Cid de Cidadania

Conheço o Cid, por isso, excepcionalmente hoje, reservo-me o direito de escrever na primeira pessoa.

Tarefa que não é das mais fáceis, pois há inúmeras e distintas maneiras de abordar a vida de alguém tão admirável, que diariamente confere sentido real à uma palavra que poderia continuar perdida no dicionário, não fosse também por ele: Cidadania.

O jeito mais simples e direto é publicar seu invejável “curriculum vitae”.

Para os leitores que apreciam dados específicos, registrados em cartório, e não apenas baseados na memória falha desse velho escriba, aí vai um resumo:

“Advogado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, com especialização em Direito Empresarial, foi executivo da Lowe & Partners América Latina e diretor de marketing e comunicação corporativa da Starmedia Networks.

Atuou em Brasília como assessor de marketing da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, responsável pelos principais projetos de internet do Governo Federal.

Foi consultor do International Trade Center (ITC), agência de cooperação do sistema ONU, em Genebra, bem como do Sebrae e Sofitex, no Brasil.

Também atuou como conselheiro da Aliança Pró-Modernização Logística do Comércio Exterior, fundou a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, Camara-e.net, e é autor de livros e estudos sobre Internet e tecnologia”.

Isso é o que diz a internet, agora vamos ao que digo eu.

Deve ter sido em 1990.

E foi na casa da gaúcha Carla Pernambuco, que à época a conhecíamos pelo sobrenome de Danesi, pois ainda não era a “superstar” da cozinha que é hoje.

Permito-me sugerir que Carla andava insatisfeita com sua carreira.

Carla estava prestes a descobrir que não nascera para os ambientes limitados dos textos jornalísticos, ela queria mais, desejava a liberdade infinita da criação culinária, da teoria incerta de uma receita escrita de próprio punho, à prática bem sucedida dos pratos que vêm deliciando seus “habitués” no Carlota.

Em seu apartamento, sobre as árvores da Praça Buenos Aires, Carla e seu hospitaleiro marido, o fotógrafo Nando Buco, reuniram um grupo de pessoas tão heterogêneo em suas profissões como em suas origens.

Confesso que não me recordo do motivo para a realização da efeméride.

Lá estavam Luciana e Liliana Baracat, de Garça, ou Gália, nunca sei exatamente de onde são essas meninas, José Simão e seu companheiro, o baiano Antonio Salomão, infelizmente já falecido, Soninha Gonçalves, o escritor Ubiratan Muarrek e um anônimo “cast of thousands”.

Havia gente de todo o Brasil e do mundo, pois se ouvia o castelhano entre alguns grupinhos espalhados pelos cantos. 

Acredito que o Cid tenha vindo com Liliana.

Acredito também que a conexão que o levou até ali deva ter sido a seguinte: Carla que era chefa de Luciana, na Futura Propaganda, ambas assessoras de imprensa na agência, que era irmã de Liliana, que era amiga do Cid e todos moradores do “Bretagne”, como Sidney Haddad que não estava no encontro.

Se me esqueci de muito do que aconteceu nesse jantar, guardei bem guardado na memória minha primeira impressão sobre o Cid: lá estava ele, alto, bonito, em forma, em seus vinte e poucos anos, encostado na mureta do janelão da sala de Carla, ao lado da Liliana. 

A divertida irmã de Luciana fumava, falava, ria, bebia e Cid a acompanhava na alegria inconsequente, mas sem jamais tirar os olhos de “presas” femininas em potencial, distribuídas pelos amplos espaços do imóvel.

Missão, aliás, praticamente impossível, considerando a majoritária composição GLS que caracterizava a festa.

Desde o princípio, Cid me lembrava Hugh Cornwell, o líder da banda inglesa “Stranglers”, em sua versão latina.

Ou portenha, sem dúvida, pois algum tempo mais tarde, Cid começou a passar largas temporadas na Argentina.

Em cada retorno ao Brasil, voltava com alguma novidade relevante: ora era a representação comercial da cerveja Quilmes, ora era uma expressão usada por lá, que ele acrescentou ao vocabulário em português, como “boludo”.

Esse Cid Cidadão, natural da cidade de Mogi das Cruzes, pai de dois filhos, estava indo longe demais.

E continuou indo.

Por longos períodos desaparecia para surgir em um endereço diferente, dessa vez em Brasília, como lemos em seu currículo.

Atleta com o fôlego paciente de um maratonista, e a curiosidade de um investigador científico, pioneiro, Cid foi um dos principais animadores do “comércio eletrônico”, quando esse tipo de atividade econômica engatinhava no país.

Se houvesse um “slogan” para definir Cid, seria o mesmo de Buzz Lightyear: “Para o alto e avante!”

Há cerca de dez anos, essa trajetória retilínea foi interrompida por um evento que faria Cid rever todos os caminhos possíveis que lhe restariam.

O tombo não o parou.

Cid se levantou, erguido pelo músculo mais importante que possuímos, aquele que bombeia sangue para todos os outros: o coração.

Cid transformou-se e transformou sua experiência com a tragédia em um exemplo para todos.

Exemplo de como a vida pode nos trazer surpresas de toda sorte e a única opção que temos é sempre insistir e perseverar.

Reconhecido por sua luta por aqueles direitos humanos que costumamos nos esquecer, foi lembrado pelo Governador Alckmin que o nomeou Secretário Adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo.

Feito repetido pelo prefeito eleito, João Dória, que o “pediu emprestado” para o Governador para que Cid realize no município o que fez para o Estado.

Bom para a cidade, bom para o Estado e bom para o Brasil.

Com Cid entre nós, São Paulo revela sua face mais humana, mais cidadã.

***
Zoca Moraes, é redator de propaganda, roteirista e contador de histórias. Colunista e Conselheiro do São Paulo São.

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