Dois fotógrafos, dois olhares para o nosso patrimônio arquitetônico e natural

Com o título “Campos Elíseos – História e Imagens”, o livro de Esteves retrata a diversidade arquitetônica de uma São Paulo que nunca vemos: em preto e branco e sem fios de alta tensão, propaganda ou carros no entorno. A obra, foi lançada último no sábado (17), no Espaço Cultural Porto Seguro em São Paulo, com exposição de suas fotografias e fica em cartaz até o dia 3 de junho. 

Já o livro de Edinger, chamado “Machina Mundi – Engrenagens do Mundo”, lançado em novembro último, mostra cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Santos e Cubatão de um ângulo que poucos têm o privilégio de ver: do alto, muito alto, e com um detalhe que deixa o registro mais especial, que é o uso do foco seletivo. Trata­-se de um elemento de composição utilizado para dar ênfase a uma área da imagem ou área em foco, deixando todo o entorno borrado. Ambos os fotógrafos são autores de dezenas de outros livros.

Edificio Racy, projeto do arquiteto Aaron Kogan – Avenida São João, 1588. Foto: Juan Esteves.

Juan Esteves é conhecido por uma obra bastante emblemática em sua carreira: “Capital: São Paulo e seu Patrimônio Arquitetônico”. Agora, neste segundo livro sobre a arquitetura paulistana, ele se juntou ao coordenador editorial Antonio Carlos Suster Abdala para mostrar a beleza dos edifícios de um bairro específico da Capital, que é o Campos Elíseos, que fica na região central, entre a Barra Funda e Bom Retiro. Foi o primeiro bairro planejado da Capital, onde foram construídos centenas de casarões bastados fazendeiros da oligarquia cafeeira.

Palacete Dino Bueno na Rua Guaianases, 1238. Foto: Juan Esteves.Palacete Dino Bueno na Rua Guaianases, 1238. Foto: Juan Esteves.

O livro retrata prédios construídos entre 1880 e 1950, alguns dos quais sofreram com os efeitos do abandono e de restaurações que desfiguraram os projetos originais, Um detalhe que chama atenção, no livro é o tratamento que Esteves fez em cada foto, eliminando o que chama de “ruídos temporais contemporâneos”: barreiras que impedem a visão dos prédios em sua beleza original. Digitalmente, ele retirou tudo o que era estranho às construções (fios, aparelhos de ar condicionado, postes). A opção pelo preto e branco também segue a lógica de fugir das mudanças na pintura.

Palacete Santos Dumont hoje Museu da Energia. Alameda Cleveland, 601. Foto: Juan Esteves.Palacete Santos Dumont hoje Museu da Energia. Alameda Cleveland, 601. Foto: Juan Esteves.

Nascido em Santos, Juan Esteves iniciou seu trabalho como fotógrafo em 1980. Foi editor de fotografia no Jornal Folha de S. Paulo, entre 1986 e 1994, e tem trabalhos publicados em revistas de várias partes do Brasil e do mundo. Conheça o trabalho dele no site http://juanesteves.com.br 

Ilusão de ótica

“Vista assim do alto/ mais parece um céu no chão”, estes versos da canção “Sei Lá Mangueira”, de Paulinho da Viola, ajudam a descrever as fotos em fine art de Claudio Edinger em “Machina Mundi”.

A altura e o fundo desfocado dão a sensação de vermos uma cena de sonho. A realidade ganha outro sentido: edifícios imponentes como o Martinelli, um dos primeiros arranhacéus de São Paulo, parece um prédio de maquete.

Vista da Rodovia dos Imigrantes com a baixada santista e Cubatão ao fundo. Foto: Claudio Edinger.Vista da Rodovia dos Imigrantes com a baixada santista e Cubatão ao fundo. Foto: Claudio Edinger.

Cubatão ganhou duas fotos no livro. São paisagens que parecem de outro planeta, ao mostrarem sua intensa atividade industrial, com suas torres soltando imensas nuvens de fumaça e seus tanques. E a icônica Praça da Independência em Santos, fotografada do alto, lembra uma imagem feita com uma câmera 360 graus.

Edinger conta, que começou fazendo fotos aéreas do Rio de Janeiro, se encantou e passou a sobrevoar São Paulo e outras cidades próximas: “Voei sobre São Paulo, que é espetacular vista de cima. Aí comecei a fotografar em volta. Fui para Aparecida no dia 12 de outubro. Aí resolvi descer a Serra, ver Cubatão. Era um domingo, o dia que soltam muita fumaça no no ar. E estiquei até Santos e Guarujá. Gostei tanto que fui três vezes, uma de drone, sobre a Praça da Independência”.

Praça da Independência em Santos, vista do alto. Foto: Claudio Edinger.Praça da Independência em Santos, vista do alto. Foto: Claudio Edinger.

Edinger expandiu esta pesquisa aérea para Minas Gerais, Amazônia e até Europa. “Cada lugar tem, claro, uma característica própria lá de cima. As fotos aéreas casam muito bem com o foco seletivo que é meu estilo de fotografar”, considera ele, que explica: “Foco seletivo é a maneira como vemos tudo. Ao ler este texto, você foca em cada palavra e desfoca o resto. Eu procuro mostrar ou capturar isso, criando imagens que se assemelham com a forma como vemos o mundo. Por isso, as imagens parecem uma maquete das engrenagens do mundo”.

O fotógrafo também comenta a poética que move o seu trabalho: “Adoro a visão ‘sub specie aeterna’, como diz muito bem o filósofo Wittgenstein, que quer dizer ‘o mundo sob o ponto de vista da eternidade’, onde tudo tem uma relevância relativa, além das contingências, da dualidade do mundo”.

Vale do Anhagabau, no centro de São Paulo. Foto: Claudio Edinger.Vale do Anhagabau, no centro de São Paulo. Foto: Claudio Edinger.

Natural do Rio de Janeiro, Edinger iniciou a carreira em meados de 1970, enquanto estudava Economia na Unversidade Mackenzie, em São Paulo. Em 1975, fotografou o edifício Martinelli, que tinha sido transformado de um luxuoso arranha­céu em uma grande favela.

Com estas fotos, realizou sua primeira exposição, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). No ano seguinte, se mudou para Nova York, onde morou por 20 anos. Trabalhou para revistas como a Time e a Rolling Stone. Uma empreitada curiosa foi morar três anos no mítico Chelsea Hotel, e retratar seus excêntricos habitantes.

Veja as fotos em www.claudioedinger.com O livro “Machina Mundi” pode ser encomendado ao próprio fotógrafo pelo edinger@terra.com.br

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Por Carlota Cafieiro em A Tribuna.  

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