Intérpretes de surdos auxiliam de partos a formaturas em São Paulo

Um acompanhamento pré-natal e o parto, um atendimento psiquiátrico no Hospital das Clínicas, uma denúncia de violência doméstica à polícia, a cerimônia de formatura de um filho, um acesso de um dependente químico ao tratamento.
 
Todos os episódios acima seriam corriqueiros caso os personagens envolvidos não fossem pessoas com deficiência auditiva que sempre encontraram obstáculos de comunicação para utilizarem com autonomia serviços públicos em São Paulo.
 
Há oito meses, porém, pessoas surdas ou surdocegas (com surdez e cegueira ao mesmo tempo) passaram a ter auxílio gratuito para suas demandas. Até agora, foram 700 atendimentos.
 
O CIL (Centro de Interpretação de Libras), da Prefeitura de São Paulo, realiza intermediações de conversas, por meio de uma equipe que domina a língua de sinais, entre os surdos e profissionais como, por exemplo, médicos, policiais, assistentes sociais, professores, agentes administrativos, entre outros. 

 
Moisés, de 20 dias, teve seu caminho do útero da mãe, Danyela Ponte, 40, até a chegada ao mundo acompanhado, além da equipe médica, por uma intérprete do centro especializado. A profissional traduziu para libras as recomendações do obstetra à mãe e as dúvidas da gestante para o português. 
 
“Perdi um bebê no passado e atribuo parte da culpa à falta de uma boa comunicação com o médico. Agora, com a intérprete me auxiliando, me senti mais segura. Consegui entender bem o que tinha de fazer e repassar minhas dúvidas”, diz Danyela, em libras, com tradução do intérprete Thyago de Souza. De acordo com o IBGE, a cidade de São Paulo tem 516 mil habitantes com deficiência auditiva, o que envolve pessoas surdas que falam libras, surdas oralizadas (fazem leitura labial), pessoas com dificuldade de audição em vários níveis e surdocegas.
 
Atendimento virtual

 
Em fase final de testes, a central, que teve investimento de R$ 6,9 milhões, prepara-se para expandir os atendimentos com a tecnologia. 
 
Dentro de algumas semanas, os usuários vão poder receber atendimento de maneira remota. Por meio de um aplicativo, uma pessoa surda aciona a central de casa ou do consultório do médico, por exemplo. Um intérprete recebe a chamada na CIL e vai fazendo a tradução on-line por um aplicativo específico. 
 
A tecnologia, que existe em outros 14 países, também vai possibilitar a comunicação de pessoas com deficiência de fala. O usuário envia por escrito o que deseja transmitir, e o atendente da central lê o conteúdo para o receptor. 
 
O sistema não tem “delay” (atraso), um dos problemas de outros dispositivos existentes, o que afeta a compreensão adequada da mensagem pelas pessoas surdas. 

 
“Os aplicativos atuais ajudam no dia a dia, em contatos breves, mas não servem para conversas mais técnicas como com um médico, um advogado. Isso exige o intérprete. Libras é uma língua complexa, necessita de expressões faciais além dos sinais das mãos”, diz Marianne Pinotti, secretária da Pessoa com Deficiência. 
 
Segundo Marianne, uma campanha de divulgação será feita entre os diversos setores públicos municipais. 
 
“O serviço dá muito mais independência. Agora, não tenho de ficar levando parente para resolver minha comunicação com os outros. Tem que servir de exemplo para a iniciativa privada”, diz a aposentada Maria Carmem, 72.
 
***
Jairo Marques no caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo.
 

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