Grupo de Planejamento divulga estudo sobre o assédio no mercado de comunicação de São Paulo

O Grupo de Planejamento (GP) é uma entidade sem fins lucrativos que tem como papel central promover e desenvolver a disciplina de Planejamento e a profissão de Planejador no Brasil. Nasceu em 2002 a partir de um grupo informal de planejadores interessados em trocar idéias e buscar a valorização do planejamento como disciplina. 

O estudo “Hostilidade, silêncio e omissão: o retrato do assédio no mercado de comunicação de São Paulo”, realizado pelo GP em parceria com o Instituto Qualibest teve 1.400 respondentes – a amostra principal é de profissionais de agências, mas inclui também produtoras e veículos de comunicação.

Para a pesquisa, foi disponibilizado um formulário online para os profissionais de comunicação responderem entre os dias 10 e 30 de outubro. 1400 profissionais responderam à pesquisa, sendo 68% mulheres e 32% homens.

Como resultados principais, foi revelado que 99% dos profissionais já presenciaram situações de assédio moral e 97% de assédio sexual. 90% das mulheres afirmam já ter passado por uma situação de assédio sexual ou moral. Já entre os homens esse a porcentagem é de 76%.

A pesquisa completa pode ser conferida no link.

Principais aprendizados

Imagem: Reprodução. – Índice de assédio total aferido no mercado de comunicação — 90% para mulheres e 76% para homens– está bem acima de estudo similar realizado com o mercado geral, que apontou 52%. Já a percepção de que ocorre assédio na categoria é generalizada, de quase 100%.

– A percepção sobre a existência de assédio moral no trabalho atinge homens e mulheres de forma equivalente: 89% das mulheres e 85% dos homens afirmam que o assédio moral ocorre frequentemente no ambiente de trabalho.

– Sobre o assédio sexual, 67% das mulheres e 52% dos homens afirmam que ele ocorre frequentemente no ambiente de trabalho.

– Os resultados mostram a existência de um ciclo de repetição da hostilidade — que definitivamente não nasceu hoje, mas, sim, foi originado há décadas e vem se mantendo através do silêncio e da omissão. O estudo aponta para a existência de pessoas afirmando terem sofrido assédio moral em diferentes níveis hierárquicos: presidentes e sócios são apontados como assediadores por 22% dos estagiários e assistentes, enquanto diretores, principal interface senior com as equipes, surgem como os que mais afirmam ter sido assediados (83%), ao mesmo tempo que são citados como assediadores por 63% do total da amostra.

– A cultura da hostilidade é alimentada pela relação com os clientes – não à toa, 35% das 543 histórias de assédio moral relatadas espontaneamente se referem à marcação de tarefas com prazos impossíveis que, certamente, têm como decorrência a pressão e a extensão do horário de trabalho incluindo noites, feriados e finais de semana. O estudo mostra que os profissionais vivem situações de assédio tanto de seus superiores e colegas quanto de clientes (empresas nacionais e multinacionais que compram serviços de agências e, portanto, ocupam uma posição de ascendência na relação). Do total de respondentes, 18% afirmaram já ter sido assediados moralmente por clientes de nível hierárquico superior e 12% por clientes de nível hierárquico equivalente. Esses números pulam respectivamente para 47% e 42% entre profissionais de atendimento homens assediados moralmente por clientes. Entre as mulheres, 16% dizem já ter sido assediadas sexualmente por clientes de nível hierárquico superior e 9% por clientes de nível hierárquico equivalente. Ou seja: clientes são parte do problema e a solução deve passar por todo o ecossistema.

Imagem: Reprodução. – O assédio sexual, como esperado, é um problema em que as vítimas são essencialmente as mulheres. 51% das mulheres pesquisadas, uma em cada duas, afirmam já terem sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho. Dessas, 39% afirmam ter sofrido assédio sexual com contato físico, e esse número pula para 64% entre as profissionais de criação. Entre os homens, apenas 9% afirmam ter sofrido assédio sexual — 72% deles afirmam que foram assediados sexualmente por outro homem. Ou seja: os homens são os algozes.

– A hostilidade vivida nos ambientes de trabalho têm consequência na saúde dos profissionais: 62% das mulheres e 51% dos homens afirmam ter sofrido algum sintoma de saúde por causa de assédio moral. As pessoas indicam ter sofrido em média seis sintomas. Entre as mulheres, 75% afirmam ter sofrido crises de choro, 72% afirmam ter sofrido síndrome de ansiedade, 68% sentimento de inutilidade e 45% terem sofrido depressão. Entre os homens, 74% afirmam ter sofrido síndrome de ansiedade, 67% sentimento de inutilidade, 32% abuso de bebida alcoolica e 30% diminuição da libido. Do total dos respondentes que tiveram algum sintoma de saúde, 10% afirmam ter tido pensamentos suicidas.

– Os departamentos de RH das empresas dos respondentes estão definitivamente enfraquecidos e mal são acionados pelos assediados — seja porque são vistos como espaços não-abertos para esse tipo de reporte quanto ineficientes ou sem poder para solucionar casos dessa natureza. Por isso, apenas 12% das mulheres e 8% dos homens que sofreram assédio moral se sentiram à vontade para usar deste instrumento — esses números caem para 3% e 7%, respectivamente, para casos de assédio sexual. Além disso, faltam orientação e canais de comunicação para tratar do assunto: 87% dos respondentes afirmam não receber orientações e instrumentos específicos sobre assédio e apenas 5% dos respondentes afirmam ter um canal direto oficial para denúncias.

Assista o vídeo com histórias reais relatadas na pesquisa sobre assédio moral e sexual no mercado de comunicação de São Paulo.

Próximos passos

A mão de uma mulher com o #MeToo da campanha contra assédio. Foto: Getty Images.Falar sobre o assunto é um primeiro passo importante, mas não resolve o problema. O Grupo de Planejamento quer ir muito além de somente pautar essa conversa. Precisamos de ações práticas.

Três delas já estão em curso:

1) Conhecimento

Nós temos a crença de que conhecimento sobre o problema é fundamental e que números têm o poder de transformar. Por isso, vamos disponibilizar a análise da pesquisa na íntegra, para que este conhecimento alcance o maior número de profissionais, de todos os níveis hierárquicos.

2) Engajamento

Recebemos, o apoio oficial da ABAP (Associação Brasileira de Agências de Propaganda), através do seu presidente Mario D’Andrea, que afirmou que “a entidade já está apoiando um movimento geral da atividade para minimizar esse absurdo e trazer outras entidades à mesa”. Essa articulação buscará trazer todos os envolvidos que fazem parte do problema, através de suas instituições: FENAPRO (Federação Nacional das Agências de Propaganda), Grupo de Atendimento, Grupo de Mídia, Clube de Criação, APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) e, claro, a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). Também estaremos à disposição para discutir a pesquisa e realizar ações em conjunto com dirigentes e boards das agências e empresas da indústria.

3) Ação

Já estamos estruturando a realização de um Hackaton no início de 2018, para criarmos soluções concretas para atacar esse problema: ferramentas, canais de denúncia, rede de apoio, entre outros. Em breve, anunciaremos a forma pela qual os interessados poderão se candidatar a participar desse movimento.

Nossa intenção é refazer a pesquisa daqui a algum tempo. Nossa esperança é a de encontrar, nessa próxima onda, resultados mais positivos.

***
Com informações do Grupo de Planejamento.

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