Caminhar permite ver as belezas desses bairros, como parques, árvores, flores; os contrastes arquitetônicos, a profusão de edifícios com fachadas de vidros espelhados e o vai e vem de milhares de pessoas grudadas nas telas dos seus smartphones e ligadas ao mundo digital instantâneo.
Para quem transita de ônibus, Metrô e automóvel é praticamente impossível perceber as sutilezas da cidade, e menos ainda prestar atenção no aumento de moradores em situação de rua nas calçadas.
Ao relento, e com o mínimo de proteção, amparados apenas com restos de caixas de papelão, colchões usados, cobertores e lençóis surrados, sacos de plástico remendados ou quaisquer outros materiais que os acolham nas eventuais intempéries do tempo, esses cidadãos são invisíveis e estão “incorporados” ao jeito de conviver na metrópole.
Estima-se que hoje, na capital paulista, existam entre 20 mil a 25 mil moradores de rua e 3% deles são crianças. Enquanto a população de São Paulo cresce, em média, 0,7% ao ano, o número de moradores de rua aumenta 4,1%.
O aumento dessa população é um dado cruel da crise econômica e social do país, e da nossa insensibilidade de dar importância à vida dessa gente, que não tem onde morar, não tem emprego, não tem família, não tem comida, e não tem nada mais a perder nessa “Cidade Linda” (slogan cunhado pelo ex-prefeito da capital).
A tendência de crescimento não é uma realidade exclusivamente paulistana. A população de rua aumenta em outros lugares do mundo, como Reino Unido, França e Canadá. “A condição de rua é, certamente, a maior expressão da pobreza urbana”.
Todos nós ganharíamos se valorizássemos as vidas de todas as pessoas, e lutássemos pelos direitos e pela dignidade de todos nós que amamos e adoramos viver em São Paulo e no Brasil. Por aqui, fico. Até a próxima.
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Leno F. Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Escreve às terças-feiras no São Paulo São.