circular, edifícios são entendidos como bancos de materiais, os quais podem ser reaproveitados para próximos ciclos de uso: seja em outras construções (montagem e desmontagem), em ampliações ou reduções, ou ainda seus materiais podem ser desmembrados e transformados em novos produtos e assumir novos usos.
Apesar de haver um longo caminho para que a indústria produza diversos materiais construtivos que atendam aos valores do design circular, é um processo necessário e urgente de melhoria contínua. O protótipo da Casa Circular é um atelier de 30m², pensado como um ponto de partida para essa direção. O primeiro passo foi a busca de materiais e sistemas disponíveis no mercado que seguissem os critérios apresentados. O edifício foi montado com painéis de woodframe e componentes modulares e pré-fabricados que permitem a customização e seguem os critérios descritos.
“Na maioria das vezes, o que está disponível para viabilizar nossas atividades são sistemas construtivos tradicionais que geram inúmeros impactos negativos ao meio ambiente e sociedade. E alguns questionamentos não saem do nosso pensamento: por que a construção contribui de forma tão agressiva para o esgotamento dos recursos naturais? Por que grande parte dos nossos materiais construtivos são tóxicos? E o que acontece com todo o material utilizado depois do descarte dos resíduos de uma obra e do próprio edifício em si? Além disso, existem outras formas de construir, diferentes da convencional, que aliadas ao planejamento e bom design, podem resultar em edifícios que usam de maneira efetiva os recursos naturais, materiais e financeiros?” – Léa Gejer e Katia Sartorelli Veríssimo.
A máxima iluminação natural e ar fresco foram adotados de forma extensiva. As aberturas verticais (portas e janelas), junto com as zenitais (sheds/tubos de luz no teto), além de proporcionarem luz indireta, também funcionam como um sistema de chaminés para o ar quente, que sobe pela disposição termodinâmica da construção, numa espécie de ar condicionado natural. Dessa forma, a luz artificial só precisa ser utilizada à noite. A água que abastece o ateliê é captada da chuva e o efluente é tratado através de um círculo de bananeira, plantado próximo à construção. A própria bananeira filtra novamente a água, que pode retornar de forma segura ao sistema.
A ideia do projeto é que ele seja “reciclável”, mais que “reciclado”. Ainda assim, há espaço para a reutilização de materiais: a fundação da casa foi feita com pneus usados e brita, e os fechamentos externos são de madeira provindos de outra construção, em que foi usada como fôrma de concreto.
Nesse tipo de construção, o planejamento é essencial para otimização contínua dos recursos envolvidos. Foram 3 meses de desenho e planejamento, 15 dias de pré-produção da construção e 10 dias de montagem in-loco. A construção foi rápida, com clareza de prazos e custo pré-definido, sem produção de lixo e nem necessidade de uso de caçambas. E ainda pode ser desmontada e remontada em outro local.
“Nós sabemos que construir é necessário, além de ser uma oportunidade para gerar impactos positivos. Além disso, a arquitetura que produzimos reflete nosso momento cultural e intelectual como sociedade. – Léa Gejer e Katia Sartorelli Veríssimo.
O projeto é resultado de uma busca constante das arquitetas de propor uma alternativa ao modo de habitar o planeta. O exercício é o de pensar nas construções para além da sua forma e função, e entendê-las como locais que devem ser saudáveis, circulares e efetivos, um caminho para um futuro de abundância e não de escassez.
Montagem da Casa Circular #1: mais informações em https://www.casacircular.com.br/
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Por Romullo Baratto no Arch Daily.