A artista visual faz das linhas seu instrumento de trabalho e cria painéis gigantes de crochê com questionamentos relacionados a ocupação de espaços públicos, sociedade, arte de guerrilha, feminismo e amor.
Em meio à sua pesquisa, o resgate da mulher tecelã na história e na mitologia, especialmente como forma de denúncia, tem grande importância e influência. Minucioso, sensível e ainda assim com muito impacto, o trabalho encanta e causa reflexão.
Os pontos criam uma relação interna onde o papel da mulher na arte contemporânea dialoga com a mulher da história, ambos utilizando o ato de tecer como forma de expressão e militância. Voltada para a street art, seus principais projetos são: A rua é minha tela, Graffiti + Crochet e #asfloresdapele, no qual insere trabalhos manuais em fotografias.
Delicadeza e reflexão
O que era um hobby de infância para Bazzeo virou coisa séria e tomou as ruas, ou melhor, os muros de São Paulo e outras cidades por meio de intervenções, colorindo, transformando e trazendo reflexões para o cinza urbano.
“Aprendi crochê quando criança e, depois de um tempo em São Paulo, senti a necessidade de um hobby. Voltei a crochetar e aos poucos fui percebendo que podia utilizar essa técnica para me expressar, me comunicar com as pessoas e interagir com a sociedade de alguma maneira.”
Sobre os projetos iniciais, a designer comenta a importância do diálogo com o público:
“O primeiro trabalho do Dolorez Crochez foi na rua. Comecei com pequenas intervenções e fui evoluindo com algumas parcerias. Quando fiz o projeto de graffiti com os grafiteiros Felipe Primat e Julio Falaman, passei bastante tempo nas calçadas, fazendo a instalação do trabalho e interagindo com as pessoas. A partir daí, meu gosto pelas instalações na cidade cresceu e comecei a espalhar frases, desenhos, coisas que me inspiravam de alguma maneira e que queria colocar para fora. Hoje em dia, a maioria dos meus trabalhos está relacionada à ocupação de espaços públicos, arte de guerrilha e empoderamento.”
Para quem vive na capital paulista, talvez algumas destas frases não sejam estranhas: “Onde teu medo dói?” ou “Quis te pescar mas caí na tua rede.”
Apesar da delicadeza dos crochês, muito da inspiração de Karen vem de matérias mais brutas, como coisas que a revoltam. Para tratar disso, ela escolhe sempre a versão mais bonita que tenha.
“Ultimamente, coisas que me revoltam também têm servido de inspiração. Nesses caso, eu tento não me expressar com raiva, e sim, de maneira positiva, justamente negando o que fazemos muitas vezes por impulso. Infelizmente, nós vivemos numa sociedade onde é cultural agir de forma agressiva e violenta, insultar para nos defender. Então eu tento fazer de modo oposto, mostrar o que acho importante de maneira positiva, para que as pessoas vejam que há outras maneiras de defesa, deixando o ego e a raiva de lado, fazendo surgir uma coisa maior do que essas que revoltam.”
Bazzeo cita como referência, a artista Olek, que faz trabalhos em Nova York. “Mas também me inspiro em ilustrações, músicas, poesias, etc.”
Para além das intervenções, o ateliê promove oficinas que unem o ensino da técnica do crochê com a prática de intervenções urbanas com os participantes. Há também rodas de conversa, em que tratam de assuntos como a ocupação de espaço público, o resgate do artesanato, o crochê como arte contemporânea e o empoderamento feminino. “Acredito que essa vivência provoca nos participantes a sensação de apropriação e torna-os mais pertencentes ao espaço ocupado”, diz Bazzeo.
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Por Brunella Nunes.