O tráfego intenso de gente de todos os estratos sociais e a existência de vários centros comerciais fizeram da Lapa o bairro escolhido em São Paulo para a implantação de um projeto de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos (REEEs). Grandes lojas da região já podem receber aparelhos de pequeno e médio portes descartados desde quinta-feira (28).

Celulares, laptops e aparelhos de áudio e vídeo, liquidificadores, espremedores e ferros de passar sem utilidade poderão ser dispensados em algumas unidades de Casas Bahia, Extra Hiper, Americanas, Pernambucanas e Ponto Frio no bairro. O Walmart deve entrar no projeto na primeira quinzena de maio.

 

O projeto dura até outubro e não estão incluídos baterias, pilhas, lâmpadas fluorescentes e toners de impressora. Qualquer morador da cidade pode descartar um equipamento de até 60 centímetros de largura, 50 centímetros de comprimento e 75 centímetros de altura nestes postos de coleta durante a duração do projeto.

 

Os resíduos serão transportados dos pontos de coleta pela cooperativa Coopermiti, que fará o armazenamento temporário e depois encaminhará o material a um centro de reciclagem para desmontagem, processamento e destinação adequada. Essa última etapa fica a cargo da empresa Ecos. Alguns tipos de placas de computadores e celulares, que não são recicláveis no Brasil, serão exportadas.

Divulgação/Amlurb

Caixa coletora de descarte de eletroeletrônicos, banner de divulgação do projeto e o robô Descartes, feito de sucata da cooperativa CoopermitiCaixa coletora de descarte, banner de divulgação e o robô Descartes, feito de sucata.

 

A abertura dos postos em lojas da Lapa é a etapa visível e de utilidade imediata de um plano piloto de logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos no país, o Descarte ON, que começou a ser elaborado em outubro de 2014. O projeto conta com apoio técnico em desenho de projeto e logística de especialistas japoneses em reciclagem.

 

Nas suas primeiras fases, foram feitos estudos da cadeia de produção e distribuição do mercado de celulares e eletroeletrônicos, um diagnóstico do estágio atual do descarte desse tipo de resíduo, estabelecida a cooperacão com as empresas – supermercados, indústrias e recicladoras –, e selecionado o local da implantação do plano, segundo o presidente da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana de São Paulo, Ricardo Brandão Figueiredo. São Paulo foi escolhida por concentrar produtores e revendedores de equipamentos e, entre os bairros, a Lapa.

 

Durante a fase de coleta, o objetivo é sensibilizar os moradores para a necessidade da reciclagem, as responsabilidades de cada parte nesse processo e efetivamente dar a destinação correta à fração recebida. Para divulgar o projeto, no dia 14 de maio as lojas participantes terão panfletos explicativos para os consumidores. Nos dias 5 e 11 de junho, serão feitas oficinas de cenografia, bijuterias e workshops sobre os REEEs no Tendal da Lapa.

 

Todo o material recebido será analisado, qualificado, quantificado e pesado. Ao final da fase de coleta, essas informações serão usadas para a elaboracão de um relatório. Esse documento vai servir de subsídio para projetos de longo prazo e para o Acordo Setorial dos REEEs, que vai valer para organizar a cadeia de reciclgem em todo o país e é previsto na Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a PNRS.

 

No Brasil, essa lei institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, e determina que a destinação correta dos resíduos deve ser feita com a participação de fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores, titulares dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

 

Cabe aos consumidores devolver às lojas ou distribuidores, as lojas devem encaminhar a devolução aos fabricantes/importadores e estes últimos devem dar a destinação ambientalmente adequada aos produtos devolvidos.A reciclagem desses produtos não é simples e deve ser controlada, por apresentar perigo à saúde. Pode ser rentável, se for construído um sistema integrado e com escala.

 

E o Brasil precisa de um plano inteligente e efetivo. Segundo os dados Pnad 2013 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), numa população de 201,5 milhões de pessoas, 130,8 milhões tinham telefone móvel em 2013, um crescimento de 6,3 milhões em relação a 2012.

 

O Descarte ON é resultado de um convênio de cooperação entre o Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), e a Prefeitura de São Paulo, através da Amlurb.

 

Participam da iniciativa a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos, a Associação Paulista de Supermercados, a Cetesb, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, a Fecomercio SP e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo.Segundo o estudo preliminar realizado no projeto, foram geradas 70 mil toneladas de REEEs em 2014 na cidade de São Paulo, sendo que apenas 2% foram coletadas e tratadas de forma adequada.

 

De acordo com a mesma pesquisa, 97% dos moradores da cidade consideram que a coleta de REEE é importante e 94% responderam que desejam participar dela. Segundo a GSMA, associação que representa operadoras de telefonia móveis em todo o mundo, o Brasil pode ter produzido cerca de 1.600 mil toneladas de resíduos de eletroeletrônicos em 2015.

 

Está sendo preparado um outro sistema de coleta de eletroeletrônicos de grande porte (como TV, ar-condicionado, geladeira, máquina de lavar e fogão). Ao comprar esses eletrodomésticos nas lojas participantes, o consumidor poderá adquirir por R$ 10 o serviço de coleta do seu aparelho usado em casa. Essa parte do projeto deve começar no fim de maio.

 

A lista dos pontos de coleta de eletroeletrônicos está no site do projeto em: http://www.descarteon.jica.eco.br/