Gente de todo o mundo continua indo para Portugal. Até mesmo os portugueses…

A notícia é boa, claro, mas não chega a criar um clima de euforia. Isto porque a volta não se dá tanto pelos atrativos portugueses, mas principalmente pela falta de atrativos nos países que vinham recebendo os emigrantes. Ou seja, não é que está tão bom aqui (calma, está bom sim…) É que lá (e um bom exemplo deste “lá” é o Reino Unido, principal destino dos portugueses, e o efeito Brexit) ficou pior do ponto de vista econômico e da geração de empregos. De qualquer forma, programas do governo português, como o Regressar, dão um incentivo a mais para aqueles que querem vir de volta pra casa.

Lançado em meados de 2019, o Programa Regressar recebeu em cerca de seis meses uma média de quatro candidatos por dia, a grande maioria de pessoas que saíram de Portugal entre 2011 e 2015. Os interessados buscam se beneficiar dos apoios financeiros dados pelo governo e de outros incentivos. A maior parte deles está no Reino Unido, na França e na Suíça. E quase 10% da turma que pede para voltar está no Brasil. Nas minhas conversas com as pessoas da pequena cidade onde moro, porém, os discursos contrariam a tendência. Talvez por realmente ser uma cidade pequena, com poucas opções de crescimento e desenvolvimento profissional, me deparo com frequência com gente que fala que os filhos querem mesmo é trabalhar na Alemanha ou, quem diria, no Brasil (aviso ou não aviso sobre as taxas de desemprego no Brasil, a crescente informalidade e essa história de abstinência…?). Meus colegas taxistas, com quem engato boas conversas, têm filhos na Suíça e na França, principalmente. Mas tem também os angolanos, os moçambicanos e outros que, embora portugueses de nascimento, já viveram muitos anos no Brasil e lembram com um certo saudosismo de um Brasil que não existe mais. 

Já há mais de 18 mil enfermeiros portugueses vivendo no exterior, segundo entidades da categoria. Foto: Público.

Quem também parece estar mais com um pé fora do país do que dentro é a classe dos enfermeiros. De acordo com os dados da Ordem da categoria, mais de 4500 deles pediram o certificado de equivalência para trabalhar no estrangeiro no ano passado, com o objetivo de buscar oportunidades nos mercados do Reino Unido, França e Espanha. Até mesmo os Emirados Árabes surgem como opção para os enfermeiros portugueses. Ainda segundo a entidade da classe, já há mais de 18 mil profissionais vivendo no exterior, número impressionante quando se confronta com o mercado interno português que, estima-se, tem a falta de pelo menos 30 mil enfermeiros.

Enfermeiros à parte, pesquisa recém divulgada pela consultoria de recrutamento Hays Portugal ajuda a entender porque o saldo tem sido positivo nos últimos dois anos: 35% dos profissionais no universo pesquisado declararam querer deixar o país, contra uma média de 75% entre os anos 2010 e 2016. As áreas que ainda atraem os olhares dos portugueses no estrangeiro são o varejo e os setores bancários e de seguros, principalmente. Curiosamente, também a área de turismo tem sido uma para qual os portugueses buscam oportunidades fora do país. No geral, porém, o mesmo levantamento também mostrou que, além de ter menos gente propensa a sair, 85% dos que já foram pretendem voltar nos próximos dois anos. 

Os brasileiros formam a maior comunidade de imigrantes em Portugal, 43% a mais do que em 2018. Foto: Keystone.

Mas esse vai e vem não é só de portugueses saindo e entrando no Reino Unido, França, Espanha e Suíça. Nós acabamos de bater o recorde de brasileiros a viver em Portugal: já somos mais de 150 mil por aqui, a maior comunidade de imigrantes em Portugal, 43% a mais do que em 2018. Por outro lado, também somos os recordistas em pedidos de ajuda para retornar ao Brasil, em um programa da Organização Internacional para Migrações, que oferece apoio financeiro para apoiar o regresso voluntário de imigrantes. No ano passado, o orçamento do programa foi de um milhão de euros. Ainda assim, o saldo de brazuquinhas por aqui é bastante positivo.

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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