Feministas atravessam cidade por aluna de escola pública

Barragem é o bairro mais extremo da capital paulistana, a 48 quilômetros do centro. Apenas uma linha de ônibus, com o sugestivo nome de Terminal Parelheiros, chega ao local que ainda não tem nem imagem disponível no Google Street View.

Um simples pedido de uma aluna, no entanto, fez três voluntárias ignorarem o distanciamento e irem até a única escola do bairro.

Jéssica Rodrigues, 16 anos, assumiu a presidência do primeiro grêmio oficial da Escola Estadual Joaquim Alvarez Cruz. Uma das bandeiras da chapa, só de mulheres, era o combate ao machismo e ao racismo. E ela encontrou uma forma de trazer a pauta para a escola em apenas duas semanas.

Por indicação de uma amiga nas redes sociais, ela encontrou o site Quero na Escola, canal para qualquer aluno de escola pública pedir o que quiser aprender além do currículo obrigatório. Em meio a outros pedidos como fotografia, cerâmica e quadrinhos, fez o seu: uma palestra contra racismo e machismo.

No mesmo dia em que a solicitação apareceu no site, usuários começaram a marcar pessoas com engajamento nos temas e três voluntárias se cadastraram. Uma delas, a jornalista Marcella Chatier, avisou que não ia sozinha. “Estamos organizando um bonde para atender a aluna”.

A organização do site conversou com a direção da escola para saber se a palestra poderia ocorrer na instituição ou se teria de ser em outro lugar. Com a intermediação do grêmio, a escola não apenas aceitou receber as visitas, como liberou todos os alunos e professores do período noturno para assistir.

Na quarta-feira passada, as feministas Marcella e Martha Lopes, jornalistas sócias na empresa de curadoria criativa Cobogó, e a presidente da ONG de empoderamento feminino Casa de Lua, Vanessa Rodrigues, saíram da Vila Madalena às 16h55 para a missão. Chegaram pontualmente às 19h na escola.

Os rostos desconhecidos foram logo reconhecidos pelos alunos. “Chegaram as palestrantes”, gritou um rapaz pela grade para que o portão fosse aberto. Jéssica e as demais integrantes do grêmio receberam as voluntárias, seguidas pela coordenadora pedagógica do período noturno, Benedita Pereira Martins.

Escolhido o espaço do pátio, as alunas avisaram nas salas e um a um 170 alunos trouxeram suas cadeiras e se enfileiraram em frente ao palco. Nove professores ficaram de pé nos fundos ou na lateral.

Foi tanta gente, que fez falta um microfone. “A gente tem, mas alguém esqueceu a bateria dentro e oxidou”, disse a coordenadora. Durante todo o ano o equipamento não havia sido usado.


Chegada das feministas na escola estadual Joaquim Alvarez Cruz.
 

A palestra incluiu vídeos de campanhas por igualdade de gênero, falou de diferença de acesso à educação e ao esporte, de direito a sexualidade, gravidez, da necessidade de gênero aparecer nos planos educacionais e de racismo. Quando iam encerrar, umas das meninas tomou coragem e falou que queriam abordar o Top 10, bullying comum na periferia de São Paulo que também ocorreu naquela escola.

Vanessa Rodrigues, usou um tom de voz mais elevado para repudiar a agressão. “Isso pode acabar com a vida de uma menina ou deixar marcas muito sérias”. Diante das voluntárias, as jovens tomaram coragem e impressionaram as feministas experientes.

comentou Martha. “Queremos voltar e falar mais vezes com elas, foi muito enriquecedor e pode ser ainda mais em grupos menores”, completou Marcella.

Jéssica contou que se organiza com outras mulheres na luta contra o machismo na região. A família dela sofre com a questão desde que a irmã era adolescente e sofreu um bullying que venceram com a família unida. “Não é um assunto fácil de abordar, vocês aqui dão muita força para a gente seguir firme”, agradeceu.

Saiba mais:
www.queronaescola.com.br

 – Carta na Escola.

 

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