Conheça o Projeto ‘rua completa‘ que vai ser implantado no bairro Cidade Baixa de Porto Alegre

Motivo de polêmica entre moradores e frequentadores em razão do barulho na área dos bares, e ponto frequente de disputa por espaço entre motoristas, ciclistas e pedestres, a João Alfredo, no bairro Cidade Baixa, foi escolhida para se transformar em uma “rua completa” — uma via destinada a receber intervenções no trânsito e no mobiliário urbano com o objetivo de ampliar o espaço para pedestres, reduzir a área destinada aos carros e implantar vegetação e zonas de convívio.

A iniciativa é resultado de uma parceria entre a prefeitura e a ONG WRI Brasil, que está desenvolvendo o projeto Ruas Completas em 11 cidades brasileiras. Um anteprojeto da futura João Alfredo deve ser concluído nos próximos meses, para depois ser apresentado à comunidade e receber eventuais sugestões antes de virar realidade. Uma vez aprovadas em definitivo, as mudanças seriam realizadas de forma progressiva: inicialmente, devem envolver ações de baixo custo, como pintura sobre a pista, melhorias em faixas de segurança, colocação de vegetação e instalação de parklets, para somente depois de um período de análise ocorrerem obras mais significativas.

O WRI Brasil — entidade sem fins lucrativos destinada a pesquisar e aplicar estratégias voltadas às áreas de clima, florestas e cidades — selecionou uma dezena de cidades no país para desenvolver uma “rua completa” em cada uma e disseminar, dessa forma, a adoção de conceitos urbanísticos que valorizam o convívio humano nos espaços públicos. A expressão “ruas completas” tem origem nos Estados Unidos e prevê a transformação de áreas públicas inóspitas em locais mais aprazíveis por meio de ações como a divisão democrática do espaço entre carros, ciclistas, pedestres e usuários de transporte público, da implantação de vegetação e de áreas de convivência. Tudo o que uma rua pode oferecer, daí o nome.

— Nós já vínhamos fazendo um diagnóstico da João Alfredo, quando surgiu a oportunidade de fazer essa parceria com o WRI. É uma rua com muito potencial porque tem espaço de sobra. A intenção é organizá-la à noite e aumentar a frequência de dia, quando há pouco movimento — observa a arquiteta da Equipe de Projetos Viários da EPTC Ana Paula Hoppe Bonini.

No começo de setembro, foi realizado um workshop com técnicos da prefeitura de Porto Alegre, aberto também a representantes de outras cidades próximas, para discutir as diretrizes do projeto. Estavam previstas mais duas reuniões técnicas entre especialistas da Capital e do WRI para definir um desenho inicial da nova — e, se tudo der certo, mais pacífica — João Alfredo.

Medidas em estudo

Estes são alguns dos principais pontos que deverão constar no anteprojeto da João Alfredo.

Trânsito compartilhado com ciclistas

Percebeu-se que a região é muito usada por ciclistas, embora não tenha ciclovia. O plano inclui implantar sinalização para reforçar o alerta de que o trânsito é compartilhado entre carros e bicicletas na via e instalar paraciclos onde os ciclistas possam prender as bikes – hoje, acabam presas em postes sobre a calçada.

Uso da vegetação

Em uma cidade reconhecida pela intensa arborização, a João Alfredo é uma rua praticamente sem árvores nas áreas de passeio. A intenção dos técnicos é implantar vasos e canteiros ao longo da via e, dependendo de orientação técnica da área ambiental do município, árvores.

Instalação de áreas de convívio

Um dos eixos da estratégia de “ruas completas” é estimular a ocupação do espaço público pelas pessoas e o convívio entre elas. Assim, parte do espaço costuma ser destinado para instalação de parklets, mesas e cadeiras, ou até cadeiras de praia, como em uma iniciativa realizada nos EUA.

Foi verificado que as rampas de acessibilidade, quando existem, estão em más condições de conservação. O plano inclui implantar mais rampas e, onde já existem, qualificá-las.

Melhoria nas rampas de acessibilidade

Desenho será apresentado em novembro

Um primeiro esboço do projeto de transformar a Rua João Alfredo uma referência em Porto Alegre, com mais espaço de convivência e mais segurança, deverá ser apresentado em novembro durante um congresso com representantes de outras 10 cidades incluídas no programa Ruas Completas do WRI Brasil.

A ideia, conforme a coordenadora de Mobilidade Ativa do WRI Brasil, Paula Manoela dos Santos, é que os municípios participantes do evento troquem informações e experiências entre si e ajudem a disseminar o conceito de ruas mais seguras e democráticas por meio de mudanças no desenho urbano e melhorias de infraestrutura.

— Queremos que o conceito de ruas completas sirva como uma semente para estimular a ideia de que as cidades devem ser pensadas para as pessoas — diz Paula.

Além de Porto Alegre, participam da iniciativa Recife, Fortaleza, Joinville, Campinas, Juiz de Fora, João Pessoa, Salvador, Niterói, São Paulo e Brasília. São Paulo, que já tinha uma parceria em andamento com o WRI Brasil há mais tempo, apresentou sua primeira via reformulada no domingo passado — a Rua Joel Carlos Borges, no Brooklin, ganhou mais espaço para pedestres e nova sinalização.

O engenheiro da Equipe de Projetos Viários da EPTC Marcos Feder afirma que Porto Alegre pretende apresentar o anteprojeto à comunidade e ouvir sugestões antes de colocá-lo em prática.

— O anteprojeto ficará pronto até novembro, mas antes de termos a versão final vamos contar com a colaboração de diferentes secretarias e, por fim, ouvir a comunidade. Só depois disso ele deve ser implementado, a partir do ano que vem — observa Feder.

Paula afirma que, depois de concluído o projeto executivo de cada rua, o WRI Brasil pode auxiliar a colocar as prefeituras envolvidas em contato com órgãos de financiamento.

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Fonte: Redação Zero Hora e WRI.

 

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