É o caso de Claudio Mendes de Carvalho. Baiano de 42 anos e com aparência de uns dez anos a menos, Claudio conta um pouco de sua experiência com os cachorros, as pessoas e a cidade.
O amor aos cachorros
“Desde pequeno que eu gosto de cães”. Na Bahia, Claudio criava cachorros para ajudar na caça. Eram eles que encontravam os tatus e outros bichos no mato. Em São Paulo desde 1996, passou cinco anos como adestrador, no canil da PM. Ele é, portanto, oficialmente, um adestrador, mas também é um passeador, um andador e ainda hospeda na sua casa os cachorros cujos donos estão viajando.
A caminhada
Seus percursos variam de acordo com o dia. Com até 22 cães, ele organiza a logística para fazer quatro roteiros, por Pinheiros, Vila Madalena, Alto de Pinheiros e Lapa. Ele calcula que faz até 36 km em alguns dias.
Lugares bons de caminhar
Claudio não se aperta muito com os detalhes das calçadas, mas agradece quando encontra percursos planos. As subidas e descidas da Vila Madalena e da Lapa trazem degraus indesejados e aumentam a demanda física.
As pessoas e a cachorrada na rua
A visão de um passeador inspira certa poesia na rua. Algumas pessoas puxam conversa quando vêem o exército de cachorros passando, cada um no seu estilo, numa convivência quase harmoniosa.
Outras ficam de olho para ver se ele recolhe o cocôs das calçadas. Ele diz que nunca deixa de recolher e anda sempre com um estoque de saquinhos de plástico.
Nas travessias de ruas, é comum os carros oferecerem passagem para o comboio canino. “Provavelmente o pessoal pensa mais nos cachorros que nas pessoas”, especula ele, diante da gentileza incomum dos motoristas.
As praças
As praças fazem parte obrigatória do seu roteiro e dão uma chance de jogar “umas bolinhas e uns pauzinhos” para a cachorrada se exercitar – Praça das Corujas, Praça François Belanger e a Praça do Por do Sol são as preferidas. Perguntei se ele costuma dar um descansada quando chega a uma delas: – “Nada disso! não dá para ficar parado, senão o pessoal vai achar que os cachorros não estão sendo exercitados!”.
A caminhada e a cidade
O fim do dia traz um alívio e a possibilidade de um descanso. A atividade profissional o mantém em forma, mas o exercício não é eficiente como uma academia. Basta dar uma volta com um cachorro para notar. Eles andam, param, cheiram uma planta, se interessam por uma embalagem que alguém deixou cair, fazem seu xixi e retomam a marcha apenas quando perdemos a paciência.
Nem imagino como seria conduzir oito ou dez ao mesmo tempo, mas o Claudio sabe e é uma das várias pessoas que andam pelas calçadas da nossa cidade, conduzindo os cachorros que povoam nossas vidas.
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Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. *Artigo publicado originalmente no blog Caminhadas Urbanas do Estadão.