Com idealização e curadoria da produtora cultural Elo3, empresa que realiza o evento desde sua primeira edição, a mostra alia uma proposta inovadora de interação do público em geral com a arte e proporciona total liberdade criativa na concepção das obras, que utilizam o espaço público como ambiente de expressão. “Neste ano, os trabalhos permeiam a ideia da arte apontando para uma convivência baseada no respeito e na fruição do espaço público enquanto ativador de sentidos e consciência cidadã”, explica Fernanda Del Guerra, sócia e diretora da Elo3.
Totalmente gratuito, o evento vai ao encontro do propósito dessa política pública de fomento e distribuição de arte e cultura, visando justamente refletir sobre tolerância, interação social e transformação do espaço público em espaço de convivência. Já o Largo da Batata, localizado na zona oeste da capital, pertence a uma área revitalizada que integra o esforço da sociedade civil para transformar a cidade em um espaço de convívio e ocupação por parte da população. Com circulação diária de aproximadamente 150 mil pessoas, o espaço, que recebe a mostra pelo segundo ano consecutivo, tornou-se um símbolo de resistência pública abrigando ocupações, manifestações políticas, blocos de Carnaval e atividades de lazer e entretenimento cotidiano de paulistanos de todas as idades e classes sociais.
Dentro desta linha ideológica, a instalação “Parque”, do artista Eduardo Coimbra, prevê a criação de um espaço de lazer para uso comunitário dos frequentadores e passantes do Largo da Batata, com uma grande extensão de piso em pedra e concreto. Na obra, um plano de grama é um símbolo da paisagem natural domesticada. É um elemento vivo que oferece conforto tátil e térmico, sendo suporte para brincadeiras, exercícios físicos, piqueniques e repouso. A criação de Coimbra proporciona uma experiência aos usuários que suaviza a sensação de aridez do solo urbano construído e oferece ao público o contato com um gramado visualmente infinito instalado sobre o piso da praça.
Uma instalação composta por uma fonte de água constitui o projeto “Metro Cúbico” d´O Grupo Inteiro. Formado pelos artistas Carol Tonetti, Cláudio Bueno, Ligia Nobre e Vitor Cesar, o grupo busca manter diálogos públicos através de suas proposições estético-políticas.
A obra criada para a Mostra 3M de Arte resgata a ideia da disponibilidade da água como bem público, enquanto revela uma espécie de contradição da água como commodity, como mercadoria e como especulação, como um fator que influência em decisões políticas. Assim, a obra debate a água como assunto político na cidade, abordando oferta versus escassez, mercadoria versus bem público.
“Metro Cúbico” reflete sobre a condição histórica de ter água acessível em praça pública. Abastecido por caminhão pipa (serão utilizados cerca de 2 mil litros a cada cinco dias de exposição), o projeto, que propõe um ponto de convivência social, com seu entorno que possibilita sentar-se ou fazer manobras de skate, também inspira a relação da interação social com os monumentos (a instalação atinge 3,5 metros de altura em seu ponto mais alto), o imaginário político e estético da cidade e a memória afetiva social.
Já a artista Raquel Kogan integra em seu trabalho os múltiplos usos e sonoridades do Largo da Batata para criar “Falante”, uma instalação interativa sonora com o espaço público por meio de um grande telefone sem fio. Feito de tubos de aço, a obra não só transmite som de uma extremidade à outra, mas também o amplifica através de megafones a todos que estiverem passando por perto. “Falante é uma obra quieta e muda que só funciona se alguém falar com ela, propagando esta onda sonora tanto pelos canos como ao espaço público pelos megafones. A obra ganha significado a partir da interação do público com ela”, conta Raquel.
Com “Miração”, os artistas Marcos Muzi e Rafael Cotait convidam o público a repensar o olhar sobre a sociedade (o coletivo), o outro (compartilhado com outra pessoa) e nós mesmos (individual) por meio de uma instalação em três pilares. “O projeto pretende estimular uma reflexão sobre a autoimagem, essa busca por selfies, que pode esconder ao invés de revelar.”, analisa Muzi. A dupla atua em parceria há quase uma década criando obras de interatividade com elementos de ilusão ótica, estereoscopia (imagens tridimensionais) e anamorfose (imagens distorcidas vistas a partir de um ângulo ou reflexos em espelhos que se reconstituem).
Em MIRA-NOS, símbolos, imagens e informações transformam-se, fundem-se e modificam-se quando observados a partir de pontos de vista diferentes. Os “caleidoscubos” (cubos de acrílico, elementos de imagem e lâmpadas de LED vistos a partir de espelhos) entregam sensações ao observador de acordo com seu movimento. Aqui, a compreensão do coletivo dá-se de forma individual, pois cada ponto de vista, cada luz específica, traz uma informação diferente.
Já em MIRO-TE, o observador é estimulado a olhar-se no espelho e a resposta é uma surpresa. Como experiência individual, MIRO-ME é um periscópio composto de quatro espelhos no qual o espectador observa-se em um espelho mas sua imagem refletida não é a esperada. “O ganho dessa experiência está na surpresa, no inesperado, no susto”, avalia o artista.
Um muro branco de 12 metros de comprimento e um pequeno triângulo, ambos de concreto, são justapostos em “Contraforte”, trabalho que Estela Sokol apresenta nesta edição da Mostra 3M de Arte (foto de abertura acima). Com nome emprestado do vocabulário da arquitetura e combinando com seu significado, a obra se constrói por aquilo que se faz apenas estruturalmente necessário – duas formas que, juntas, se mantém em pé – e propõem diálogo com a praça pelo mínimo, pelo que pode haver de silencioso ali, espelhando medidas e faturas de outras formas e objetos vizinhos, indicando semelhanças e repetições de eixos e presenças.
No entanto, diferente dos contrafortes da história, o que este protege é uma pequena superfície triangular pintada de amarelo luminoso, uma ideia de cor-luz, que revelará diferentes nuances de acordo com os deslocamento do sol e do espectador. Em diálogo aberto com a cidade, o trabalho assim como um muro, estão silenciosamente sujeitos a intervenções que possam se dar durante sua estada no local.
A selecionada do Edital
Com uma mensagem de resistência que se evidencia na escuridão, Regina Parra, a grande vencedora do edital da 8ª Mostra 3M de Arte, assina a obra “É Preciso Continuar”, baseada no livro de Samuel Beckett “O Inominável”. O projeto é constituído por um letreiro luminoso colorido de grandes dimensões que manifesta a ideia da artista de que “se entendermos que a sociedade é construída e imaginada, também podemos acreditar que ela pode ser reconstruída e reimaginada”.
Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel em Artes Visuais pela Faap, a artista realizou exposições individuais na Galeria Millan (SP), Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo, Galeria Leme (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Paço das Artes (SP), além de diversas coletivas nacionais e internacionais. Sua obra faz parte do acervo de instituições como Pinacoteca de São Paulo, Instituto Figueiredo Ferraz e VideoBrasil.
Em um momento de transformações urbanas e digitais dentro da sociedade, a Mostra 3M de Arte compreende a importância de estar em espaços democráticos para a exibição e interação do público com a arte como um agente de diversidade e modificação do espaço social. A oportunidade de ter uma obra exposta na mostra consiste na valorização artística do trabalho pertencente a um projeto já estabelecido que é realizado há oito anos e já apresentou renomados artistas nacionais e internacionais, como Guto Lacaz, Giselle Beiguelman, Paulo Bruscky, Nicola Constantino e Bill Viola.
O evento conta ainda com o espaço container.art – que nesta edição da mostra está configurado como um estúdio de arte – oferece oficinas gratuitas destinadas ao público com temas conectados a ciência e arte, coordenadas pela arte educadora Vera Barros, todos os dias, das 8h às 20h.
Vera implantou o Departamento Educativo do Museu de Arte Moderna de São Paulo – o Educativo MAM – São Paulo, entre 1997 e 2005, colaborou como consultora para a Escola São Paulo na conceituação e produção de sua programação em 2007 e desenhou e executou projetos educativos, formação de equipes para instituições culturais e museus, formação de professores, seminários e palestras sobre arte educação, além de pesquisa, elaboração de textos e projetos gráficos em várias cidades do Brasil e nos Estados Unidos.
Além das oficinas, Vera coordena as visitas guiadas e as informações sobre as obras, artistas e oficinas do container.art, que estarão presentes no site da mostra em um catálogo digital, disponível a partir da abertura. Na grade de atividades, destaque para as oficinas “Máscaras Faciais”, “Jornalista por um Dia”, “O Outro no Espelho” e “Telefone de Lata”.
Serviço
8ª Mostra 3M de Arte.
De 15 de setembro a 14 de outubro de 2018.
Largo da Batata, Pinheiros – São Paulo.
Gratuito.
Container.art – ações educativas orientadas todos os dias, das 8h às 20h.
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Com informações da Agência Lema.