De acordo com a pesquisa, realizada no Departamento de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o principal argumento dos sambistas para diferenciar os dois sambas estaria nas suas origens e no espaço que obtiveram dentro das cidades. Acredita-se que, em São Paulo, o gênero tenha surgido, em meados da década de 1910, nas festas das colheitas de café, assumindo uma tradição rural negra, carregada dos batuques afro-brasileiros, além do sotaque caipira e um ritmo mais marcado.
Além disso, a alcunha de cidade cosmopolita e fruto do progresso restringiu os espaços informais como reduto do samba, ao contrário do Rio de Janeiro, onde o samba é o símbolo-mor. A valorização do “samba rural” seria, segundo Lígia, uma tentativa de mostrar ao mundo outras facetas da cidade de São Paulo. Relembrando o samba marcadamente negro, rural e popular, os defensores do samba paulista vão na contramão da exaltação do progresso da cidade.
Mudanças
A década de 1970 marca uma série de transformações para o samba paulista. Com a oficialização do Carnaval, em 1968, os antigos cordões e blocos de carnaval são padronizados aos moldes cariocas. Associado à intervenção institucional, há a consolidação da industrialização da cidade de São Paulo. Lugares como o Largo da Banana — onde está atualmente o Memorial da América Latina — conhecidos pelas rodas de samba, são engolidos pelo desenvolvimento paulistano.Há grande repercussão nas composições de samba, que vão, aos poucos, perdendo sua caracterização caipira.
A partir desse marco cronológico, o discurso de diferenciação do samba ganha força, na tentativa de resgatar sua origem e a cultura negra da cidade de São Paulo. Os movimentos atuais de exaltação e preservação da tradição do samba paulista representam uma continuidade da narrativa dos sambistas. No final de 2013, o reconhecimento institucional veio com o tombamento do samba paulistano como patrimônio imaterial de São Paulo.
Para desenvolver a tese, Lígia entrevistou Germano Mathias, Osvaldinho da Cuíca e Mestre Divino, ícones do samba paulista, além de se utilizar de entrevistas cedidas por outros pesquisadores. O doutorado contou com a orientação da professora Maria Inez Machado Borges Pinto, do Departamento de História da FFLCH, e coorientação do professor Carlos Sandroni, da Universdidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Juliana Brocanelli na Agência USP de Notícias.