Empresa estampa rostos e nomes de garis em caminhões de lixo de São Paulo

Uma ação que começou nesta segunda-feira (1º) em São Paulo pretende reverter isso e aproximar esses homens e mulheres da população.

No Dia do Trabalho, 220 funcionários passaram a ter seus nomes e rostos estampados em 30 caminhões de lixo que circulam pelas zonas central, norte e oeste da capital. Eles passam por bairros de 13 prefeituras regionais, como Sé, Lapa, Mooca, Pinheiros, Santana e Brasilândia.

Os veículos são da Loga, uma das duas empresas responsáveis pela coleta, tratamento e destinação de resíduos em São Paulo. Ela atua nessas três regiões, enquanto a EcoUrbis trabalha nas zonas sul e leste.

“O cara que coleta o lixo é um agente ambiental, tem um papel fundamental na nossa vida. Então a intenção primeiro é provocar a sociedade, fazendo ela ver esses homens que ‘não existem’. Em segundo lugar, fazer com que eles mesmos reconheçam seu trabalho”, diz Marcelo Gomes, diretor-presidente da Loga.

Kelly S. Nascimentoo. Foto: Pablo de Sousa.Os caminhões enfeitados com as artes em estêncil, desenvolvidas por uma equipe de grafiteiros, representam 11% da frota da companhia, de 261 veículos. Foram contemplados 14% dos funcionários (de um total de 1.566) nesta primeira etapa. A ideia é aplicar as fotos em mais caminhões, mas a Loga não tem um prazo para isso.

Uma das colaboradoras que pode ter seu rosto reconhecido nas ruas do centro é Kelly de Souza Nascimento, 50, a única mulher entre os 410 motoristas da empresa. Ela trabalha lá há oito anos, sete deles com a mesma equipe, de três coletores –a foto de todos eles estará no caminhão que conduzem diariamente.

“Gosto muito de dirigir e gosto da rotina. Se você está há muito tempo na mesma região, acaba conhecendo as pessoas”, diz Kelly.

Com o salário da coleta, ela conseguiu comprar uma casa em Francisco Morato, na Grande SP, há dois anos (os motoristas ganham, em média, R$ 2.200). “Me deram a oportunidade e eu soube usar”, afirma ela, que trabalha no turno da noite, das 18h às 2h.

O pernambucano José Genilson Silva, 36, acorda às 4h para fazer o expediente das 6h às 15h na coleta seletiva. “Faço com o maior prazer porque é de onde eu tiro meu sustento. Estou conseguindo pagar minha dívida, dar o leite para o meu menino [Gabriel, de 3 anos], resolver meus problemas”, conta, com sotaque ainda forte.

Nascido em Betânia (PE), ele veio para São Paulo passear com a família aos 14 anos e acabou ficando. Estudou até a 8ª série e começou a trabalhar aos 18. Foi eletricista, porteiro e vigilante. Agora está há dois anos e quatro meses na Loga, onde o salário de coletor gira em torno de R$ 1.380.

Caminhões de lixo de São Paulo são estampados com o rosto e o nome dos coletores. Foto: Eduardo Anizelli / Folhapress.

Todos os funcionários trabalham de segunda a sábado, no turno da manhã ou da noite. São divididos entre as coletas domiciliar, seletiva e de serviços de saúde.

Normalmente, eles percorrem mais de dez quilômetros por dia, recolhendo 6.000 toneladas de lixo, em 1,6 milhão de domicílios e 16 mil estabelecimentos de saúde –segundo a empresa, cada brasileiro gera em média 1,4 quilo de resíduos diariamente.

Com tanto lixo, é fácil esquecer os cuidados com vidros e outros itens perigosos. Kelly e Genilson, porém, deixam um recado. “Muitos dos nossos colegas têm se machucado porque as pessoas não embalam os objetos cortantes”, afirma ela.

Ele recomenda separar e identificar as coisas que podem furar. “É só colocar em caixas e escrever o nome lá: ‘cuidado vidro’.” 

***
Por Júlia Barbon na Folha de S.Paulo.

 

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