Ela acelerava e freava com delicadeza. Naquelas canaletas estreitas em que os outros motoristas realizam desvios bruscos, nossa calma motorista contornou os buracos com serenidade.
Dentro do ônibus, o clima era inspirado pela tranquilidade da condução. Apesar do horário do rush estar chegando, ninguém parecia estressado. Uma passageira ajeitava a maquiagem. Alguns trocavam palavras gentis com motorista e cobrador ao entrar.
Antes de descer do ônibus perguntei o nome da motorista, Joyce Costa. Depois, comecei a pensar sobre o assunto. Quantas mulheres dirigem ônibus em São Paulo? Será que o comportamento de uma mulher ao volante é diferente do de um homem?
Apenas 2% dos motoristas de ônibus de São Paulo são mulheres
A impressão de que há poucas mulheres dirigindo ônibus foi confirmada numa conversa com a SP Trans, empresa responsável pela gestão do sistema de ônibus de São Paulo. Descobri que, dos 33.368 motoristas em atividade na cidade, apenas 695 são mulheres, ou 2%. Esse percentual se mantém estável nos últimos três anos.
Mulheres envolvem-se em menos acidentes que homens
É claro que há muitos motoristas bons na cidade, homens e mulheres. Mas a maioria esmagadora dos acidentes de trânsito com vítimas envolvem motoristas homens. Segundo o relatório Infosiga 2017, apesar de as mulheres representarem 37% do total de motoristas do Estado de São Paulo, elas estão envolvidas em apenas 8% de todos os acidentes graves.
O ex-secretário de transportes da cidade de São Paulo e atual diretor de mobilidade da WRI, Sergio Avelleda diz que esses indicadores se repetem em outros países.
Ele acredita que mulheres têm uma relação mais pragmática com o veículo motorizado e não uma relação de poder, como os homens. “Se o percentual de mulheres dirigindo fosse maior, o trânsito seria mais seguro”, diz Avelleda.
Os motoristas de ônibus precisam de mais paciência que qualquer outro
Em meio ao trânsito infernal de São Paulo, não basta dirigir bem. É preciso treinamento, paciência e uma lembrança constante de que o sucesso do trabalho de um motorista é justamente levar pessoas em segurança.
É o caso de Joyce Costa, que na semana passada conduziu um veículo da linha 7267 com civilidade e respeito. É bom saber que há um ônibus em que as pessoas não temem freadas e acelerações bruscas e podem conversar, ver mensagens, pensar na vida e até refazer a maquiagem.
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Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. Artigo publicado originalmente no seu blog Caminhadas Urbanas.