De origem medieval, ela chega discretamente e pode matar. Não se engane

De repente, assim como surgiu do nada, ela some sem se despedir, depois de três a 12 semanas. Só que ela continuará em seu corpo, fortalecida para a segunda fase, a dominação. É quando surgem as manchas vermelhas na pele, na boca, no nariz, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, além de deixar marcas nos órgãos internos.

Haverá, ainda, íngua na região genital, dor de cabeça, dor de garganta, dor muscular, mal estar, febre, falta de apetite, queda de cabelo e perda de peso. Novamente, isso aparece e desaparece, dando-lhe sustos na aparência. Você ficará bem feio ou feia, e pode ter crise de pânico por isso. 

Os escritores Oscar Wilde (1854-1900), James Joyce (1882-1941) e Charles Baudelaire (1821-1967), assim como os compositores Ludwig von Beethoven (1770-1827), Robert Schumann (1810-1856), Franz Schubert (1797-1828), os pintores Van Gogh (1853-1890), Paul Gauguin (1848-1903), Toulouse Lautrec (1864-1901) e, provavelmente, o rei francês Luiz XV (1710-1771), Lenin (1870-1924) e Adolf Hitler (1889-1945) teriam sido vítimas dela, a sífilis.

Esse é o modus operandi da infecção, herança da bactéria Treponema pallidum, que em sua fase terciária pode levar a óbito, além de demência. Sem contar sua forma congênita, transmitida por grávidas a seus bebês, que podem sofrer malformações no sistema nervoso, perder a visão ou a audição e até mesmo morrer.

Em 2010, foram notificados 1.249 casos de sífilis adquirida no Brasil, a que se pega através da relação sexual sem camisinha. Em 2015, apenas cinco anos depois, esses números saltaram para 65.878, um aumento de mais de 5.000%. É uma epidemia, e como se pode notar, pelos anos de vida e morte dos citados acima, é doença quase medieval.

Quase, não. É medieval. Os primeiros relatos datam dos primórdios da Idade Média, entre os séculos V e XV, quando se alastrou pela Europa.  Na época, dizia-se que a infecção era uma vingança da América contra os colonizadores europeus: Cristóvão Colombo teria regressado para o Velho Mundo carregando nas caravelas a bactéria da nova doença.

A penicilina, o antibiótico usado para exterminar a bactéria só foi descoberta em 1928, por isso usava-se mercúrio para combatê-la àquela época. A diminuição de casos no século XX também foi reforçada com a campanha mundial a favor do uso de camisinha como prevenção à aids. Sífilis e aids são apenas 12 das infecções sexualmente transmissíveis (IST) plenamente ativas no Brasil.

As outras dez IST são cancro mole, clamídia/gonorreia, condiloma acuminado (HPV), Doença Inflamatória Pélvica (DIP), donovanose, hepatites virais, herpes, infecção pelo vírus T-linfotrópico humano (HTLV), linfogranuloma venéreo e tricomoníase.

De acordo com o Ministério da Saúde, elas são consideradas IST por serem transmitidas, principalmente, por contato sexual sem o uso de camisinha, com uma pessoa que esteja infectada. Absorvidas pelo organismo através da atuação de quatro tipos de micro-organismos (vírus, fungos, bactérias e protozoários), elas geralmente se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. 

‘Há várias hipóteses sobre o aumento da incidência de IST, não só da sífilis, em todo o mundo. De médicos, como, por exemplo, no caso da IST em questão, o desabastecimento da penicilina benzatina por restrição de matéria-prima para sua produção, a comportamentais.

As gerações Y e Z não viram amigos da mesma geração defiando à sua volta, como era comum nos anos 1980 e até meados dos anos 1990 por causa da expansão da aids, não frequentaram enterros semanais e, hoje, parecem estar a par do sucesso de tratamentos antirretrovirais. 

Por isso, relaxaram na profilaxia e apostam que podem viver bem com qualquer IST, mesmo as mais graves, caso de aids, sífilis, hepatites e herpes. O que, em si, é um erro, já que a disciplina é rigoríssima, onde o menor descuido pode reforçar a atuação do microorganismo e há muitos efeitos colaterais. Na vida profissional, na sala de estar e na cama’.

Informações importantes no site do Ministério da Saúde.

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João Luiz Vieira é jornalista profissional há 30 anos, roteirista de TV, autor de teatro, coordenou os livros Sexo com Todas as Letras (e-galaxia, esgotado) e Kama Sutra Brasileira (Planeta), é sócio-proprietário do site Pau Pra Qualquer Obra, e pós-graduado em Políticas Culturais e Educação Sexual. Escreve quinzenalmente no São Paulo São. Para falar com ele: vieiraluizjoao@gmail.com “Sexo sem Medo.“ é o canal do João no Youtube.

 

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