Imaginem a quantidade de gringos circulando pelos pontos turísticos, desfilando de chapéu Panamá e charutões na boca, se encharcando de rum da melhor qualidade, morritos mil e culinária criola – imperdível! Mas esses mesmos gringos devem ter muito cuidado nas praias de nudismo, e logo saberão o porquê.
Exatamente no dia do anúncio do famigerado Plano Collor, eu estava dentro de um avião com destino a Cuba. De férias, queria uma experiência que unisse cultura e mar azul do Caribe. Foi sem dúvida uma viagem especial.
Dividi o quarto com Eleia, na época gerente geral da agência do Banco do Brasil, em Pinheiros. Uma figura adorável com quem ri muito, mas muito mesmo. Feitos os passeios à La Hemingway, eHHHHpor Havana Velha e fizemos de tudo da visita a Bodeguita, fotos na mesa do escritor, muitos goles de morritos (que faziam ao mesmo tempo nuns 15 copos no balcão), ao passeio pelo bairro diplomático à noite, com aquela iluminação amarelada que destacava a arquitetura das belas casas com jardins tropicais, sorvete da Coppélia com cinema ao ar livre, bailei nas praças públicas com os locais bonitons, e também fui ao tradicional show do Tropicana. Após essa intensa programação, tomamos o rumo de Varadero, depois Cayo Largo.
Cayo Largo é lindo! Completamente diferente de Varadero, que além dos hotéis tem casas de veraneio, Cayo Largo, ao menos naquela época, tinha apenas alguns resorts. Aquele mar turquesa é show! Nem bem chegamos, teve um esquema de drinks de boas-vindas e nos unimos a um grupo de jovens italianos divertidíssimos. Estavam tendo aulas de drinks à base de rum e, lógico, enchendo a cara desde cedo. Quando nos aproximamos, o barman perguntou de onde éramos e se podíamos ensinar uma receita do nosso país. Brasil? Foi a vez de dar a aula da caipirinha com rum. Amaram! Já ficamos amigas do grupo e nos pusemos a beber e beber aquelas delícias coloridas que nos apresentavam em copos enfeitados.
Mais que depressa, eles nos convidaram para jantar uma pasta di grano duro, com um molho ótimo e um queijo hummm… especial. Também havia vinho e tudo o que tinham trazido na mala, já avisados que a comida cubana pecava pela falta de condimentos que estavam acostumados.
Cayo Largo tem uma praia de nudismo. Ótimo, vamos lá. Ao chegarmos, havia muitos alemães, holandeses, italianos, todos nus, e nós rapidamente tiramos o biquíni, pusemos na sacola e fomos exibir o bronze brazuca entre os peladões e peladonas. Estávamos caminhando como Deus nos botou no mundo, com nossos amigos italianos, achando tudo muito divertido, quando Eleia começou a falar: – Não, não é visão Marina… Imagine quem vem vindo, um cliente do Banco do Brasil que, na semana passada, esteve horas e horas comigo para um empréstimo. Como vai ficar minha cara ao vê-lo? Ele vem de calção, a mulher, de maiô, e eu, nuuuaaa!…
– Põe os óculos, falei. Faz uma cara simpática, Eleia. Se ele te reconhecer, dá um tchauzinho. Força na peruca e “vamo que vamo”.
E foi assim, nua, dando tchauzinho para o cliente, que minha amiga atravessou a praia – e o Banco do Brasil – se expondo em Cuba, como merecia, impecável, rsss… Depois, rimos muito da situação, foi realmente hilária.
Agora aviso aos hermanos americanos do Norte entusiasmados com a proposta de ir para a terra de Che e Fidel e aos brasileiros loucos por “novidade gringa”: cuidado com as praias de nudismo para não se colocarem numa saia justa como minha amiga Eleia. Com o turismo de massa chegando, fatalmente vocês encontrarão com seu chefe, sua subordinada ou o amigo tímido nas praias de nudismo em Cuba. Por isto, aviso: antes de saírem, tomem um trago de um bom rum da ilha, moços; se aprumem no charuto imperdível; e, depois, simbora bailar no ritmo da salsa, rumba e todos os remelexos que só Cuba tem. Cuba vai lançar foguete/Brasil e também vai lançar… moda. E, como dizia Hemingway: “Faça sempre lúcido o que você disse que faria bêbado. Isso o ensinará a manter sua boca fechada. ”
***
Marina Bueno Cardoso – Jornalista, foi colaboradora da Folha de S.Paulo, Nova, Playboy e 4 Rodas; cronista do Jornal da Tarde entre 1993 e 1995; trabalhou com Comunicação Corporativa .Publicou em 2015 “Petit-Fours na Cracolândia”, com Prefácio de Ignácio de Loyola Brandão pela Editora Patuá.