Lixo: SP deve separar orgânicos e fazer mix de compostagens

Como tratar os restos de poda de jardins, parques e os resíduos orgânicos numa grande cidade? Pequenas unidades de processamento nos bairros? Grandes centrais? Compostagem nas casas e condomínios? São Paulo deve usar todas essas modalidades. E apostar na separação dos orgânicos na origem, para gerar composto de qualidade. E com isso combater a seca e as mudanças climáticas, devolvendo nutrientes para o solo e diminuindo as emissões de carbono. 
 
Essas são algumas das opiniões de Antonio Storel, engenheiro agrônomo, mestre em desenvolvimento econômico, espaço e meio ambiente e coordenador de resíduos sólidos orgânicos da Amlurb, empresa de limpeza pública da cidade. Ele é um dos responsáveis pelo plano de construção de centrais de compostagem e pátios descentralizados, que estão prometidos para 2016. 
 
“Hoje, os recicláveis secos têm maior valor, pois são de interesse da indústria. Mas, em poucos anos, diante dos efeitos da mudança climática, a situação se inverterá, e passaremos a dar valor aos orgânicos e vamos ter aprender a separá-los e preservá- los desde a origem, como parte cotidiana e natural do ciclo produtivo da alimentação, da culinária e da gastronomia. É melhor começar logo”, aconselha Storel. 

 
“A grande opção que a cidade terá que fazer é se opta pela segregação dos orgânicos na origem ou não. Diferentemente dos resíduos secos (plástico, papel, metal e vidro), que atendem a indústria e aumentam de valor quando agregados e centralizados em grandes unidades operacionais, os resíduos orgânicos podem ser reciclados pela compostagem ccom qualidade e valor tanto na micro como na grande escala”, afirma Storel.
 
Ele defende que se incremente a separação na origem, o que quer dizer incluir no modelo atual um terceiro elemento. “A separação dos orgânicos na origem não só é viável como muitas cidades do mundo já estão praticando-a há muitos anos, como São Francisco, nos EUA, Barcelona, na Espanha e Milão, na Itália.” 

 
Ele considera que a compostagem é a opção mais barata e de melhor resultado ambiental. “Especialmente num país tropical onde podemos compostar durante o ano inteiro, sete dias por semana. Os resíduos verdes são ricos em carbono e secam facilmente. São complementares com os demais resíduos orgânicos, como restos de alimentos, mais ricos em nitrogênio e úmidos. A compostagem funciona bem quando mistura os dois tipos”, complementa. 
 
“Só a compostagem promove a reciclagem de nutrientes e substâncias que podem devolver ao solo sua condição natural de fertilidade. Alguns desses nutrientes, repostos pela adubação química, são recursos finitos e tendem a se tornar estratégicos no futuro, como o fósforo, por exemplo”, argumenta.

E mais: “A recuperação do estoque de carbono orgânico no solo será num futuro próximo a principal solução para o problema da mudança climática. Podemos diminuir a utilização de carbono vindo do petróleo, mas não podemos recriar o estoque de carbono aprisionado no subsolo. O estoque de carbono sequestrado no solo (a vida orgânica do solo) que se perdeu com a agricultura moderna pode ser rapidamente recuperado pela transformação dos resíduos sólidos orgânicos das cidades em composto orgânico”. 

 
Storel cita estudos realizados pela Universidade de Berkeley, Califórnia (EUA), que apontam o composto orgânico como a arma-chave contra o aquecimento global. “O composto orgânico retém várias vezes sua massa em água e vai liberando-a aos poucos. Se devolvermos a matéria orgânica para nossos solos no entorno da cidade de São Paulo, eles vão regularizar os fluxos hídricos, eliminando a falta de água, além de ajudar a recriar um cinturão verde (orgânico) e uma produção sustentável de alimentos que, além de proteger nossas áreas de nascentes, necessitarão de circuitos curtos de transporte para serem consumidos, reduzindo as emissões por queima de carbono negro (combustíveis derivados do petróleo).”

Outra vantagem considerável seria a redução das emissões com o término de envio de resíduos orgânicos para os aterros. “São os resíduos orgânicos misturados aos demais rejeitos que produzem gás metano e chorume tóxico. Os resíduos orgânicos segregados desde a origem podem produzir composto orgânico de alta qualidade para a agricultura sustentável e para a recuperação dos ciclos biogeoquímicos da natureza”, diz. 

 
No Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da cidade existe a previsão de duas centrais de compostagem com capacidade de 600 toneladas por dia de resíduos e oito centrais com capacidade de 50 toneladas por dia. A meta é que até o final de 2016 todos os resíduos dos serviços públicos de poda e jardinagem e de feiras livres sejam encaminhados para a compostagem. 
 
“Estão em fase de elaboração de projetos executivos e licenciamento ambiental dos projetos técnicos para as centrais menores de 50 t/dia e de vários pátios descentralizados com capacidades menores ainda”, diz Storel.
 
Mara Gama em sua coluna na Folha de S.Paulo.
 

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