Karen Dolorez transforma crochê em arte urbana espalhada por São Paulo

A artista visual faz das linhas seu instrumento de trabalho e cria painéis gigantes de crochê com questionamentos relacionados a ocupação de espaços públicos, sociedade, arte de guerrilha, feminismo e amor.

Em meio à sua pesquisa, o resgate da mulher tecelã na história e na mitologia, especialmente como forma de denúncia, tem grande importância e influência. Minucioso, sensível e ainda assim com muito impacto, o trabalho encanta e causa reflexão. 

Os pontos criam uma relação interna onde o papel da mulher na arte contemporânea dialoga com a mulher da história, ambos utilizando o ato de tecer como forma de expressão e militância. Voltada para a street art, seus principais projetos são: A rua é minha tela, Graffiti + Crochet e #asfloresdapele, no qual insere trabalhos manuais em fotografias.

Delicadeza e reflexão

O que era um hobby de infância para Bazzeo virou coisa séria e tomou as ruas, ou melhor, os muros de São Paulo e outras cidades por meio de intervenções, colorindo, transformando e trazendo reflexões para o cinza urbano.

“Aprendi crochê quando criança e, depois de um tempo em São Paulo, senti a necessidade de um hobby. Voltei a crochetar e aos poucos fui percebendo que podia utilizar essa técnica para me expressar, me comunicar com as pessoas e interagir com a sociedade de alguma maneira.”

Sobre os projetos iniciais, a designer comenta a importância do diálogo com o público:

“O primeiro trabalho do Dolorez Crochez foi na rua. Comecei com pequenas intervenções e fui evoluindo com algumas parcerias. Quando fiz o projeto de graffiti com os grafiteiros Felipe Primat e Julio Falaman, passei bastante tempo nas calçadas, fazendo a instalação do trabalho e interagindo com as pessoas. A partir daí, meu gosto pelas instalações na cidade cresceu e comecei a espalhar frases, desenhos, coisas que me inspiravam de alguma maneira e que queria colocar para fora. Hoje em dia, a maioria dos meus trabalhos está relacionada à ocupação de espaços públicos, arte de guerrilha e empoderamento.”

Para quem vive na capital paulista, talvez algumas destas frases não sejam estranhas: “Onde teu medo dói?” ou “Quis te pescar mas caí na tua rede.”

O Largo da Batata, na zona oeste de SP produzindo a instalação Visceral. Foto: Renata Ottoni.

 

Na instalação versos da poeta portuguesa Sophia de Mello. Foto: Lucas Hirai

 

"O crochê não costuma ser visto como arte de rua, mas está começando". Foto: Divulgacão.

 

“E às vezes vou à rua, coloco (o crochê) e pronto. Como se fosse mesmo um grafite". Foto: Lucas Hirai.

 

"Parte do trabalho é ocupação do espaço público em cidades grandes tão cinzas", diz Karen. Foto: Lucas Hirai.Apesar da delicadeza dos crochês, muito da inspiração de Karen vem de matérias mais brutas, como coisas que a revoltam. Para tratar disso, ela escolhe sempre a versão mais bonita que tenha.

“Ultimamente, coisas que me revoltam também têm servido de inspiração. Nesses caso, eu tento não me expressar com raiva, e sim, de maneira positiva, justamente negando o que fazemos muitas vezes por impulso. Infelizmente, nós vivemos numa sociedade onde é cultural agir de forma agressiva e violenta, insultar para nos defender. Então eu tento fazer de modo oposto, mostrar o que acho importante de maneira positiva, para que as pessoas vejam que há outras maneiras de defesa, deixando o ego e a raiva de lado, fazendo surgir uma coisa maior do que essas que revoltam.”

Bazzeo cita como referência, a artista Olek, que faz trabalhos em Nova York. “Mas também me inspiro em ilustrações, músicas, poesias, etc.”

Para além das intervenções, o ateliê promove oficinas que unem o ensino da técnica do crochê com a prática de intervenções urbanas com os participantes. Há também rodas de conversa, em que tratam de assuntos como a ocupação de espaço público, o resgate do artesanato, o crochê como arte contemporânea e o empoderamento feminino. “Acredito que essa vivência provoca nos participantes a sensação de apropriação e torna-os mais pertencentes ao espaço ocupado”, diz Bazzeo.

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Por Brunella Nunes.

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