A mostra ganhou ainda quatro outras fotos doadas por particulares. No total são, portanto, 279 fotos de 85 artistas, todos integrantes do Bandeirante, alguns conhecidos, como um dos seus fundadores, o advogado Eduardo Salvatore (1914-2006), que presidiu o clube de 1943 a 1990, e outros hoje lembrados apenas por especialistas na área. Entre os primeiros, cabe destacar a presença do alemão Fredi Kleeman (1927-1974), também ator do TBC que deixou registros fotográficos de montagens históricas da companhia teatral, Gaspar Gasparian, José Oiticica Filho, José Yalenti, Madalena Schwartz, Raul Eitelberg, Roberto Yoshida, Rubens Teixeira Scavone, Takashi Kumagai e Valêncio de Barros, além dos nomes citados no primeiro parágrafo.
Fotografia de German Lorca, ‘Chuva na Janela’/ Comodato Foto Cine Clube Bandeirante.
Como se vê pela lista, a exposição tem desde adeptos do pictorialismo, que caracterizou a primeira fase do fotoclubismo no Brasil – Valêncio de Barros, entre eles – até os primeiros modernistas que, estimulados pela evolução da arquitetura, o desenvolvimento econômico e o intercâmbio com artistas trazidos pela Bienal de São Paulo no começo dos anos 1950, introduziram a foto abstrata no Bandeirante. “A ideia da exposição não foi criar uma hierarquia entre eles, mas reconstituir um salão da época”, explica a curadora. Até por ter sido um celeiro de fotógrafos experimentais, a predominância, na mostra, é da fotografia abstrata, que explora, como os construtivistas, a relação com as formas geométricas da arquitetura e o contraste entre luz e sombras.
A curadora decidiu usar na mostra um sistema modular de painéis criados na década de 1940 pela arquiteta Lina Bo Bardi, autora do projeto do Masp, para reforçar o conceito de arquivo. “Não faria sentido usar molduras individuais, pois os salões do clube exibiam as fotos de maneira simples”, justifica. Mas, como algumas dessas cópias circularam muito por salões nacionais e estrangeiros, o estado de uma ou outra é precário. “Assim, agrupamos os painéis lado a lado, com uma pequena inclinação, e usamos uma lâmina de vidro para a proteção das obras.”
Na linha dos bandeirantes abstratos e arquitetônicos ela destaca Ivo Ferreira dos Santos, que transforma imagens de vergalhões em formas geométricas distorcidas. Até mesmo o Bandeirante, na passagem dos anos 1940 para 1950, teve dificuldades para aceitar experiências radicais como as dele, de Geraldo de Barros e Thomas Farkas. Mas o tempo se encarregou de legitimar seus esforços.
Serviço
Foto Cine Clube Bandeirante: do arquivo à rede.
Masp. Avenida Paulista, 1.578, 3149-5959.
3ª a dom., 10 h/18 h; 5ª, 10h/ 20h. R$ 25 (3ª grátis).
Até 20/3. Abertura quinta-feira (26), 20 h, para convidados.
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Antonio Gonçalves Filho / O Estado de S.Paulo.