A versão original leva rosbife, queijos fundidos em banho-maria (queijo prato, estepe, gouda e suíço), tomate fresco e pepino em conserva. Igualzinha a esta foto.
“Na década de 40, com a Segunda Guerra Mundial, acabaram surgindo os embutidos, e os bares ao redor utilizaram o presunto porque era mais fácil o preparo e bem mais barato que o rosbife”, contou Rodrigo Alves de Souza, que comanda as três filiais do bar Ponto Chic junto ao seu pai, José Carlos, e seu avô, Antonio, que adquiriu o estabelecimento em 1978. “O sanduíche é famoso no Brasil inteiro, em várias versões, mas a original é só aqui.”
A curiosidade em torno do bauru não se limita à sua receita original. O sanduíche genuinamente paulistano é cercado de boas histórias. Começando por sua criação.
Em 1937, um radialista e estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), que já era frequentador assíduo do local, pediu ao chapeiro um lanche que ele inventara ao ler um livro sobre alimentação para crianças.
“Era um dia que eu estava com muita fome. Cheguei para o sanduicheiro Carlos e falei: ‘abre um pão francês, tira o miolo e bota um pouco de queijo derretido dentro’. Depois disso o Carlos já ia fechando o pão eu falei: ‘calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso, bota umas fatias de rosbife junto com o queijo'”, disse Casimiro Pinto Neto, conhecido pelos amigos como “Bauru”, sua cidade natal, mais tarde em entrevista aos jornais da época. “Já ia fechando de novo quando eu tornei a falar: ‘falta a vitamina, bota ai umas fatias de tomate'”.
Quando o “Bauru” foi comer seu lanche, seu colega de faculdade, o “Quico” pegou um pedaço e gostou. “Aí ele gritou para o garçom, que era um russo chamado Alex: ‘me vê um desse do ‘Bauru'”.
Sem celular, redes sociais e aplicativos de bate-papo, o que fez o “lanche do Bauru” ganhar fama foi o bom e velho “boca a boca”. “Como o Bauru era um estudante bem popular, um cara agregador, logo seus colegas ficaram sabendo do lanche e começaram a pedir também”, disse Rodrigo. “O então proprietário Odílio Cecchini decidiu colocar o sanduíche “Bauru” no cardápio praticamente de imediato”.
Nesta época, o bar já era um dos mais tradicionais de São Paulo e ponto certo dos estudantes da faculdade e celebridades como Mario de Andrade, Anita Malfatti e Monteiro Lobato. Inaugurado em 1922, o bar foi apelidado pelos próprios clientes, que marcavam de se encontrar no “Ponto Chic” — o Largo do Paissandu, na época, era um dos locais mais nobres da cidade de São Paulo.
A fama do “bauru” foi crescendo e outros bares fizeram suas versões do sanduíche. Os estudantes vindos de outras cidades do Brasil também ajudaram na propagação do quitute paulistano. “Durante décadas, os alunos da faculdade de Direito levaram essa receita do Bauru para suas cidades. Tornou o sanduíche famoso até no Acre.”
Casimiro morreu em 2 de dezembro de 1983, em consequência de problemas de saúde. Mas nunca foi esquecido no estabelecimento que tornou seu sanduíche o carro-chefe da casa. No ano em que ele completaria 100 anos, dia 05 de abril de 2014, Antonio, José Carlos e Rodrigo o homenagearam com o busto de “sua excelência, o ‘Bauru'”.
Mais de 80 anos depois, o Ponto Chic vende cerca de 13 mil baurus todos os meses nas três filiais (Paissandu, Perdizes e Paraíso). Por ano, são mais de 150 mil sanduíches que levam o apelido de seu criador.
“A gente até fala que o nosso bauru é representante da culinária paulista, assim como o acarajé é da baiana. É um sanduíche que tem a nossa cultura, nos representa.“
Mais informações, acesse o site do estabelecimento.
***
Por Luiza Belloni no Huff Post Brasil.