Mobilidade urbana: a bicicleta como ferramenta de integração e o exemplo de Fortaleza

Informações sobre a Integração do Bicicletar e Bilhete Único. Imagem: Divulgação.Ao sair de casa pela manhã, uma pessoa poderá escolher a opção mais adequada para aquele dia ou intercalar diferentes modos conforme o trecho de seu deslocamento. Um exemplo: usar uma bicicleta compartilhada para ir até uma estação ou terminal de transporte coletivo, pegar um ônibus, descer no ponto mais próximo de seu destino e finalizar o trajeto a pé. Os modos se complementam, desempenham sua função de forma eficaz, e as pessoas fazem suas escolhas baseadas na necessidade de cada deslocamento.

Esse é um cenário ideal – mas é nessa direção que muitas cidades começam a caminhar. Dos ônibus e metrôs que permitem o transporte de bicicletas a estações integradas, a conexão eficiente dos diferentes modos – em uma rede integrada que permita a mudança de um para outro sem dificuldade – desponta como resposta para os desafios de mobilidade urbana.

No Brasil, Fortaleza é um dos exemplos de cidades que apostam na integração para reverter um cenário ainda tomado pelo carro e consolidar os modos Foto: Mariana Gil/WRI Brasil.de transporte sustentável. O Bicicletar, sistema tradicional de compartilhamento de bicicletas da capital cearense, lançado no final de 2014, já contava com estações próximas aos pontos e terminais de ônibus, com o objetivo de facilitar a conexão entre os dois modos. Em junho do ano passado, a cidade avançou nesse compromisso ao implementar um programa pioneiro no Brasil, que deveria não apenas reforçar a integração com o transporte coletivo, mas se tornar uma nova opção de transporte para os fortalezenses.

Assim tiveram início as operações do Bicicleta Integrada, planejado com uma grande diferença em relação ao programa anterior. A possibilidade de permanecer com a bicicleta alugada por até 14 horas permite que o usuário passe a noite com a bicicleta ou fique com ela durante o expediente de trabalho. Essa característica representa uma mudança substancial na maneira como os programas de compartilhamento de bicicletas costumavam ser estruturados – considerando deslocamentos curtos e prazos menores para a devolução da bicicleta.

O limite mais longo para a permanência com a bicicleta faz com que o sistema de Fortaleza configure-se realmente como uma alternativa de transporte – resultados que a cidade observa na prática. Gustavo Pinheiro, técnico do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (PAITT), conta que, desde a implantação do sistema, alguns usuários deixaram de usar o ônibus para utilizar apenas as bicicletas do programa ou deixaram de pegar o segundo ônibus, completando o deslocamento com o Bicicleta Integrada.

Hoje, o Bicicleta Integrada conta com cinco estações em cinco dos oito terminais de ônibus existentes na cidade (a meta é ter uma estação em cada terminal) e tem 4.700 usuários cadastrados. Em pouco mais de um ano de operação, foram registradas mais de 46 mil viagens. O novo programa é uma entre as ações previstas no Plano Diretor Cicloviário de Fortaleza.

O poder das bicicletas no acesso ao transporte coletivo

O sistema de Fortaleza também contribuiu para fortalecer a integração modal na cidade: 30% dos usuários do programa alugam a bicicleta logo antes ou logo depois de utilizar o transporte coletivo.

O exemplo mostra que a bicicleta, além de um meio de transporte independente, pode ser uma ferramenta poderosa para facilitar o acesso das pessoas ao transporte coletivo – se contar com infraestrutura nas áreas certas. Essa premissa fica evidente ao olharmos para o indicador People Near Transit (PNT).

A expressão representa a porcentagem de pessoas que vive em um raio de um quilômetro de estações de metrô, trem, BRT, monotrilho e a 500 metros de corredores de ônibus – distâncias que podem ser facilmente percorridas a pé para acessar as estações. No caso das bicicletas, considera-se um raio de três quilômetros para delimitar as áreas prioritárias para investimento em infraestrutura cicloviária, onde está o maior potencial de alimentação aos sistemas de transporte coletivo.

estudo feito pelo WRI Brasil em parceria com o ITDP Brasil mostrou que, na cidade de São Paulo, por exemplo, a ampliação da rede poderia aumentar o PNT de bicicleta de 74% em 2015 para 97% em 2025 (se implementadas as metas previstas no Plano Diretor Estratégico e no Programa de Corredores Metropolistano). Para o Rio de Janeiro, o resultado do indicador é ainda mais expressivo: na cidade, 87% da população vive a até três quilômetros de estações de transporte de média e alta capacidade e, na Região Metropolitana, o índice é de 59%.

A integração efetiva entre os modos de transporte, por meio de uma rede em que as diferentes opções tornem-se complementares ao invés de concorrentes, pode ser a resposta para muitos dos desafios enfrentados hoje pelas cidades no que diz respeito à mobilidade. Isso depende, porém, de um compromisso sólido das cidades em promover uma divisão modal mais equilibrada, garantindo as condições necessárias para que os diferentes modos de transporte coexistam em harmonia e de forma eficiente. De qualquer maneira, o exemplo de Fortaleza, aliado aos dados observados com o PNT, mostra que, por enquanto, os horizontes mais promissores para a mobilidade convergem em uma rede integrada de transportes.

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Por Priscila Pacheco no The City Fix Brasil.

 

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