Mas sempre tem gente atenta, criativa, tirando o que pode dessa situação. E foram se multiplicando restaurantes baratos e considerados bons. A primeira tentativa foram os food trucks. Não parecem que deram “certo”, pois acabaram sendo, em boa medida, a extensão dos restaurantes estabelecidos para a rua, sem nunca serem uma “comida de rua” stricto sensu. E houve o esforço para fazer do hambúrguer um graaande rango…
E surgiram os estabelecimentos considerados baratos em termos relativos. Não sei se o Jiquitaia foi o primeiro, mas parece que foi concebido para se situar nesse limiar. E a Comedoria Gonzales. No conjunto, o Conceição Discos, o Tan Tan Noodle Bar e alguns outros Izakaya Matzu em conta, o Jesuíno Brilhante, o Capivara, o Komah. Não possuem chefões na cozinha, apenas bons cozinheiros. Não possuem Thermomix na cozinha. Em quase todos, o serviço é quase nada, o cardápio enxuto e variável para que você não enjoe, as opções de bebida são poucas e o ambiente simples-descolado, o pessoal que serve é simpático, a locação improvisada ou despojada. Neles não há “estilo”, no máximo temáticas.
Então, em vez de um efeito puramente saneador, a crise também complexifica o cenário gastronômico. A nova categoria surgida, a partir da criatividade de gente disposta a ousar, vai ganhando cidadania.
A grande imprensa, os guias que sempre correm atrás do prejuízo, que não conseguem ver o novo surgindo, alguma hora pespega uma medalha de “chef revelação” no peito de um desses pioneiros da “nova tendência”, como se cada caso fosse um caso e não uma busca articulada da cidade por novos modos de vida, como se estivesse esperando a agitação histórica decantar para só aproveitar a nata… É o que temos para hoje.