Dona Veridiana: a mulher que escandalizou o conservadorismo da elite cafeeira paulista

Veridiana da Silva Prado. Imagem: Wikimedia Commons.

Durante o período da regência, a garota leu e estudou muito, além de tornar-se poliglota: ela aprendeu inglês, francês e alemão com suas governantas. Os negócios do pai a interessavam muito, o que já revelava desde pequena que Veridiana seria uma mulher poderosa e envolvida na vida intelectual brasileira. 

Quando ela tinha apenas 13 anos de idade, foi forçada em nome dos negócios e do patrimônio da família a se casar com o próprio tio, Martinho da Silva Prado, que era 14 anos mais velho. 

Isso não impediu, porém, que Veridiana mantivesse sua personalidade forte e comandasse a família. Um tempo depois, a relação dela com o tio se desgastou quando uma das filhas deles, Ana Blandina, foi pedida em casamento por Antonio Pereira Pinto Júnior.

Martinho foi contra o casório da filha, enquanto que Veridiana aceitou a proposta. De qualquer modo, o casamento de Ana Blandina ocorreu em março de 1877, causando muitas discussões. 

Imagem de ambiente interna do palacete onde viveu Dona Viridiana cercada de obras de Almeida Junior e Victor Brecheret.. Foto: Sérgio Zeiger.

Como resultado, um divórcio entre Veridiana e Martinho aconteceu em 1878. Embora ambos nunca tenham se separado legalmente, o fato de Dona Veridiana levar uma vida de mulher divorciada foi um escândalo para a elite paulista da época.

Enquanto as fofocas aconteciam, Veridiana decide ir para Paris, de onde volta em 1882. Inspirada na arquitetura francesa, ela inicia a construção de um palacete na chácara que comprara em 1879, no então bairro de Santa Cecília. 

A propriedade foi batizada por Veridiana com o nome de Vila Maria, como forma de homenagear a sua dama de companhia Maria das Dores, que se casou com Antonio Pacheco Chaves, em um matrimônio auxiliado por Veridiana.

Na chácara, a proprietária lançou um salão intelectual onde se encontravam inúmeras personalidades históricas para discutir sobre arte e política. Lá estiveram pessoas como Teodoro Sampaio, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, D.Pedro II e a Princesa Isabel, que elogiou muito o palacete. 

Segundo uma nota publicada no jornal Correio Paulistano de 19 de novembro de 1884, em seu diário, a Princesa Isabel escreveu: “A propriedade de D. Veridiana é lindíssima; casa à francesa, exterior e interior muitíssimo bonitos, de muito bom gosto”. 

O Barão de Iguape ( pai de Veridiana) era amigo pessoal de D.Pedro I. Imagem: Wikimedia Commons.

Segundo o livro Dona Veridiana, de Luiz Felipe Avila,  quando a mulher recebeu D.Pedro II, ela fez questão de colocar todos os seus filhos e netos em fila, desde o porão de sua chácara até a porta principal do palácio, como se seus entes queridos fossem uma família real prestes a receber o monarca. 

A família Prado foi, de fato, um alicerce para a monarquia. O Barão de Iguape ( pai de Veridiana) era amigo pessoal de D.Pedro I. Além disso, o filho primogênito de Veridiana, Antônio Prado, foi ministro do Império em 1887. 

Apesar da família e da própria Veridiana serem monarquistas, em seu palacete, ela mostrava nas rodas de conversa que era contra a escravidão. A mulher continuou defendendo a libertação dos escravos mesmo após a Proclamação da República e chegou a ser presidente  da Sociedade Redentora para libertação dos escravos, formada por senhoras da sociedade.

Veridiana teve empregados de origens étnicas diversas, entre eles, uma jovem negra, que era pianista e com quem a dona só falava em francês. Também havia um índio botocudo e um cocheiro suíço, que levava Veridiana para passear de coche nos fins de tarde. 

O jardim do Palacete de Dona Veridiana era aberto às crianças do bairro, pois ela seguia o exemplo da condessa Penteado. O seu casarão tinha equipamentos muito modernos para a época, como um aparelho telefônico, cuja instalação ocorrera em 1884.

Além disso, o salão era decorado com móveis e peças trazidos de viagens, além de obras de arte finas encomendadas de artistas brasileiros como Almeida Junior e Victor Brecheret.

Antônio Prado, filho primogênito de Veridiana da Silva Prado. Imagem: Wikimedia Commons

O requinte não impedia que Veridiana fosse criticada por manter seu salão cultural. Mulheres da elite paulista criaram até um boato de que seu palacete era um clube masculino, sendo no local vedado o acesso de mulheres. 

Mas isso não passou de uma mentira, fruto de devaneios dos afortunados na cidade. Dona Veridiana continuou mesmo assim se reunindo com intelectuais e administrando fazendas de café. Ela faleceu em seu palacete em 11 de junho de 1910, aos 85 anos, sendo sepultada no cemitério da Consolação. Em seu testamento, deixou dinheiro para instituições de caridade, sobretudo para a Santa Casa de Misericórdia.

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Por Vanessa Santamori no Aventuras da História. Edição: São Paulo São.

Saiba mais sobre o tema por meio das obras:

Dona Veridiana, de Luiz Felipe Avila ( 2004) – https://amzn.to/2Udyb9B
O palacete paulistano: E outras formas urbanas de morar da elite cafeeira, de Maria Cecília Naclério Homem ( 2010) – https://amzn.to/33Ao9nr
Politica Do Cafe Com Leite, de Jose Alfredo Vidigal Pontes ( 2013) – https://amzn.to/2QpnoYV
D.Pedro – A história não contada.: O homem revelado por cartas e documentos inéditos, de Paulo Rezzuti ( 2015) – https://amzn.to/38QtaJq

 

 

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