Mas acontece que nem todas as cidades brasileiras são acariciadas pelo “vai e vem” das ondas e pela quase doce salinidade do mar. Enquanto no meu Nordeste é tudo sobre praia e sol – até mesmo o sertão quer virar mar –, lá no Norte, com licença poética para generalizações, sente-se a brisa úmida das florestas; no Centro-Oeste, as árvores e os arbustos espaçados reservam o bafo quente do cerrado; e no sul, o clima temperado se impõe, na maior parte do ano, com ares geladinhos ou geladões.
Já em São Paulo, nosso ar litorâneo/florestal fica por conta dos metrôs. Ficamos lá, paradinhos na estação, esperando a grande minhoca de metal nos agraciar com 30 segundos de prazer sensorial – que é gostoso para caramba, sério. Tem que viver na (in)sanidade paulistana para saber valorizar esse momento. Aliás, tem muita coisa que só quem mora em SP consegue entender e uma delas é: a alegria de ver a Paulista lotada DE GENTE num domingo.
Esqueça aquela avenida tomada por buzinas estrondosas e passos apressados que vemos durante a semana. Ali, ninguém é alguém; é apenas um estado de espírito que não se pertence, querendo chegar a algum lugar que, provavelmente, nem queira chegar. A semana é sobre isso, as avenidas são sobre isso, e São Paulo é sobre isso. Mas não na Paulista, pelo menos no domingo.
As ruas se fecham e carros são proibidos de entrar, assim como a pressa. Aqui, todo mundo tem que ir devargazinho. Por quê?
Porque têm crianças na rua, aprendendo a andar de bicicleta ou apenas jogadas ao chão, divertindo-se por serem as “donas do asfalto”, como disse uma menininha que passou gritando.
Porque tem gente pulando corda, jogando queimado, peteca, bola ou, simplesmente, conversando sentadas no chão.
Porque tem música boa tocando, bandas desconhecidas procurando ouvidos famintos por melodias de verdade.
Porque tem muito amor na Paulista Aberta. E quando ele aparece, a gente precisa ir devargazinho mesmo para não perder nenhum instante.
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Por Adler Berbert no We Love.