Masp exibe telas de Agostinho Batista de Freitas, pintor de rua descoberto por Pietro Maria Bardi

São representações de São Paulo, especialmente vistas urbanas, assunto no qual o artista transitou com desenvoltura durante toda a sua trajetória, variando os objetos que representou, seus pontos de vista e enquadramentos. A mostra pode ser vista até o dia 9 de abril de 2017, no segundo subsolo do MASP.

Agostinho Batista de Freitas, São Paulo é a primeira exposição monográfica do artista organizada por uma instituição brasileira em mais de 25 anos. A curadoria é de Fernando Oliva e Rodrigo Moura, curador e curador-adjunto de arte brasileira do MASP, respectivamente. Ambos realizaram uma ampla pesquisa sobre sua obra, localizando mais de 300 trabalhos em cerca de 50 coleções e acervos diferentes, além de raros documentos, fotografias e croquis feitos pelo artista, e agora reproduzidos no catálogo da mostra, lançado no dia da abertura.

Pintor autodidata e eletricista de profissão, Agostinho Batista de Freitas (Paulínia, São Paulo, Brasil, 1927 – São Paulo, Brasil, 1997) trabalhou no campo até vir para São Paulo, aos 11 anos. No início dos anos 1950, enquanto vendia seus trabalhos no centro da cidade, conheceu Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor fundador do MASP. Na ocasião, Bardi comissionou uma pintura que retratasse a metrópole vista do topo do icônico prédio do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), obra que a seguir exibiria na primeira individual de Batista de Freitas, realizada no MASP, em 1952.

Batista de Freitas produziu inúmeras obras de locais emblemáticos de São Paulo, incluindo o Teatro Municipal, a Catedral da Sé, o Edifício Itália e o MASP. Do Museu, ele criou diversas pinturas, tanto do prédio quanto de seu entorno, em diferentes ângulos, registrando, por exemplo, as atividades no Vão Livre, que em 1972 foi ocupado pelo Circo Piolin, além dos transeuntes da avenida Paulista. Suas referências vinham tanto da observação direta da paisagem urbana quanto da fotografia, fosse uma imagem de Marcel Gautherot, fotos de publicidade ou cartões-postais vendidos em bancas de jornal – materiais descobertos durante a pesquisa.

No percurso da mostra, a relação de Batista de Freitas com a cidade se faz presente mediante os diversos agrupamentos de obras, que vão desde a representação do MASP até as vistas aéreas do centro de São Paulo, passando por cenas do cotidiano na Zona Norte, onde o artista vivia, e situações coletivas de diferentes naturezas, que incluem as viagens, as festas, os divertimentos e as manifestações religiosas. Instalada em uma expografia da Metro Arquitetos, originalmente projetada por Lina Bo Bardi, que permite um contato direto e aberto dos visitantes com os trabalhos, a obra de Batista de Freitas convida a uma visão ativa sobre São Paulo, com suas complexas dinâmicas urbanas, histórias e diferenças sociais.

Agostinho Batista de Freitas, Avenida Paulista, 1986, acervo SESC de Arte Brasileira.

A mostra apresenta, além de empréstimos de coleções institucionais e particulares, cinco pinturas recentemente doadas ao acervo do MASP – fazendo com que, pela primeira vez, sua obra seja representada na coleção do Museu, corrigindo uma lacuna histórica. São elas: MASP (1971), Circo Piolim no vão do MASP (1972), Edifício São Tomás e Edifício Itália (1975), Grupo escolar (1976) e MASP (1978).

Batista de Freitas participou da 33a Bienal de Veneza, em 1966, representando o Brasil ao lado de artistas estabelecidos, como Arthur Luiz Piza (1928) e Sergio Camargo (1930-1990). O fato de ele ter mostrado suas obras no MASP (1952), na Bienal de Veneza (1966) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (1990) não parece ter sido decisivo para uma consolidação de sua trajetória institucional no Brasil – o que de fato não aconteceu. Fernando Oliva ressalta que esta questão fez parte das preocupações da curadoria durante a pesquisa que culminou com a exposição: “Na retomada atual que o MASP promove da produção de Batista de Freitas, uma das perguntas decisivas que temos de nos fazer é: como lidar, hoje, com a obra de um artista que, em grande parte por ser considerado um criador da chamada ‘arte popular’, sempre precisou que outros falassem em seu nome? Talvez sejamos obrigados a prosseguir falando por ele, e o dilema se expande para uma nova dúvida: como apresentar esse artista ao público de hoje, de maneira a não reduzir ou trair sua obra?”.

 
Agostinho Batista de Freitas, MASP, 1971, acervo MASP.

Rodrigo Moura sublinha que a exposição marca um importante posicionamento da atual direção artística do MASP, que deseja problematizar os conceitos de arte erudita e popular por meio de sua programação, com diferentes estratégias. Entre elas, destacam-se a remontagem de uma das mais célebres e polêmicas exposições organizadas pelo Museu, A mão do povo brasileiro, concebida por Lina Bo Bardi (1914-1992), Glauber Rocha (1939-1981) e Martim Gonçalves (1919-1973); a realização de mostras que privilegiam a leitura de temas populares no modernismo canônico brasileiro, como Portinari popular (2016); e a aquisição de obras de artistas marginalizados pela história da arte brasileira, como Djanira da Motta e Silva (1914-1979), Maria Auxiliadora da Silva (1938-1974) e o próprio Batista de Freitas.

Segundo os curadores da exposição, a presença de um nome como o de Batista de Freitas no MASP, desde o passado até os dias de hoje, deve ser entendida, inicialmente, no contexto dos interesses de Pietro e Lina Bo Bardi, que não viam esse tipo de trabalho como algo separado das demais manifestações artísticas. As perspectivas do casal sempre foram marcadas pela tentativa de um entendimento mais profundo e generoso sobre o Brasil, uma vez que ambos viam na chamada ‘arte popular brasileira’ uma experiência ampla, que trazia consigo a possibilidade de libertação das hierarquias rígidas da história da arte e seu sistema. Nesse sentido, a mostra pretende dar visibilidade a Agostinho Batista de Freitas na história da arte brasileira do século 20 como um artista único, de visão singular.

Na abertura da exposição, o MASP lançou um catálogo ilustrado (256 pp.), contendo reproduções de todas as obras em exibição, documentos raros e fotografias de época, além de textos inéditos com reflexões tanto dos curadores – Fernando Oliva e Rodrigo Moura –, quanto de autores convidados que produziram ensaios especialmente para a publicação: Lisette Lagnado, Maria Alice Milliet, Rafael Urano Frajndlich e Tiago Mesquita. A organização editorial é de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP; Fernando Oliva, curador; e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira, com desenho gráfico de Raul Loureiro e Mariane Klettenhofer, designers do MASP.

Serviço

Agostinho Batista de Freitas, São Paulo.
Data: 10 de dezembro a 9 de abril de 2017.
Local: 2º subsolo do MASP – Av. Paulista, 1578.
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30).
Ingressos: R$ 30,00 (entrada); R$ 15,00 (meia-entrada).
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo. 

***
Fonte: InfoArtSP.

 

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