E os velhinhos ficam no meio do caminho… Estudo comprova: os sinais de pedestres fecham antes da hora

Um estudo publicado recentemente por pesquisadores da USP* demonstra porque isso acontece: os semáforos são regulados para quem anda a 1,2 metros por segundo. Só que grande parte das pessoas anda a menos de 1,0 metro por segundo. Parece pouco, mas em 10 segundos, isso significa uma diferença de dois metros, o suficiente para alguém não conseguir atravessar a faixa de pedestres no tempo previsto.

Conversamos com uma das autoras, a pesquisadora Etienne Duim, doutoranda na Faculdade de Saúde Pública sobre o artigo e as principais implicações da pesquisa:

Os semáforos de São Paulo estão regulados para uma média de velocidade das pessoas – 1,2 metros por segundo – mas muita gente anda mais devagar. O estudo mediu a velocidade das pessoas de mais de 60 anos e o resultado é claro: idosos vão ficar para trás na hora de atravessar.

Os grupos que mais sofrem são os idosos, mas é fácil pensar em gente que precisa de mais tempo para atravessar: pessoas com dificuldade de locomoção ou com pouca força muscular, pessoas acompanhadas de crianças, gestantes, e pessoas carregadas de compras ou carrinhos de bebê.

O problema é maior quando pensamos no tempo de reação. Quando o sinal abre, idosos demoram um pouco mais para começar a andar e há um tempo maior para chegar à velocidade de caminhada normal. Falando em reações psicológicas, o homenzinho vermelho piscante dos sinais que agora parece ter sido programado pela CET para aparecer mais cedo pode gerar mais stress. “A alteração proposta pela CET não parece ser benéfica. O alerta apenas informa a pessoa idosa que ela não está conseguindo e que possivelmente não dará conta de finalizar o percurso em segurança”, diz Etienne.

A CET utiliza uma velocidade média de pedestres que está sendo reavaliada em muitos países. Vários países estão reavaliando seus parâmetros. A Inglaterra fez um estudo similar ao brasileiro e resolveu aumentar em 3 segundos o tempo nos semáforos de pedestres. Barcelona e Valência foram mais radicais e adotaram um tempo de travessia pautado em uma velocidade de 0,9 metros por segundo (em São Paulo a regulamentação prevê uma velocidade de 1,2 metros por segundo). Nova York, por exemplo, também adotou o padrão de velocidade de 1,1 m/s.

As ilhas no meio das avenidas largas podem ajudar a dar segurança, mas muitas vezes obrigam o pedestre a fazer uma escala adicional. Ao mesmo tempo que possibilitam uma pausa relativamente segura para o pedestre que não conseguiu finalizar o percurso, elas abrem precedentes para regularização que obrigam o pedestre a fazer escala na travessia. O que em dias de chuva ou de muito calor podem ser um fator de exposição extra, lembrando que a exposição incide de maneira diferente e menos agressiva sobre os veículos.

Etienne optou por usar cada vez mais a caminhada como complemento ao transporte público. “Esta escolha me faz ver pessoas diferentes, posso admirar o céu, a lua… Sorrir ao invés de buzinar. É uma satisfação saber mais das receitas caseiras da cobradora do ônibus e perguntar sobre a rodada de futebol para o dono da banca de jornal. Assim, preservo em mim as delícias do interior, da minha cidade paranaense: Londrina, e espero poder fazer a diferença na vida das pessoas que me rodeiam. “

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*O artigo “Walking speed of older people and the pedestrian crossing time”foi publicado no Journal of Transport & Health, e teve como autores: Etienne Duim (doutoranda na Faculdade de Saúde Pública), Maria Lúcia Lebrão (coordenadora do Estudo SABE, que faleceu em julho de 2016) e José Leopoldo Ferreira Antunes.

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Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. Artigo publicado originalmente no blog Caminhadas Urbanas do Estadão.

 

 

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