“Os grupos armênios tiveram pouco destaque na historiografia brasileira por serem minoritários, apesar da sua grande contribuição econômica para o País”, afirma Sônia. A reconstituição das narrativas se deu por meio de vasta pesquisa em arquivos brasileiros e também através dos relatos de famílias armênias, que cederam fotografias e documentos.
Os primeiros grupos armênios chegaram sem posses a São Paulo na década de 1920, como mostram as listas de bordo de navios pesquisadas por Sônia no acervo do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Inicialmente eles se instalaram na região da Rua 25 de Março, no centro, ao lado de sírios e libaneses. Em seguida, foram ocupando o bairro da Luz e a zona norte da cidade. Um grupo foi para o bairro de Presidente Altino, em Osasco. Acostumados com baixas temperaturas, integrantes desse grupo trabalharam no Frigorífico Wilson e forneciam leite e coalhada para os patrícios da capital.
A população armênia foi protagonista também no setor calçadista. Como destaca o livro de Sônia, os armênios foram importantes para a otimização e a nacionalização do maquinário que garantiu a notoriedade paulista na produção de calçados.
Hoje, a comunidade armênia no Brasil é estimada em 100 mil pessoas, e a maioria vive em São Paulo. A pesquisadora explica que a primeira e a segunda geração de armênios se empenharam na educação dos filhos, que se tornaram profissionais liberais, médicos, advogados, juízes e professores universitários. Um deles, por exemplo, chegou ao mais alto posto acadêmico e administrativo da USP – o professor Vahan Agopyan, atual reitor da Universidade, descendente de armênios.
Presença Armênia em São Paulo apresenta uma documentação inédita, que contribui para os estudos dos grupos nacionais e étnicos que imigraram para São Paulo. “As narrativas de armênios registradas no livro evidenciam a resistência de um povo para manter viva a sua história, identidade, cultura e religião”, completa Sônia, que diz se sentir “privilegiada” por registrar a memória desse povo.
Há mais de 20 anos Sônia se dedica a pesquisar a imigração em São Paulo. Sua tese de doutorado, Falam os Imigrantes: Memória e Diversidade Cultural em São Paulo, foi defendida em 2001 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e teve orientação do professor Carlos Guilherme Mota. Inicialmente, ela estudou a imigração portuguesa. De acordo com a pesquisadora, a historiografia alega “invisibilidade” da comunidade portuguesa, mas, para ela, esse argumento não se justifica, pois os registros das entradas dos portugueses estão acessíveis nos arquivos brasileiros. Sônia também trabalhou como pesquisadora e curadora no Museu da Imagem e do Som (MIS) e no Museu da Imigração, ambos em São Paulo.
Mais informações sobre o livro Presença Armênia em São Paulo estão disponíveis no site da obra. Clique aqui.
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Por Guilherme Gama no Jornal da USP.