A cada três anos a prefeitura de São Paulo faz o Censo da População em Situação de Rua. Em abril de 2016, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social divulgou os dados finais da pesquisa realizada em 2015.
Estima-se que hoje, na capital paulista, existam entre 20 mil a 25 mil moradores de rua e 3% deles são crianças.
Enquanto a população de São Paulo cresce, em média, 0,7% ao ano, o número de moradores de rua aumenta 4,1%.
A tendência de crescimento não é uma realidade exclusivamente paulistana. A população de rua aumenta em outros lugares do mundo, como Reino Unido, França e Canadá. “A condição de rua é, certamente, a maior expressão da pobreza urbana”.
“A definição da população em situação de rua (…) refere-se às pessoas que utilizam alternativas de pernoite diferentes da moradia convencional como parques, centros de acolhida, praças e demais espaços públicos”, diz a pesquisa.
Por que olhar para os sem-teto perturba tanto? Tristeza? Culpa? Medo? Desprezo? Nojo? Ou é algo mais profundo, que tem a ver com valores e a real importância do dinheiro na vida da gente?
O fotógrafo e designer Maneco Magnesio faz o contrário: anda pelas ruas de São Paulo olhando para os sem-teto, que retrata em belas imagens em preto e branco. Preto e branco como as calçadas cinza, as paredes cinza e o céu cinza que os emolduram. Preto e branco como a vida destas pessoas. Por que elas foram parar ali? A maior parte das vezes por causa da pobreza, mas não só: desilusões amorosas, abandono pela família, alcoolismo… São muitas as razões que podem levar alguém a viver na rua, à margem da sociedade.
O que muita gente não sabe é que as pessoas que vivem nas ruas têm o direito de estar ali. São tão paulistanas quanto você. Possuem, inclusive, os mesmos direitos constitucionais que qualquer um de nós: “todos são iguais perante a lei”, diz o artigo 5 da Constituição brasileira.
Não se pode forçar moradores de rua, como alguns desejam, a ir viver num abrigo – há cerca de 10 mil vagas nos abrigos da capital paulista hoje. Políticas higienistas são desumanas e hipócritas: apenas escondem o morador de rua da vista dos incomodados, não resolvem seus problemas sociais e existenciais. As soluções para eles precisam ser mais atuais e menos moralistas, condizentes com suas necessidades.
Cynara Meneses é jornalista com passagens pelo principais veículos da imprensa. Mantém e edita o blog Socialista Morena onde este artigo foi publicado originalmente.